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sábado, 18 de novembro de 2006

As Palavras e os Homens

Houve tempos em que me apaixonei por palavras e nelas acreditava. Outros tempos houve em que me apaixonei por homens e neles acreditei.

Hoje nem as primeiras nem os segundos me fazem apaixonar ou acreditar. Tão pouco as mulheres se tornaram alvo dessa entrega.

As palavras como os homens podem-nos embalar e seduzir. Fazer-nos sorrir ou chorar. Comover-nos ou enraivecer-nos. Alegrar-nos ou entristecer-nos.

Tempos houveram em que me apaixonei por palavras. E depois confundi as palavras com os homens. E depois descobri que há muitos homens de muitas palavras, mas muito poucos homens de palavra, e que “palavra de Homem” é na maior parte dos casos um logro total. Muito poucos se despem. Habituamo-nos a ver o superficial, o embrulho, as roupas e o corpo. E esquecemos que somos tudo menos isso. A essência dificilmente se alcançará se nos limitarmos a julgar e catalogar baseados nos acessórios, no superficial.

Hoje já não me deixo enganar (pelo menos com a mesma facilidade de há uns anos atrás) e as palavras e os homens são analisados num autêntico laboratório improvisado para o propósito, antes de assimilados e dados como factos efectivos e reais. O que também me faz correr o risco de não acreditar em nada e em ninguém e estar condenada para sempre à solidão, mas dá-me também a segurança e a garantia de não ser atraiçoada e enganada.

Hoje, um bom livro cheio de palavras ainda me consegue encantar. Vou com elas (as palavras) para a cama, deixo-me embalar e seduzir, e saboreio cada instante com volúpia divinal e com elas (as palavras) me esqueço do meu e do resto do universo e sou feliz por momentos, que poderão ou não perdurar no tempo de forma mais ou menos intensa e crucial. Já tem acontecido.

A par das palavras, estão os homens. Deito-me com eles, deixo-me embalar e saboreio cada instante com volúpia divinal, e com eles me esqueço do meu e do resto do universo e sou feliz por momentos, que poderão ou não perdurar no tempo de forma mais ou menos intensa e crucial. Raramente acontece.

Mais fácil perdurar no tempo as palavras que os homens. Elas pelo menos raramente me traem. Também é certo que as escolho para minha companhia, Já em relação aos homens, de certo, as escolhas não têm sido as mais inteligentes. E não me venham falar do coração, que deverá prevalecer sobre a razão.

Não é de todo inteligente ou lógico sequer, gostarmos (o que é isso, gostar?) de quem nos faz mal. Às palavras, servindo-me delas para um noite de insónia, de seguida abandono-as. Começo a fazer o mesmo com os homens. Sofre-se muito menos.

O preço que se paga é o da solidão. Mas de que vale a companhia que nos esfaqueia na primeira oportunidade? Ou pior, que procura a oportunidade para nos esfaquear? De que serve estar sozinho acompanhado? De que serve dormir com o inimigo? Ao menos às palavras, quando nos agridem ou maltratam, podemos sempre virar a página definitivamente. Ou até arrancá-la do livro e fazê-la desaparecer para sempre da nossa vida. Creio que aos homens também. Mas há imensos factores que tornam essa corajosa atitude difícil de tomar. E talvez até por motivos inconscientes, a adiamos até ao infinito talvez.

Tenho um amigo (dos poucos que assim considero) que acha que eu deva procurar ajuda psiquiátrica. Tens razão AC, mas antes disso há que fazer o que está ao meu alcance:

As atitudes que tomo e que me fazem nitidamente mal e eu tenho plena consciência disso, vou evitar ao máximo de as ter. Diz o AC: “mas se tiveres essa ajuda profissional, podes muito melhor controlar essas tuas atitudes”.

É verdade o que ele diz. Eu, é que ainda não sou corajosa o suficiente.

Corrida, diz aí em cima que isto é um blog sobre corrida? Ai pois é! É que as pessoas que correm são e têm exactamente o mesmo que as outras que não correm. E para além disso tudo, existe ainda na vida delas a Corrida. Por essa razão está isso tudo aí escrito em cima. De seguida passo a transmitir que não fiz qualquer tipo de exercício físico desde domingo passado na Meia da Nazaré. Estou a descansar…E preciso de inventar um objectivo, que neste momento não enxergo. S. Silvestre do Porto? Seria com certeza uma boa opção mas usar uma fatia demasiada grossa do meu orçamento nesse objectivo, parece-me exagerada para satisfazer esse desejo, o que acaba por tornar a coisa praticamente inviável. São momentos na vida das pessoas e eu até nem me posso queixar muito. Ainda não fui despedida à semelhança de colegas de vários anos.

