Atendeu a chamada e quando se apercebeu do convite ficou estupefacta. Diante das pilhas de papel que se amontoam diariamente, e do monitor onde material eléctrico desfilava indiferente à crescente excitação que lhe crescia nas entranhas, incrédula, ela ouvia surpreendida, o seu amigo Carlos Viana Rodrigues, criador, principal mentor e director do espaço AMMA - Atletismo Magazine Modalidades Amadoras, portal que se dedica à promoção e divulgação de actividades desportivas amadoras onde ela colabora como colunista, e o seu cérebro parara no preciso momento em que ele referiu Santa Cruz de Tenerife.
Santa Cruz de Tenerife! Não podia acreditar no que ouvia! A Binter, companhia aérea que aposta nos voos directos Ilhas Canárias - Portugal, e nos leva em duas horas de Lisboa a Las Palmas, estava a organizar uma Corrida Nocturna, a Binter Night Run (página no facebook, aqui) e convidava generosamente (e que generosidade, veio ela a descobrir depois) alguns jornalistas Portugueses para assistirem ao evento, conhecerem as potencialidades e ofertas das Ilhas, principalmente no que ao Desporto diz respeito, e que após a experiência de 3 dias, viessem para este jardim à beira mar plantado e fizessem eco do que vissem. E a AMMA tinha recebido um convite, que por impossibilidade de outros colaboradores, era então confiado e oferecido a esta rapariga. Uma responsabilidade e uma confiança que lhe era dada e lhe pesou sobre os ombros mas desafio que ela prontamente aceitou após saber que custos teria e o que lhe era pedido para fazer, que era "apenas" ver, absorver todas as informações e fazer o que habitualmente faz: descrever o evento. E tudo isso a custo zero. A Binter tem uma política de marketing admirável e louvável, onde não faltam apoios a inúmeras actividades desportivas e culturais nas Ilhas Canárias. Também com uma aposta em voos para Cabo Verde, onde escasseiam os voos regulares e também entre ilhas, a Binter tem uma forte componente social, cultural e desportiva, promotora de um desenvolvimento necessário e desejável.
Diante deste convite irrecusável, a rapariga só quis acrescentar como se de exigência se tratasse, a sua participação na Corrida, o que foi prontamente e de muito bom grado aceite.
Assim, no dia 19 de Maio apresenta-se no Aeroporto de Lisboa e encontra os restantes convidados Portugueses e companheiros desta viagem, eles sim, jornalistas, Luís Milhano do Record, e o já seu conhecido Manuel Sequeira, da Revista Atletismo, com quem veio também a partilhar a Corrida.
Voo directo e em duas horas aterram em Las Palmas, Gran Canaria. Uma recepção muito calorosa pela Binter, por aquele que foi o seu incansável, simpatiquíssimo e irrepreensível anfitrião, o José Escudero a quem se veio juntar por diversas ocasiões, a igualmente incansável, simpática e atenta Olga Castrillón. Um breve passeio na noite de Las Palmas pelas ruas histórias do bairro de "La Triana", onde jantaram soberbamente bem.
As ofertas desportivas:
Estadia de uma noite em Las Palmas para no dia seguinte visitarmos o complexo desportivo Gran Canaria Arena, inaugurado em 2014, tendo sido para nós uma honra, termos o responsável de diversos eventos desportivos da Ilha, o Sr. Carlos Arteaga, a fazer-nos a apresentação. Não só das impressionantes e magníficas instalações da Arena (Estádio, campos de futebol, de basquetebol, ginásio, etc), como das diversas actividades que aí decorrem, desde jogos de competições Mundiais (Basquetebol) à utilização pela comunidade, incluindo as escolas, passando por eventos culturais diversos, como espectáculos musicais, pois é um espaço polivalente e de grande versatilidade.
Tivemos ainda uma breve apresentação dos eventos desportivos que elevam a Gran Canaria a Ilha Europeia do Desporto, sendo um projecto já posto em prática com sucesso, com o objectivo de oferecer grandes eventos desportivos, no mínimo um por mês, eventos esses a alcançarem repercussão internacional e uma posição conceituada e de destaque, como já é o caso de alguns deles, dos quais destaco a Transgrancanaria, (no facebook, aqui) com a próxima edição a realizar-se de 24 a 26 Fevereiro 2017, e a Gran Canaria Marathon, Las Palmas (no facebook, aqui) próxima edição a realizar-se a 22 de Janeiro 2017, provas estas onde muito gostaria de participar.
