Subiu ao banco e retirou as coisas da última prateleira do roupeiro. Um saco e uma caixa. Eram enfeites de Natal, na hora de verem de novo a luz do dia, das velas, da lareira e das lâmpadas eléctricas, por uns dias que seja. E os dias são estes. É quase Natal.
Enfeitou a árvore acabada de montar. Está cheia de comichão nos braços das hastes que teve de abrir uma a uma e lhe irritam a pele para além de caírem abundantemente pelo chão, de tal forma que ela se admira da árvore ainda estar composta, tal é a quantidade de folhas (sintéticas e artificiais, claro) que todos os anos cai e os anos já são muitos. Liga as luzes de cor e ouve um estoiro acompanhado de um cheiro intenso a queimado! “Estás bem, Mãe??” Sim, a Mãe está bem, mas este ano vamos ficar apenas com as luzinhas brancas. As de cor acabaram de lhe rebentar nas mãos.
Do saco saem ainda várias figuras alusivas à época. Um alce vestido de Pai Natal, um boneco de neve, anjinhos e suportes para velas também com anjinhos. E depois sai um Pai Natal com barbas de pêlo sintético que lhe escondem o rosto apenas se revelando um nariz comprido a lembrar o Pinóquio. Tem os braços abertos articulados assim como as pernas que o deixam em posições grotescas e cómicas ao mesmo tempo. Tem botas pretas e nas costas umas asas abertas. Asas?! Asas?! Mas desde quando os pais natal têm asas?! Já nem se lembrava dele, mas sim, fora oferta de alguém no último Natal. Mas asas?! A propósito de quê o Pai Natal tem asas?! Isso é misturar as histórias e as personagens, tão lógico como colocar a Branca de Neve e o Lobo Mau no presépio. E porque não?! Porque não, ora!
E não, o Pai Natal não tem asas! Rodou-as com força com a intenção de as arrancar. Resistiram. Irritou-se. Repetiu o gesto agora com mais firmeza e força. Até arrancar as asas. Mas…agora o feio Pai Natal ficou com um buraco enorme nas costas como personagem de série policial, vítima de estripamento violento, com a devida diferença do local no corpo onde predomina a cavidade.
Lixo! Pai Natal assassinado encontrado com um buraco nas costas na manhã seguinte num caixote do lixo perto de si.
Agora…a casa dela já está enfeitada para a época. Já pode deixar entrar o espírito. O do Natal. Venha ele que os dias correm mais que ela e sem darmos por isso, vai mesmo ser Natal daqui a nada!
"- Perdemos o espírito do Natal...
- ...eu diria que perdemos o trabalho que nos permitia ter o espírito do Natal..."
4 comentários:
O melhor do Natal é mesmo ansiar por ele!
Olá Ana,
...és única...já me ri um pouco e nestes tempos que correm é muito bom. Gostei de lêr o que escreveste mas fiquei um pouco com medo de ir treinar contigo...Ana a estripadora?
Acho melhor ter cuidado contigo e nunca te passar à frente nas corridas ou treinos pois nunca saberei o que te estará a passar pela cabeça.
Espero que o Pai Natal não se tenha zangado com o que lhe fizeste...e cuidado com as tomadas e as ligações eléctricas pois...uma descarga eléctrica afecta sempre a mente humana.
Bjs
Fernando Sousa
Já me fizeste rir à gargalhada, até aqui o outro perguntou porque estava a rir como uma doida...
Gostei do assassinato do pai natal...
beijinho e antes que seja tarde, Feliz Natal
Vou pedir ao Pai Natal para um dia conseguir escrever tão bem como a "Pikena"!
Mas duvido que ele me de um presente tão grande.
Pois por aqui já não tenho trabalho que me permita ter espírito de Natal mas como sou do contra (e Natal é quando um homem quiser) mantenho o Espírito de Natal por isso viva o Natal, o Carnaval, o Bombarral, o Tramagal mais a "Pikena" e a Molly que é fenomenal!
Boa Pascoa Maria!
Enviar um comentário