O cravo recebe-me quando abro a porta de casa, na jarra sobre a mesa da entrada. Junto com outros troféus daqui e dali, de muito especial significado cada um, por isto ou aquilo, como o cravo.
Correu junto comigo o cravo, da Partida à Meta, junto ao peito, algures entre o coração e o estômago. Entre o Amor e o Pão, direi, bens indissociáveis sem os quais não se vive de facto. O cravo ouviu o meu coração bater acelerado e feliz ao longo de 10.710 metros corridos entre a Pontinha e os Restauradores nesta que foi a 38ª Corrida da Liberdade no dia em que o 25 de Abril comemora 41 anos.
Demorei 57m38m para percorrer a distância do então Posto de Comando do Movimento das Forças Armadas a partir do qual se desenrolaram as operações militares no dia da Revolução de 1974, até à Praça dos Restauradores, hoje cheia de alegria.
Gosto de correr. Gosto desta Corrida. Carregada de simbolismo, de inscrição gratuita e oferta de muita alegria. As ruas de Lisboa para correr, seguras. Abastecimentos de água, uma t-shirt. Uma recordação: Abril! A marcar Abril. A lembrar Abril. A Liberdade. De correr também. Organizada pela 38ª vez, a ACCL - Associação das Colectividades do Concelho Lisboa, está uma vez mais merecedora de Parabéns. Centenas de pessoas comemoram assim Abril a correr, em Lisboa. Eu fui uma delas e para o ano conto lá estar de novo.
A minha prova e reflexões politicamente incorrectas:
A minha prova é única e de única, tão igual à de todos os atletas um dia.
Estou "parada" há muito tempo. Estive literalmente parada quase 4 meses, a tratar um tendão de Aquiles. A treinar (recomeçar a correr) há muito pouco tempo (desde Fevereiro), com as interrupções que sempre vão havendo, por doença ou desculpas esfarrapadas que sempre se poderiam contornar, mas não, desculpas que sempre nos dão jeito afinal para justificar o injustificável, mas ainda assim faço por estar presente nesta festa de Abril que é a Corrida da Liberdade.
E claro, jamais saí arrependida de me levantar cedo, sair de casa e participar numa Corrida. Lisboa convida. Correr pelo Campo Grande, Saldanha, Marquês de Pombal e ter aquela Avenida da Liberdade para nós corrermos não é coisa que se deva desperdiçar.
Revi muitos amigos, como sempre, e tive mesmo alguns parceiros por alguns metros de Corrida. Gosto. Compreendo hoje que esta amizade corrida é absolutamente ocasional. Dependente das circunstâncias, tal atleta que acompanhamos só porque nos dá jeito e/ou por coincidência tem o mesmo ritmo que nós. Não corro para fazer amigos nem sequer para conviver. Há rostos amigos e assim gosto de os saber: amigos. Não lhes peço mais, nem lhes dou mais. Há muito que aprendi que a Corrida que nos une não é suficiente para nos mantermos ou sequer nos chamarmos de amigos. Amizade é outra coisa. Corre muito para além da Corrida. E se é verdade que tenho Amigos que conheci e fiz a partir da Corrida, também é verdade que a maioria não passa de um rosto familiar de quem nada sabemos nem queremos saber. Sentimento recíproco. É a puta da verdade do maravilhoso mundo da corrida.
Reflexões à parte, gostei imenso desta Corrida. Saí de trás como quase sempre e mantive um bom ritmo a prova toda. Abordam-me durante o percurso (um outro atleta) para me falar deste pedaço de memórias, páginas rasgadas de uma mente perturbada a que chamamos de blogue e que uma personagem de nome Maria Sem Frio Nem Casa dá vida e continuidade. Parabenizam-me por relatos antigos e comovo-me. Recordo também eu essas passagens, o significado para mim que afinal também se estendeu a terceiros de forma tão marcante, sem eu o saber ou imaginar sequer. Coisas que nos fazem continuar. Um rosto amigo a ser lembrado amanhã.Obrigada.
Ao aproximar-me da meta, no meio de toda a adrenalina, a descer a Av. da Liberdade a todo o gás, há uma inquietação crescente e busco com os olhos o meu pai. Preocupo-me e busco-o. Em cada prova, mais.
E vê-lo assim no final, é e será sempre o meu melhor prémio ao cortar a meta depois de cada prova corrida: (obrigada Zé Gaspar)
Por isto, tudo vale a pena.
Algum congestionamento de atletas no final, para levantar a t-shirt e a garrafa de água mas bem melhor que no ano passado.
Saio de lá contente e feliz, para além de bem suada, como era minha pretensão. Viva o 25 de Abril e a Corrida da Liberdade! Para o ano lá estaremos. Certa e igualmente...entre Amigos!
Com o Filipe e a Henriqueta - Obrigada Henriqueta! |
Obrigada Filipe! |
Poucos metros depois da Partida |
Obrigada Eugénia! |
Obrigada Mário Lima! Também pela companhia naqueles metros! |
Obrigada Orlando Duarte! |
Com o Filipe, já depois da meta cortada |
E por fim...Obrigada Pai |
Fotos:
Pela AMMA - Atletismo Magazine Modalidades Amadoras, aqui
Pela Mafalda Lima, aqui
Por Marcelino Almeida, aqui
Por Mário Lima, aqui
Por Orlando Duarte, aqui
2 comentários:
Olá Maria Sem Frio Nem Casa (um título de blogue que desde sempre me captou a atenção e admiração pela sua simplicidade mas também pela sua mensagem de esperança mesmo para aqueles que têm frio e não têm uma casa onde morar, lutar sempre contra as adversidades da vida).
Foi um imenso prazer ver-te depois de tanto tempo de ausência e por uns momentos, breves mas bons, conversar um pouco contigo. Foi também aquela minha passagem no Campo Grande para tirar uma foto, pois seria mais uma foto ao acaso se no meio daqueles rostos incógnitos, não houvesse um rosto conhecido das corridas e das escritas de há muitos anos, o teu.
Foi bom companheira destas lides, ver que continuas na senda com textos maravilhosos e de uma dedicação sempre especial ao teu pai que vi quando cruzava a meta.
Continua Maria Sem Frio Nem Casa, por mais que não seja para espelhares aqui o que te vai na alma, tendo sempre o Cravo da Liberdade entre o coração e o estômago.
Tudo de bom
Parabens Ana, belo texto e bela prova.
A Ana merece tudo de bom. Bjns.
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