E se destaco esses porque a Corrida e o Trail são a minha paixão, outros há de igual ou maior dimensão, como serão por exemplo o Campeonato do Mundo de Windsurf, a Semana Olímpica de Vela, a Trans Gran Canaria Bike, a Travessia a Nado Maspalomas, e muitos outros.
História, Cultura, Gastrononia
A Binter fez também questão de nos presentear com uma breve visita pela cidade de Las Palmas, acompanhados de uma guia que falava Português e nos iniciou na história das Canárias. Fiquei a saber que os Guanches, povo nativo das Canárias já ocupava as ilhas quando lá chegaram os europeus, para serem escravizados e por fim erradicados juntamente com toda a sua cultura, hábitos e a própria história que se perde nos tempos.
No entanto, terá hoje ainda, uma boa parte dos naturais das Canárias, ascendência Guanche. Também soube que o nome das Ilhas, entre outras teorias, se poderá dever ao facto de na Ilha se terem encontrado imensos cães e por isso as denominaram de Canárias (Ilhas dos Cães).
Conhecemos um pouco das ruas de Las Palmas, onde curiosamente decorriam as filmagens do filme "Allied’ com Brad Pitt. Conhecemos a praia de Las Canteras, onde almoçámos esplendidamente bem, como nos estavam a habituar desde o início. Peixe grelhado, polvo, peixe frito, batatas, bacon, salsichas, ovos, beringela frita com mel, nacos de suculenta carne grelhada e sempre tudo muito bom e sempre bem acompanhado de umas belas "Canhas".
Ao fim da tarde é tempo de recolher as malas e rumarmos ao Aeroporto de novo. Num voo de 15 minutos estamos a aterrar em Tenerife. 11 Km separam-nos de Santa Cruz de Tenerife, onde ficaremos até final da estadia. Aqui a rapariga em vez de descansar, vê que lhe sobra tempo antes de jantar para um curtíssimo "treino". Vai de se equipar e palmilhar as ruas de Santa Cruz de Tenerife. Depois de estudar o mapa, tenta ir reconhecer no terreno a zona da Partida e Meta da Corrida, que decorreria no dia seguinte, e assim vê-se deslumbrada na "Plaza de Espanha", a maior praça das Ilhas Canárias, onde uma imponente fonte artificial se impõe, um monumento aos mortos da Guerra Civil e onde ainda se encontram restos das muralhas originais do "Castillo de San Cristóbal", fortaleza edificada no Sec. XVI pelos Espanhóis, para defesa de (outros) invasores.
O jantar é no hotel e de estômago cheio, antes de deitar impõe-se um passeio de novo pelas ruas de Santa Cruz de Tenerife. Animação nas casas de comer e beber e a noite está fantástica.
Hora de dormir e o dia de sábado é de novo passado nas ruas de Santa Cruz de Tenerife, agora também com um novo guia turístico, e parte do dia livre. Curtos mas muito interessantes ensinamentos e curiosidades sobre as Canárias. Tenerife, de clima ameno todo o ano, deixa-me absolutamente encantada e rendida a seus encantos e uma enorme vontade de voltar, para ficar mais tempo, alugar um carro e visitar toda a Ilha, com visita obrigatória ao Teide, a montanha vulcânica e o pico mais elevado de Espanha, com 3718 metros de altitude. As praias no Sul de Tenerife e o verde do Norte da Ilha ficaram por ver, mas a vontade de lá voltar e apreciar a beleza da ilha num todo é enorme. Sem dúvida,Tenerife fica na agenda para uma próxima visita. Assim como as restantes ilhas, La Palma, Lanzarote, El Hierro, La Gomera, Fuerteventura e Gran Canaria.
A Binter Night Run - A Corrida
Não acredito. Esta rapariga saloia, dos subúrbios de Lisboa, está aqui, em Santa Cruz de Tenerife e vai participar numa Corrida! É a Binter Night Run e eu estou cá! Aos saltinhos, um nervoso miudinho sem saber porquê e já devidamente equipados - mentira! Falha imperdoável: a bandeira Portuguesa, esse inexplicável orgulho luso que ostento sempre que corro fora deste quintal tinha ficado em casa esquecida! Não importa (muito). Eu estou cá e ostento a t-shirt da nossa Maratona do Porto! Os dorsais e o kit do atleta, incluindo uma bonita t-shirt, já os tínhamos desde a véspera na chegada ao hotel. Tanto o meu como do Manuel Sequeira foram-nos entregues mal chegámos. Dorsais personalizados com o nome (curiosamente o primeiro e o segundo) e com o chip incorporado.
