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quinta-feira, 27 de dezembro de 2018

Banco de Jardim


Passo por ele, hoje só, triste e vazio. A combinar com o tempo cinzento deste Inverno e desta manhã. A aguardar pelos Domingos de Sol que trazem as famílias felizes com os seus petizes irrequietos que apenas se aproximam dele (do Banco de Jardim) para darem uma dentada no lanche que a avó trouxe, entre um chuto na bola e uma corrida pela relva para apanhar de novo os amigos. Aguarda pacientemente por outros dias, de Sol, para ser ocupado pelos idosos conversadores, pelos desempregados a arrastar os pés a chorar a triste sina, enquanto fazem uma pausa no Banco de Jardim. Entre a miséria da vida e o regresso a casa, é o Banco de Jardim que os apoia, segura, escuta e abraça.
Aguarda também por outros dias em que o Jardim se enche de jovens adolescentes, que escapam entre intervalos das aulas a viverem os primeiros amores. Os primeiros beijos trocados no Banco de Jardim. E outros amores maduros também. Silenciosamente, o Banco de Jardim guarda segredos como ninguém.

Hoje o dia está triste e o Banco de Jardim também. Ainda assim, ampara as folhas caídas das árvores. Vê-me passar por ele, o Banco de Jardim, a caminhar. Não paro. Caminho a ritmo regular, a sentir cada passo seguro e bem estudado antecipadamente, com precaução, como se cada passada, desde o levantar do pé até pousar no chão um pouco mais adiante fosse uma manobra perigosa e carecesse de projecto avançado de física e engenharia. De dentes e punhos cerrados nalguns deles, a suportar as dores ou apenas a temê-las. Dores normais, diz o médico. Se é normal, avancemos. E se caminhar é preciso, caminhemos.

E o Banco de Jardim é hoje a minha companhia. E eu passo, olho-o e sigo em silêncio. Nem os pássaros se ouvem cantar hoje…e os segredos que eu hoje conto ao Banco de Jardim são um sussurro demasiado vago e imperceptível. No entanto, sei que ele amanhã se vai recordar deste dia e estes segredos, ficarão com ele bem guardados, como todos os outros que já lhe confiei, de quando me levantava às cinco da manhã e ia Correr, e ele, era um ponto de encontro, um local seguro, onde muitas vezes fazia exercícios de alongamento depois dos treinos madrugadores. Ele diz-me que adorava esses momentos e que tem saudades. Confesso-lhe baixinho que eu também…







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