É que isto de andar a correr país para correr, não é para qualquer um. Por motivos económicos e também familiares e profissionais (só para salientar alguns) isto… não é para qualquer um.

5 comentários:

Zen disse...

S. Silvestre do Porto?

Também gosto de correr à noite!

E o resto... é conversa.

Se quiseres também posso colocar aqui 1000 sinónimos de "eu"... mas penso que não faz falta!

O que faz falta é fazermos falta.

Boas corridas.

3:43 PM

Anónimo disse...

Ana, por vezes caímos... outras vezes somos atirados ao chão. Alturas há em que somos atirados ao chão, e, por que já contávamos com tal, não foi muito custoso.
Porém vezes há em que somos totalmente apanhados de surpresa e caímos desamparadamente. Caímos com tudo. É mais difícil. Eu já caí várias vezes. Já fui empurrado para o chão, pelas costas, muitas mais.
De todas elas me levantei e ao levantar-me fiquei sempre mais forte.
Assim, irá acontecer consigo, tenho a certeza.
È normal que deixe de acreditar nas pessoas, mas, por favor, não deixe de acreditar em si.
E, já agora, continue a partilhar connosco o seu seu perfume.
Uma boa semana para si.

José que também corre

Maria Sem Frio Nem Casa disse...

Hi Sharon! Many thanks for your visit! It's a pitty you can not read what I write...

Yes, I'm the girl in the blue singlet.

Nowadays it's very hard for me to run, because I live alone with my little girl (9 years old) and I work all day in an office, and I spent too much time on the way to the office and on the way back home! It's realy hard! I left home early - it's still night and I come back it's already night again!!

Anyway I'm thinking to go to Paris Marathon in April 2007. Can you imagine?! Starting on January, latest, I must to start trainning and running 4 or 5 times a week! At least!

Thanks again for your visit, I promise I put here more photos of my races and my trainnings.

.........

Para quem não percebe: também não tem nada que perceber...

Estou a brincar. Esta é apenas mais uma mulher que corre, que escreve, que tem um blog. Uma entre milhares no mundo!! Ela é da Austrália! Não percebe português. Tem um blog que podem visitar através do link que ela deixou no comentário que aqui deixou.

Dêem uma vista de olhos, vejam os comentários, naveguem pelos muitos e muitos blogs de muitas e muitas mulheres que correm, que escrevem, que têm blogs.

Portugal é um terceiro mundo. Uma tristeza, por isso é que a Maria Sem Frio de alguma forma se destaca. Se vivesse na Austrália, era vulgar, tão vulgar como cá são as telenovelas. Era apenas uma mulher que corre, que escreve, que tem um blog, que é dona de casa, que trabalha fora, que tem a sua vida familiar, uma entre milhares!

A mentalidade é coisa difícil de mudar... mas nós aqui somos apenas um mundinho... tão pequenino...

.....

Zen

posso dizer que és um querido, sem más interpretações? (mas está-se sempre sujeito a elas não é?) por isso... olha, apetece-me mesmo dizer: que se lixem os que fazem interpretações ao seu jeito, e tu és um querido, obrigada!

É bom saber-te por aqui de vez de quando. Não me perguntes porquê.


José C que também corre:

Que dizer? Um obrigada acanhado, triste e sentido...

Anónimo disse...

Ana, só uma coisa, o José que também corre não é o José C.

Creio que está confusa quanto ao nome.

Penso, porém, que é uma boa novidade para si. Sempre é melhor ter dois José's a admirá-la do que só um.

Continue a sonhar.

José que também corre

Zen disse...

Ah Maria, Maria...

Más interpretações?! Que eu saiba não tens nenhum provedor da moral aqui nesta "casa", portanto...viva a liberdade de expressão! Boas interpretações isso sim!
"Querido"... sinto-me linsojeado e agradecido por reconheceres nestas palavras aquilo que te parece ser uma qualidade minha. Mas tenho uma confissão a fazer-te: sou um "bom malandro" que cumpre algumas das profecias femininas acerca do género ( homens, ah os homens, mas também podemos escrevê-los com H grande).
De resto... tal como tu amo a vida gosto de correr e de escrever.
O blog aqui desta senhora autraliana é engraçado, mas nós por cá também temos muitas mulheres assim,a exemplo umas senhoras chamadas: Ana Pereira, Lénia, Vanessa Fernandes e outras. Em Portugal ( e desculpa discordar de ti) não só na corrida em muitas outras actividades da vida quotidiana temos mulheres de grande valor; pela inteligência, pela competência mas sobretudo pela capacidade de expressar emoções e fazer com que a nossa vida seja muito melhor ( para nós homens e vocês mulheres).
Fica bem...querida.