Agora, estávamos já no local de Partida (Plaza de Espanha) e aguardávamos a nossa hora enquanto desfrutávamos de todo o ambiente na Plaza de Espanha.
A prova, nesta sua 1ª edição, teve duas vertentes: uma Corrida de 5 Km, e com partida uma hora depois, uma Corrida de 10 Km, sendo esta duas voltas da primeira.
O ambiente é fantástico. Muita animação. Existem 3 posicionamentos na partida consoante os tempos que se esperam fazer. Ficámos no "Mais que 50 minutos".
A Prova de 10 Km teve 649 atletas chegados à meta e a de 5 Km, 672. Os tempos dos primeiros classificados, foram modestos, tendo sido na distância de 10 Km:
1º Masculino: Miguel Angel Vaquero Agama, com 32:00
1º Feminino: Pili Ramos Guanche, com 42:19
Voltemos à Partida, de onde ainda não saímos. Os nossos anfitriões deixam-nos para vestirem a sua camisola de voluntários e nós, eu e o Manuel ficamos por ali, aproveitando para fotografar o ambiente e a partida dos 5 km e depressa chega a hora de aquecermos um pouco para nos posicionarmos no nosso grupo de partida. Enquanto aguardamos o tiro de partida, dois pequenos palcos, um de cada lado da Partida, cada um com um guitarrista à desgarrada, tocam acordes de hinos pop-rock bem conhecidos e os atletas deliram, oram voltando-se para um ora para outro.
Por fim a Partida é dada e surpreende-me a animação, com fogo de artifício, muita música, muitas palmas, muitos sorrisos e papelinhos ao ar, e somos lançados na noite pelas ruas históricas e movimentadas de Santa Cruz de Tenerife. Tinha combinado ir junto com o Manuel na prova, mas ele impôs um ritmo demasiado rápido para mim e deixo-o seguir talvez ainda nem tivéssemos 1 km de prova percorrido. Sigo por minha conta, ao meu ritmo.
A prova é rápida e a animação é tal que nos primeiros quilómetros vemo-nos praticamente num corredor, ladeados por muito e animado público, animação essa que nos é passada em sorrisos, olhares, toques de mãos, gritos. Ânimo, muito ânimo e nem damos por passar os primeiros 3 a 4 Km, mesmo com algumas suaves subidas e descidas. Depois, na passagem já perto da meta (metade de prova, relembro que são 2 voltas), a animação silencia-se e vamos sós embora sempre acompanhados de atletas, até ao Km 5 (ponto de partida e depois de chegada), onde é feito um controlo. Mas desengane-se quem julgue que não há animação aqui. Um palco montado com músicos a tocar, que nos anima de novo. O que acontece é que me estava a habituar a correr com os passeios cheios de público a gritar por mim. Passa-se pela meta, e de novo animação ao rubro não estivéssemos em território Espanhol, e falta agora apenas uma volta. Temos um abastecimento de água e sigo forte e animada.
De novo o mergulhar na animação do público espanhol, as ruas iluminadas, cheias de gente, as esplanadas onde estivera de manhã a tomar umas "Canãs", adoro isto! Depressa o km 7 e tal e aí começo a sentir dificuldades em manter o mesmo ritmo. Mas esforço-me. Ou se me esforço! O calcanhar que grita de dor, cada vez mais alto, mas o coração é mais forte! Avisto o Manuel e ele parece seguir mais lento que eu. Alcanço-o com facilidade e sigo, dizendo-lhe que nos encontraríamos ao pé da estátua (local combinado para o caso de nos separarmos). Continuo até à meta e sinto que esta Corrida foi feita não só pelas minhas pernas mas também pelo coração e pelo ânimo recebido por este fantástico público, injectado no âmago da alma, em cada passo dado, em cada metro percorrido, pelas palavras de encorajamento recebidas, pelos olhos brilhantes e os sorrisos rasgados e límpidos, carregados de emoção recebida e ofertada de novo, multiplicada em cada passo dado nesta noite quente em Santa Cruz de Tenerife, no meio da cor verde da Binter.
