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sábado, 9 de setembro de 2017

41ª Meia Maratona de S.João das Lampas

9 de Setembro de 2017 - Meia Maratona de S.João das Lampas








 

A minha história na 41ª edição da prova:


À medida que o tempo passa, fica-me mais fácil escrever. Como se o tempo quase apagasse as memórias dolorosas e restassem agora apenas as coisas boas! Tem destas coisas o Tempo. Ah, mas as coisas boas são tantas! Tantas! Estar ali, alinhar na Partida e percorrer todo o caminho da Meia Maratona de São João das Lampas, vivê-lo com suor no rosto e dor nas pernas, caminho sofrido, muito sofrido desta vez, mas chegar à meta, arrancar o maior sorriso de dentro do peito sem qualquer esforço, vale...vale...vale tudo!

Foi no dia 9 de Setembro de 2017. E é assim que chego à 41ª edição da Meia Maratona de S.João das Lampas. Fresca e fofa. Demasiado fofa, aliás. E amedrontada, sim. Já sei que me vai custar. Porque me conheço e sei como estou, o que fiz e o que não fiz. Ainda assim, nada que me impedisse de participar, como aconteceu no ano passado, em que seriamente lesionada, a participação não me foi sequer permitida. Por isso, este ano, muito longe da forma de há 2 anos, em que com 1h37m cheguei à meta, este ano simplesmente alinho na Partida com a ambição de chegar à meta, no melhor estado possível.

São João das Lampas está-me no coração. Por tanto e por nada. Pela forma como sempre sou recebida, que é afinal a natural forma de receber daquela gente.

Talvez especialmente por isso, não faltei este ano. Sabia de antemão que ia doer. E doeu! Até ao tutano. Mais...pior só se tivesse ficado em casa. E eu não fiquei! Hoje, é este o espírito.

As inscrições tinham um custo inicial de EUR 10,00, podendo atingir no máximo EUR 14,00 para os que deixassem para os últimos dias. De forma fácil e rápida. No dia da prova, levantamento de dorsais de forma simples e eficaz, que poderiam também ter sido levantados na véspera. Uma t-shirt, modelo diferenciado por género, muito bonita, fresca e de excelente qualidade! Chip incorporado no dorsal, personalizado este, também de cor distinta entre os 2 géneros.

E com o treino possível, eu lá estava no dia para participar nesta que é a 2ª Meia Maratona mais antiga de Portugal, a realizar-se pela 41ª vez! Caramba, na 1ª edição, eu já corria sim, na estrada, nos pinhais e na pista, e ganhava medalhas, mas tinha apenas 7 anitos! Impõe respeito uma prova destas. Que perdura, cresceu, ganhou a qualidade das entidades "profissionais" (de algumas!) sem no entanto perder a  essência da Corrida, o "amor à camisola", a forma genuína de ser e estar na Corrida. E isso muito se deve ao Fernando Andrade, Homem que está no leme deste barco desde a 1ª hora, há 40 anos, e tem conseguido, junto da equipa de que se faz rodear, fazer de S.João das Lampas um lugar onde se respira Corrida, quer na Meia Maratona, quer no Trilho das Lampas, quer nos treinos associados a estes eventos que promove ao longo do ano!

Hoje, nesta tarde de 9 de Setembro, lá anda ele, entre os participantes, no secretariado, a cuidar disto e daquilo, nos momentos antes da prova, a demonstrar uma serenidade e humildade, de braço dado com uma força que cremos inabalável.

Minutos antes, sussurra-me ao ouvido "Ana, hoje vou correr". Admirei-me, retorquindo com um "A sério?! Boa!" Mas não compreendi logo. 

Depois de algum tempo a aquecer, rever amigos e conhecidos, e envolver-me no bom ambiente festivo, a partida é dada. Ali, mesmo em frente à Junta de Freguesia. Muita alegria é  o que se vive por ali. Vou na multidão embalada e deixo-me contagiar, pelos atletas à procura do seu ritmo e pelo público que nos incentiva. E sinto cá dentro o verdadeiro privilégio de poder estar ali! Viva, com saúde para me propor ao desafio que vou vencendo passo a passo.

Pouco depois passa por mim o Fernando Andrade, vindo de trás. Vai bem melhor que eu, o que não é difícil hoje. "Força" digo-lhe para de seguida pousar os olhos nas costas da t-shirt que ele enverga e remeter-me ao mais profundo silêncio. Qualquer coisa como "Sempre presente Tomé", uma homenagem ao amigo que partiu inesperadamente em Maio passado, e que era também ele um pilar como membro desta Organização. Em silêncio, comovo-me e penso que devo sorrir, viver, usufruir com toda a alegria desta Corrida que posso correr! Era assim que o Tomé gostaria. E este ano o Fernando Andrade leva-o com ele a correr a prova toda! Comovo-me e sigo, triste e feliz ao mesmo tempo.

Pouco depois, todos já tomaram o seu ritmo e eu estou bem na cauda do pelotão. Começo mesmo a ponderar em desistir ao km 13, quando a prova passa pelo local da partida e meta.

Mas as Lampas é sempre tão...emocionante. Toca-me esta prova. Os vales, as descidas e as subidas, os chafarizes, os duches que a organização põe pelo caminho para a malta se refrescar ou mesmo a mangueira dos residentes que nos oferecem água para arrefecermos ao mesmo tempo que nos dão alento, com palavras, gestos e sorrisos. E sempre um "até para o ano" empurra-me" para a frente. Antes do km 10 sou obrigada a caminhar. E partir daí é um calvário. Os abastecimentos são suficientes e nada me falta. Força nas pernas talvez... Considero ficar pelo km 13...Avanço. O cronómetro, cansado, apaga-se. E remete-me à forma de correr de antigamente. Sente o corpo. Esquece o ritmo, liberta-te dele, dos metros, dos tempos, das marcas. Corre apenas. Sente! 

