“Olha os olhinhos deles…” – Não é a coisa mais tranquilizadora de se ouvir a meio do caminho em direcção ao alto do Monte Serves, ainda o relógio caminhava para as seis da manhã, sob um céu escuro como breu, carregado de nuvens que escondiam a enorme lua cheia resplandecente que eles avistaram na noite de véspera, poucas horas antes deste treino portanto, e que prometia um treino totalmente iluminado pelo luar. Pelo contrário, sempre que ela, no fim do grupo, se voltava para trás com a luz ténue do seu frontal, só o negro a envolvia e as luzes das vilas e cidades ao longe davam alguma luz ao cenário de fundo como tela num palco teatral.
Em oposição, correndo e dirigindo o foco do frontal sobre as pedras e a terra, avançando cautelosamente passo a passo, o brilho da geada sobre a vegetação molhada, brilhante como esmeraldas vestidas de diamante, encanta e cativa os cinco participantes de hoje.
Mas voltemos aos “olhinhos”. Ela até sabe o que há ali, naquela zona do percurso. Mas gosta de abrir as portas ao fantástico e sentir a magia e a energia do Monte, que confia segredos a quem o ama e respeita, como amante fogoso que repouso a cabeça sobre o peito do outro depois de apaziguar as ânsias do corpo e da alma.
Os cinco frontais elevam-se e focam o local indicado pelo amigo. E então, no meio da penumbra, uma mancha arredondada, ligeiramente mais clara que a noite, subtil, mas suficiente para denunciar os seus contornos em forma de nuvem de desenho animado, a transmitir macieza e fofura, a sugerir algodão doce ou lã macia, pintura a carvão por mão pura e ingénua infantil, preenchida pelo escuro da noite e salpicada por dezenas de pontinhos amarelos imóveis e hipnotizantes, surge para encanto dos cinco. Dela pelo menos, que ela é essa amante do Monte, eterna sonhadora.
Depois de tal contemplação(*), prosseguem o treino, atingindo o topo do Monte, e descem, agora com a Lua e o Sol a romper as nuvens, frente a frente, em lados opostos do céu, em conversa franca, aberta e desafiadora, como se quer dos Homens.
E chegam ao ponto de partida, cá em baixo na vila. Percorreram 10 Km em 1h19m, e acabaram felizes e contentes, soltos e iluminados, para fazerem deste dia, um bom dia, que já começou assim, bem!
(*) um rebanho de ovelhas, reunidas no seu curral ao ar livre
1 comentário:
São mágicos esses treinos madrugadores!
Beijinhos.
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