A partir do km 8 muitos atletas me passam. Não gosto, mas não consigo manter o meu ritmo. Houve claramente uma quebra. E agora é seguir neste ritmo mais lento até à Meta. Olho para o cronómetro e vejo que estou com 53 minutos e qualquer coisa. Acelero o passo como posso para chegar antes dos 54. Alcanço a meta com 53:50 e 10 Km percorridos, o que pode ser visto aqui em video.
Levanto os braços e esta está concluída. Esqueço a dor e abrando por fim. Um voluntário jovem dá-me os parabéns e coloca-me a medalha ao pescoço. Uma amiga voluntária, dá-me água e um beijo. Sim, um beijo! Nas minhas faces a escorrer suor! Agradeço-lhe. De imediato atrás de mim, surge o Manuel. Muito bom. Por pouco não me apanhava de novo. Fico contente. Ele também. Há muito que não fazia este tempo aos 10.
A minha Corrida terminara por hoje, mas a festa continua. Entrega de prémios no local para os primeiros da geral. Já os prémios por escalão, foi marcada uma data posterior e outro local (patrocinador) para serem recebidos. Ainda bem que não estava em condições de ganhar nada, senão, lá teria de voltar a Tenerife nos próximos dias para receber o prémio. Situação pouco agradável, visto que eventualmente muitos dos participantes seriam de outras ilhas. Também notei a falta da marcação de quilómetros ao longo da prova, se bem que a maioria dos atletas corre com gps, é minha opinião que a marcação dos quilómetros no terreno seja importante e uma mais-valia para todos.
A festa continuou noite dentro com música no local, mas nós, continuamos a nossa "Corrida" para o Hotel, para um duche rápido e de novo regressarmos ao Centro para o último jantar desta estadia, num pitoresco restaurante. De novo o reencontro com os nossos anfitriões, outros participantes na Corrida, Imprensa Espanhola e amigos.
É hora de voltar ao hotel e minutos antes de dormir verifico que as classificações já estão disponíveis on-line, no site da prova. Muito bom. Noite retemperadora e regresso a casa.
No jornal "La Opinion de Tenerife" com que somos presenteados já a bordo do avião da Binter, verifico com surpresa que vêm publicadas as classificações completas da Corrida e que eu fui a 48ª mulher a cortar a meta de um total de 153. Pena terem trocado o "Pereira" por um nome espanhol qualquer... Mas isso é um pormenor. Enriquecida é como eu volto. Por tudo o que vivi, pelas pessoas que conheci, pela amizade e partilha e volto com muita vontade de voltar, para passear, conhecer mais deste povo e destas Ilhas, conhecer e participar na Transgrancanaria (na distância mais curta, claro!) ou na Gran Canaria Marathon, já no início de 2017. Sim, deixem-me sonhar, porque o sonho comanda a vida e porque vivi dias felizes nas Canárias, eu hei-de lá voltar.
Ana Pereira
A minha prova registada pelo Strava, a ver aquiNão acredito. Esta rapariga saloia, dos subúrbios de Lisboa, está aqui, em Santa Cruz de Tenerife e vai participar numa Corrida! É a Binter Night Run e eu estou cá! Aos saltinhos, um nervoso miudinho sem saber porquê e já devidamente equipados - mentira! Falha imperdoável: a bandeira Portuguesa, esse inexplicável orgulho luso que ostento sempre que corro fora deste quintal tinha ficado em casa esquecida! Não importa (muito). Eu estou cá e ostento a t-shirt da nossa Maratona do Porto! Os dorsais e o kit do atleta, incluindo uma bonita t-shirt, já os tínhamos desde a véspera na chegada ao hotel. Tanto o meu como do Manuel Sequeira foram-nos entregues mal chegámos. Dorsais personalizados com o nome (curiosamente o primeiro e o segundo) e com o chip incorporado.
A prova, nesta sua 1ª edição, teve duas vertentes: uma Corrida de 5 Km, e com partida uma hora depois, uma Corrida de 10 Km, sendo esta duas voltas da primeira.
O ambiente é fantástico. Muita animação. Existem 3 posicionamentos na partida consoante os tempos que se esperam fazer. Ficámos no "Mais que 50 minutos".