E senti! Senti que ia penar até à meta e assim foi! Entre corre e anda, lá alcanço o km 13, onde me liberto do relógio morto e o entrego ao meu pai e sigo ainda a correr. Ali, havia muita gente a ver, não podia caminhar. Depois, poucos metros à frente vejo-me obrigada a a parar. Caminho. Penso. Volto para trás? Não volto? Fico ali? Sigo? Bolas...mas não serei eu um atleta chegado à meta?! E mesmo caminhando, em exaustiva luta interna, lá vou seguindo e dali a pouco, já não há volta a dar. É continuar! Uma lástima! Bem que ouço o público...pena nas suas palavras, ou gozo talvez... "olha...já vai a andar outra vez...". E sim, não sou propriamente apologista de heroísmos que levam as pessoas de rastos até à meta num espectáculo doloroso, pouco digno e até humilhante. Correr não é isso. Mas...que sabes tu de mim? Que valor terá esta meta? Que batalhas vences dentro de ti? Sabes? E na força da minha certeza de querer alcançar aquela meta, sigo! Um passo de cada vez! 

Para ajudar à festa, uma revolução intestinal levou-me a procurar com um olhos e estudar minuciosamente durante longos metros uma boa moita para me aliviar. Ali não! Vem gente atrás (sim, ainda havia gente atrás!). Aqui também não, demasiado exposta! Talvez ali, oh não, aqui há casas e gente! Por fim, à medida que o assunto se tornava urgente, as exigências iam diminuindo significativamente e um muro baixinho que me deixava visível do tronco para cima, mesmo agachada, serviu perfeitamente! 

Aliviada a tripa, nenhumas melhorias nas pernas e a exaustão era tremenda. Mas segue! Segue!

E não fosse a minha cadela ter comido o 2ª par comprado dos calcanhares-palmilhas de gel que uso desde a Fascite plantar para acomodar o esporão no calcaneo que na altura ganhei e mantenho carinhosamente, e os estivesse a usar agora, talvez não me doesse o pé a cada passada. Talvez, talvez... Mas...segue!

O percurso, perfeitamente marcado, e com a segurança em relação ao trânsito devidamente assegurada pelas forças policiais, continua bonito e encantador. E eu, dolorosa e prazenteiramente, avanço, passo a passa!

Por fim, aproximo-me da povoação.São João das Lampas! Tão feliz por ver a placa! Lá consigo manter um passinho de Corrida e começo a avistar amigos. E o meu pai! Já me afloram todas as emoções à pele. Que significa isto? Que valor tem isto? Vou cortar esta meta! Sem dificuldade nenhuma, sai-me o sorriso, o sorriso, que aprendi ser uma das melhores coisas que temos para oferecer, para partilhar, para sentir e fazer os outros sentir. Tão simples e tanto num sorriso! Oferecem-me uma rosa com a qual corto a meta. Pequenos grandes gestos a fazerem-nos sentir especiais. E somos! Todos! Ali, em São João das Lampas.

Corto a meta, depois dos amigos me esperarem e fotografarem. Chego na 426ª posição, com 2h19m22s, num total de 440 atletas chegados à Meta. Que sentimento há dentro de mim: Gratidão! Tão só...Gratidão pela Vida!

Uma medalha muito bonita, de peso! A igualar a prova! Dura, muito bonita e com muita classe! 

Melancia, água, massagem, espaço para alongar e entregar prémios. Não pude ficar muito tempo que outras Corridas me esperam. O banho, que poderia tomar ali mesmo, nos balneários, foi tomado em casa, onde feliz reencontro os meus e a Vida segue. Corrida, como se quer e deseja!

Voltarei! Até breve São João das Lampas! E Obrigada por tudo! E MUITOS PARABÉNS POR ESTES 40 ANOS DE CORRIDA! 

Mais informações da prova:

No site da Organização, aqui

Na página Facebook da Organização: Meia Maratona de São João das Lampas - Grupo de Dinamização Desportiva




















Classificações, no site da Organização, aqui


FOTOS da 41ª Meia Maratona de S.João das Lampas

Pela AMMA, por Manuel António, a ver aqui

Por Armindo Santos, Abum 1, a ver aqui
Album 2, a ver aqui
Album 3, a ver aqui

Por Bernardete Morita, a ver aqui

Por Jaime Maurício, a ver aqui

Por Luís Duarte Clara, a ver aqui

A todos os fotógrafos, a perpetuar no tempo momentos especiais vividos, os meus agradecimentos pela dedicação e empenho! Muito obrigada!

2 comentários:

Fernando Andrade. disse...

Sem palavras, querida amiga. Adorei este delicioso texto e agradeço-lhe muito as lindas palavras que nos deixa. Que bom é saber que as Lampas lhe merecem uma consideração muito especial. Procuraremos nunca decepcionar quem nos quer bem. Muito obrigado, Ana. Grande beijinho.

Fabiana disse...

Parabéns pela prova e pelo excelente e comovente relato!
Já ouço tanto falar das Rampas, perdão, das Lampas, que um dia vou querer experimentar, assim que tiver mais pernas! :)