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segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Frio / Doente / ou / Outro título qualquer

3 de Novembro de 2008. Está frio na Casa. Está Frio fora e dentro dela.

Sente um Frio penetrante apesar das mantas que a cobrem e das faces rosadas e mornas que traz, reflexo talvez de um estado febril e alucinado em que se encontra desde a Maratona que não correu. Ficou doente desde esse dia. Talvez por uma outra vez não a ter corrido. A Maratona do Porto.

3 de Novembro de 2008. Está Frio. Está anormalmente Frio hoje nesta Casa. Suportando nas costas o peso dos dias, ela fez e faz de novo a ponte. Entre os dias. Invariavelmente de segunda a sexta, carregando os dias, e as semanas, assim como quem carrega os sacos das compras contendo fruta e leite, e põe na mesa o pão. Incontáveis os dias e as semanas e as refeições tomadas nesta e noutra mesa. Restam vinte e oito pequenos-almoços para servir em Novembro, para se completar outra ponte e atravessar Dezembro, já histérico na rua à espera de chegar. O mesmo número de jantares e apenas oito almoços preparados aos fins-de-semana. Dia após dia, levantado a mesa e o corpo da cama, pondo a mesa e, carregando os pratos e os dias, ela avança unindo dias, semanas, meses. E por vezes sente-se cansada. E hoje é uma dessas vezes.

No leito, descansa o corpo e os olhos para logo reparar no olhar dela. Invadiu-lhe o pensamento assim sem pedir licença e entrou impondo-se ali à sua frente. Olhar vivo mas triste o desta outra mulher bonita e jovem apesar dos anos que já viveu. Olhar triste mas que irradia brilho quando em inconsciente busca de socorro responde a quem pergunta se ela se sente melhor pois sabe-a doente, que não tem nada e que estava só a chamar a atenção… Menosprezando as suas próprias queixas e dores numa estúpida tentativa de desculpar um hipotético companheiro, ausente, desatento e desinteressado, é traída também pelo seu olhar que revela abertamente um pedido de ajuda, um grito mudo que ela leu sem dificuldade. Puta de vida esta. Esta mulher não merecia isto… E ela… ela em certas situações não devia sequer saber ler…

Necessidades do corpo despertam-na e obrigam-na a levantar-se. Doem-lhe os músculos sem ter corrido, e as costas sem ter caído. Sente dificuldade em respirar, engolir e até em se equilibrar quando se desloca, e uma ligeira dormência dos membros acompanhada por um coração descontrolado quase que a assustam. Volta da casa de banho com a manta pelas costas, apoiando-se nas paredes e regressa ao leito onde fecha de novo os olhos, aconchega as mantas ao queixo e dorme. Dorme fazendo a ponte para outro dia. O amanhã. O amanhã que se quer e espera surpreendente e assustadoramente igual e diferente.

10 comentários:

luis mota disse...

Olá Ana!
Penso que lhe está a fazer falta participar numa prova.
Domingo a Nazaré seria uma boa opção.
Luís Mota

Anónimo disse...

olá Ana.
Obrigado e um Beijo.
até breve
AB - Tartaruga

joaquim adelino disse...

Amiga Ana
Queremos que volte depressa.
Li umas palavras suas na Revista Atletismo e gostei imenso, pensei que estava de volta com a mesma pujança que sempre teve. Este velho que está a escrever estas palavras para si está-lhe agradecido por também animar a minha vida pelos seus escritos e pelas suas mensagens. É essa força predistinada que tem que queremos partilhar consigo, haverá com certeza algo que não vai bem mas os amigos também estão por perto e sempre dispostos a ajudar a superar o momento e os bloqueios que nos traiem o caminho.
Receba um abraço

MPaiva disse...

Ana,
Um abraço e votos de rápidas melhoras!
MPaiva

pmprates disse...

Eu não conheço a Ana, ou será Maria?! não sei. Não a conheço. Dela, apenas leio as palavras, que sempre escreve e que me inspiram, me dão alegria e me espicaçam cada vez que estou mais longe, que me afasto e me sinto mais perdido. Quando me faltam as forças, quando a manha se ouve mais alto e me diz para não avançar, para parar e não correr, é a ela, à Maria, à Ana, à senhora destas palavras encantadas, que recorro, incessantemente e em quem me refugio..
Por isso só posso pedir que te levantes e que prossigas o teu caminho.. sozinha ou através da minha mão anónima, mas estendida, livre para te empurrar..