A Prova de 10 Km teve 649 atletas chegados à meta e a de 5 Km, 672. Os tempos dos primeiros classificados, foram modestos, tendo sido na distância de 10 Km:
1º Masculino: Miguel Angel Vaquero Agama, com 32:00
1º Feminino: Pili Ramos Guanche, com 42:19
Voltemos à Partida, de onde ainda não saímos. Os nossos anfitriões deixam-nos para vestirem a sua camisola de voluntários e nós, eu e o Manuel ficamos por ali, aproveitando para fotografar o ambiente e a partida dos 5 km e depressa chega a hora de aquecermos um pouco para nos posicionarmos no nosso grupo de partida. Enquanto aguardamos o tiro de partida, dois pequenos palcos, um de cada lado da Partida, cada um com um guitarrista à desgarrada, tocam acordes de hinos pop-rock bem conhecidos e os atletas deliram, oram voltando-se para um ora para outro.
Por fim a Partida é dada e surpreende-me a animação, com fogo de artifício, muita música, muitas palmas, muitos sorrisos e papelinhos ao ar, e somos lançados na noite pelas ruas históricas e movimentadas de Santa Cruz de Tenerife. Tinha combinado ir junto com o Manuel na prova, mas ele impôs um ritmo demasiado rápido para mim e deixo-o seguir talvez ainda nem tivéssemos 1 km de prova percorrido. Sigo por minha conta, ao meu ritmo.
A prova é rápida e a animação é tal que nos primeiros quilómetros vemo-nos praticamente num corredor, ladeados por muito e animado público, animação essa que nos é passada em sorrisos, olhares, toques de mãos, gritos. Ânimo, muito ânimo e nem damos por passar os primeiros 3 a 4 Km, mesmo com algumas suaves subidas e descidas. Depois, na passagem já perto da meta (metade de prova, relembro que são 2 voltas), a animação silencia-se e vamos sós embora sempre acompanhados de atletas, até ao Km 5 (ponto de partida e depois de chegada), onde é feito um controlo. Mas desengane-se quem julgue que não há animação aqui. Um palco montado com músicos a tocar, que nos anima de novo. O que acontece é que me estava a habituar a correr com os passeios cheios de público a gritar por mim. Passa-se pela meta, e de novo animação ao rubro não estivéssemos em território Espanhol, e falta agora apenas uma volta. Temos um abastecimento de água e sigo forte e animada.
De novo o mergulhar na animação do público espanhol, as ruas iluminadas, cheias de gente, as esplanadas onde estivera de manhã a tomar umas "Canãs", adoro isto! Depressa o km 7 e tal e aí começo a sentir dificuldades em manter o mesmo ritmo. Mas esforço-me. Ou se me esforço! O calcanhar que grita de dor, cada vez mais alto, mas o coração é mais forte! Avisto o Manuel e ele parece seguir mais lento que eu. Alcanço-o com facilidade e sigo, dizendo-lhe que nos encontraríamos ao pé da estátua (local combinado para o caso de nos separarmos). Continuo até à meta e sinto que esta Corrida foi feita não só pelas minhas pernas mas também pelo coração e pelo ânimo recebido por este fantástico público, injectado no âmago da alma, em cada passo dado, em cada metro percorrido, pelas palavras de encorajamento recebidas, pelos olhos brilhantes e os sorrisos rasgados e límpidos, carregados de emoção recebida e ofertada de novo, multiplicada em cada passo dado nesta noite quente em Santa Cruz de Tenerife, no meio da cor verde da Binter.
A partir do km 8 muitos atletas me passam. Não gosto, mas não consigo manter o meu ritmo. Houve claramente uma quebra. E agora é seguir neste ritmo mais lento até à Meta. Olho para o cronómetro e vejo que estou com 53 minutos e qualquer coisa. Acelero o passo como posso para chegar antes dos 54. Alcanço a meta com 53:50 e 10 Km percorridos, o que pode ser visto aqui em video.
Levanto os braços e esta está concluída. Esqueço a dor e abrando por fim. Um voluntário jovem dá-me os parabéns e coloca-me a medalha ao pescoço. Uma amiga voluntária, dá-me água e um beijo. Sim, um beijo! Nas minhas faces a escorrer suor! Agradeço-lhe. De imediato atrás de mim, surge o Manuel. Muito bom. Por pouco não me apanhava de novo. Fico contente. Ele também. Há muito que não fazia este tempo aos 10.
