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sexta-feira, 3 de novembro de 2006

Da janela do meu escritório vejo-os passar. Em grupos de cinco ou mais, ou sozinhos, quando se deixam ficar para trás. Sobem a rua ou descem a rua, em plena hora do dia, e no coração da cidade. Suponho que vão e venham das margens do Tejo, onde Lisboa é plana e os treinos podem ser feitos longe do trânsito. Quem me dera estar com eles. Ou sozinha. Quem me dera apenas.

É costume dizer-se que se deseja sempre o que não se tem. Ora aqui está um exemplo:

Engaiolada no escritório queria voar sobre a cidade, planar sobre o rio e treinar sob a luz do dia.
Impossível. Entre mim e eles há um vidro intransponível que poderia chamar barreira invisível mas razões várias impedem-me pois de facto o vidro é tudo menos invisível.

Ao fim do dia, subo as escadas do parque de estacionamento mas é como se as descesse. Já é noite. Cai sobre tudo um manto de névoa e humidade que me envolve também. Não caio eu, mas escorrego. Escorrego nos degraus húmidos e viscosos e frios. Pouco passa das seis da tarde. Subo os degraus lentamente e mais lentos do que eu atrevem-se enormes caracoletas a atravessar os degraus de pedra para procurar nova vegetação na outra margem da escadaria, ou quem sabe uma melhor vida. De cinco em cinco degraus encontro uma caracoleta. Corpo e corninhos esticados, com a enorme casa às costas, eles não se detêm e avançam no seu passo, no seu caminho escolhido e com convicção. Apenas um pé humano desatento ou por maldade os impede drasticamente de chegar à outra margem, onde novas urtigas, malvas e outra vegetação desconhecida para mim, se debruçam pelas escadas, ameaçando invadi-las e juntar-se ao verde semelhante da outra margem da escadaria. Tudo está coberto de humidade e uma névoa abraça-nos, envolve-nos como manta gelada e húmida que nos leva para o túmulo. Não é agradável.

E eu tenho frio. Procuro quem me leve a casa. O meu carro espera-me lá em cima e ele me levará. Só tenho de chegar a ele.



- Não, a Ana não vai treinar, tem a menina.

A Ana tem a menina sempre. E ai dela se não a tivesse. Jamais treinaria num outro mundo qualquer, pouco fantástico e frio, frio como o que sentem os que não têm casa e vivem eternamente no Inverno.
Morro sem morrer. Corro sem correr. 3ª, 4ª, 5ª e 6ª: não treinei dia nenhum.

Amanhã parto para o Algarve. Vou fazer as X Milhas do Guadiana.

4 comentários:

Anónimo disse...

Olá Ana.

com que então, uma semana sem fazer
treinos, é só descanso, mas também
lhe digo, com os resultados que tem feito, nem é preciso treinar.
Ana, boa viagem até ao Algarve, e boa prova para as 10 Milhas.
AP

Unknown disse...

Ola....adorei conhecer este blog...posso adicionar no meu??

Maria Sem Frio Nem Casa disse...

Resposta ao Carlos Lopes: claro que pode, só me envaidece. Em breve retribuo o gesto.

Bons treinos e Boas provas

Unknown disse...

Deste já agradeço….como sabe comecei a pouco tempo a correr ( 2 meses), mas com trabalho muito duro. Treino neste momento pra ir fazer a maratona de Badajoz. Tenho neste um treino com base para essa objectivo e aos poucos os resultados estão aparecer…consegui fazer 1:27:47 na meia de Mirandela, 38.45 nos 10km GP José Araújo em Lisboa, e treino cada vez mais e com mais determinação para a maratona. Deste a 1º vez que vi o seu Blog, admirei a forma como descreve as situações, vejo nisso aquilo que sou. Jokas e boas corridas, pois o nino aqui vai descansar.