Anónimo disse...

Olá, Anofa...

Não há dúvida que o Outono chateia por vezes...

Vou pôr aqui uma injecção de alegria contagiante, sobre a qual meditarás.
Se não quiseres publicar no teu blog, guarda num ficheiro teu, e lê e escuta o video - A tristeza vai desmoronar-se e vais sentir-te melhor!
Colo a seguir, com um Beijinho:

Hoje é sempre melhor do que ontem
Porque hoje é hoje, essa coisa mágica, única, surpreendente
Que se acaba de repente
Hoje é melhor que amanhã
Porque hoje é hoje e estamos vivos
E plenos de tanto, até não se sabe como e quando
Hoje é sempre melhor que sempre
Porque o hoje foge, o amanhã é um mistério
E ontem é só memória, história, já era!
Hoje é sempre o maior presente
Porque a vida é agora, esta hora de som e luz e festa
E este instante é tudo o que nos resta…!

Cairo de Assis Trindade

http://www.youtube.com/watch?v=bDtoFUhtnr4

RA disse...

Olá Ana !! Já há algum tempo que aqui não vinha, afinal agora tenho algo que me ocupa grande parte do tempo já lá vão quase 4 meses. Espero que esse ânimo regresse e depressa. Beijoquitas grandes.Poe ser que nos voltemos a encontar. :)

Fernando Andrade. disse...

Olá, Ana

Se calhar foi "andaço" que andou por aí !
É que eu também estive 4 dias de molho.
Espero que já esteja recuperada e possa recomeçar correndo e... teclando!

Beijinho.

Fernando Andrade

Anónimo disse...

Olá "Maria"

ao ler o que escreveste (o que faço sempre com muito gosto, escreves mesmo muito bem, escusava de dizer isto mas porque não dizer se é o que sinto?) pensei num belo poema (na minha opinião) de um "mestre" das palavras, José Gomes Ferreira, permite-me que o transcreva de seguida:

"Viver sempre também cansa!
O sol é sempre o mesmo e o céu azul
ora é azul, nitidamente azul,
ora é cinza, negro, quase verde...
Mas nunca tem a cor inesperada.
O Mundo não se modifica.
As árvores dão flores,
folhas, frutos e pássaros
como máquinas verdes.
As paisagens também não se transformam.
Não cai neve vermelha,
não há flores que voem,
a lua não tem olhos
e ninguém vai pintar olhos à lua.
Tudo é igual, mecânico e exacto.
Ainda por cima os homens são os homens.
Soluçam, bebem, riem e digerem
sem imaginação.
E há bairros miseráveis, sempre os mesmos,
discursos de Mussolini,
guerras, orgulhos em transe,
automóveis de corrida...
E obrigam-me a viver até à Morte!
Pois não era mais humano
morrer por um bocadinho,
de vez em quando,
e recomeçar depois, achando tudo mais novo?
Ah! se eu pudesse suicidar-me por seis meses,
morrer em cima dum divã
com a cabeça sobre uma almofada,
confiante e sereno por saber
que tu velavas, meu amor do Norte.
Quando viessem perguntar por mim,
havias de dizer com teu sorriso
onde arde um coração em melodia:
"Matou-se esta manhã.
Agora não o vou ressuscitar
por uma bagatela."
E virias depois, suavemente,
velar por mim, subtil e cuidadosa,
pé ante pé, não fosses acordar
a Morte ainda menina no meu colo..."

Para ti "Ana" beijinhos dos 3,
António, Isabel e Vitória.

Fernando Andrade. disse...

“Doente ou outro título qualquer”
No seu último post assim dizia;
Mas o que é feito, então, desta mulher ?
Onde andará a boa da Maria ?
Não seja o mal que a impeça de correr
Mas… talvez o agitado dia-a-dia!
Abdica das corridas que a encantam
Pois há outros valores que se alevantam !