A minha Corrida terminara por hoje, mas a festa continua. Entrega de prémios no local para os primeiros da geral. Já os prémios por escalão, foi marcada uma data posterior e outro local (patrocinador) para serem recebidos. Ainda bem que não estava em condições de ganhar nada, senão, lá teria de voltar a Tenerife nos próximos dias para receber o prémio. Situação pouco agradável, visto que eventualmente muitos dos participantes seriam de outras ilhas. Também notei a falta da marcação de quilómetros ao longo da prova, se bem que a maioria dos atletas corre com gps, é minha opinião que a marcação dos quilómetros no terreno seja importante e uma mais-valia para todos.
A festa continuou noite dentro com música no local, mas nós, continuamos a nossa "Corrida" para o Hotel, para um duche rápido e de novo regressarmos ao Centro para o último jantar desta estadia, num pitoresco restaurante. De novo o reencontro com os nossos anfitriões, outros participantes na Corrida, Imprensa Espanhola e amigos.
É hora de voltar ao hotel e minutos antes de dormir verifico que as classificações já estão disponíveis on-line, no site da prova. Muito bom. Noite retemperadora e regresso a casa.
No jornal "La Opinion de Tenerife" com que somos presenteados já a bordo do avião da Binter, verifico com surpresa que vêm publicadas as classificações completas da Corrida e que eu fui a 48ª mulher a cortar a meta de um total de 153. Pena terem trocado o "Pereira" por um nome espanhol qualquer... Mas isso é um pormenor. Enriquecida é como eu volto. Por tudo o que vivi, pelas pessoas que conheci, pela amizade e partilha e volto com muita vontade de voltar, para passear, conhecer mais deste povo e destas Ilhas, conhecer e participar na Transgrancanaria (na distância mais curta, claro!) ou na Gran Canaria Marathon, já no início de 2017. Sim, deixem-me sonhar, porque o sonho comanda a vida e porque vivi dias felizes nas Canárias, eu hei-de lá voltar.
Ana Pereira
FOTOS:
Por mim, Pequeno album da Partida da Corrida de 5 Km, aqui
Album pessoal da visita, aqui
Pela Organização, aqui
CLASSIFICAÇÕES, AQUI
Videos:
Mais videos, várias câmaras, por tempos de chegada, etc, a procurar aqui
6 comentários:
Ora aí está, Ana.Mais um excelente texto e mais uma excelente experiência, que nos deixa roidinhos de "inveja". Afinal... as Canárias aqui tão perto! Olhe...mais uma alternativas a Londres... quem sabe!?!? Beijinho.
Desculpa ser o teu "pesadelo" mas fiquei com uma péssima opinião da Transgrancanaria (versão Marathon em 2015). Ainda mais sendo uma prova do World Tour deixou muito (mesmo muito) a desejar.
Beijo e continua a sonhar!
Fernando Andrade...estou a apontar mais para a Transgrancanaria que decorre no fim de Fevereiro, mais pela data do que propriamente por outra razão qualquer, pois em Janeiro, não será muito fácil para mim, mas está tudo em aberto! Até podia ir às 2, afinal demoro menos a lá chegar do que daqui ao Porto :) Estou a brincar.... (estou? ;) )
Anabela, minha querida, se o meu pesadelo fosses tu e o facto de me dizeres que Transgrancanaria deixou muito a desejar... a minha vida seria um mar de rosas : Mas atenção, vou procurar o que escreveste sobre a dita, mas mesmo que a tua experiência tenha sido muito má, quero ir lá para ver e viver a coisa ao vivo e na pele:) E tu devias lá voltar!
Não é que a "piquena! escreve também muito bem em versão jornalística e de repórter! Uma corredora todo o terreno e uma escritora todo o terreno!
Andam por ai "escritores e jornalistas" que deviam estar a vender material eléctrico e há escritores e jornalistas "escondidos" a vender material eléctrico! Mundo "cão" este! (Molly querida esse cão não tem nada a ver contigo! Eu meti aspas! É uma figura de estilo a dona que te explique... :) ).
Beijinhos.
A tua dedicação e persistência é absolutamente admirável!
Que maravilha!
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