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segunda-feira, 26 de junho de 2006
Sentados à mesa do café, de olhos nos olhos, ela entusiasmada diz:
- Dia 9 vou à Serra da Freita! Queres ir? Podias ir! Ias gostar! Não queres ir? – a sugestão saiu espontânea e natural como era o brilho dos seus olhos quando falava de corridas e partilhava o seu entusiasmo na por vezes vã tentativa de transmitir aos outros o que sentia ela, contagiando-os.
- Ir…até podia ir. Até podia ir contigo… - diz o moço num misto de vontade e de falta dela – …mas depois…lá começava o outro outra vez a desconfiar, a ameaçar-me…essas coisas…
Ela, decepcionada sem surpresa, compreendeu e baixou os olhos, talvez para o não magoar mostrando a sua desilusão, ou talvez pelo contrário para dessa forma a acentuar:
- Pois….Claro…
Com os dedos delgados e compridos sensuais pegou na chávena de café e deu o último trago amargo e intenso, mudando de assunto, falando de nada.
- Tu já sabes, sou teu amigo – tenta remediar ele – Ajudaste-me quando precisei, por isso conta comigo quando precisares, já sabes.
Ela já sabia, e sozinha na mesa, sorri com tristeza.
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Ai, se nós não precisássemos de ninguém!
Se fôssemos independentes de tal forma, que uma total auto-suficiência de sentimentos e emoções nos chegasse para sermos felizes e estarmos bem!
Mas por mais que os outros nos passem ao lado, vivemos com os outros, e somos nós os outros para os outros.
É esta a nossa riqueza e a nossa perdição. A capacidade de sentir emocionalmente. O envolvimento e o sentimento que nos une, nos separa, nos ampara ou nos destrói.
Felizes os que se amam o suficiente para não precisarem de ninguém.
sábado, 24 de junho de 2006
Um adversário à minha altura neste momento: Ginja! Ainda não foi desta Ginja! Passaste-me na subida, mas depois foi ver-me voar por ti, que nem uma flecha! Claro que tive a ajuda da minha lebre!
A minha lebre nas últimas provas: Fonseca Santos... "obrigada Fonseca!"
Depois da prova, o almoço convívio
E depois do almoço, visita a padaria "caseira", escondida no quintal de uma aldeola, onde se pode comprar bom pão alentejano e bolinhos de fazer chorar por mais. Como é que se há-de emagrecer?
Ainda na Vidigueira…
A Vidigueira foi muito mais que uma Corrida. A Vidigueira para além da corrida em si, deu-me de novo a confiança em mim própria, no que sou e no que valho.
As pessoas que revi, que se mostraram reais e sinceras. Nos últimos meses muito tenho aprendido – aquilo que todos já sabemos mas que a melhor forma de aprender é passar por elas:
Os “amigos” que não o são. As duas caras e duas posturas: uma à nossa frente, e outra nas nossas costas. A imagem que se quer manter ao pé de nós, e a oposta quando não estamos presentes.
Hoje em mim, a desconfiança aguça-se e prima-se como nunca. Quando falamos raramente sabemos quem é a pessoa com quem falamos.
Amigos? Conto-os pelos dedos de uma só mão, e ainda sobram dedos.
O comportamento dos outros é coisa que nos ultrapassa. É pena e é triste é que as pessoas insistam em querer dar uma imagem do que não são. Mais genuíno seria retratarem-se ou então simplesmente absterem-se. Triste é quererem mostrar o que não são. E mais triste ainda é acharem-se mais espertos que os outros e acreditarem que podem manter duas posturas opostas consoante os interesses e saírem impunes, como se os outros fossem cegos.
Os amigos que o são (são?????) apenas quando julgam que de nós podem tirar benefícios. Os que alimentam o ego semeando palavras de um apoio que jamais tencionam dar.
É triste, imensamente triste…
Pouco resta…mas esse pouco que resta vale muito mais!
Mas nestes tristes episódios ganha-se também coisas boas! Pessoas que nos surpreendem. Pelo menos até ao dia em que hão-de falhar, como os outros.
Mas por vezes, no meio da tempestade, surge aquele alguém, e ainda mais aquele, que se mostra amigo, e que com o tempo quem sabe, conseguirá manter o estatuto.
Ontem, tive uma longa conversa ao telefone com….”um amigo”. Um nó na garganta, uma emoção revolvida e desenterrada das entranhas, uma comoção inesperada por descobrirmos o que valemos para alguém. O que a nossa postura vale, as nossas palavras, as nossas acções.
Tenho sido uma estúpida. O que valorizo, a confiança que deposito, as ilusões que creio reais.
Mas aprendo. Estou sempre a aprender. E não perdendo nunca a esperança no ser humano como ser racional capaz de amar, de se dar, ser genuíno, leal, fiel e coerente, assumido, quaisquer que sejam as circunstâncias, e não um verme viscoso e escorregadio que se contorce, esgueira e age conforme as conveniências e proveitos de que possa usufruir, aqui continuo eu, a escrever, a acreditar, a correr, a viver.
Por instantes de felicidade vale a pena continuar viva no meio da hipocrisia e da mentira que compõem o nosso mundo.
Como sempre tenho dito, se descobrirmos um único ser que valha a pena conhecer, que mereça a nossa sinceridade, sentimentos e entrega, não darei por perdido o tempo que gastei a descobrir centenas de vermes.
E se nos últimos meses conheci dezenas de vermes, também há esses seres que me fazem acreditar que vale a pena continuar neste mundo (no da Corrida e no outro)
E eu? Que sou eu para os outros? Não, não vou fazer a apologia de mim própria, usando palavras sem fim. Eu simplesmente, sou!
quinta-feira, 22 de junho de 2006
Em que nos sentimos quase derrotados
Resta-nos uma ténue esperança de conseguirmos resistir
De conseguirmos continuar a ter força
A força necessária para não sucumbir derreados
Aqui cá ando, mas... estão a dar cabo de mim... cabo de mim....e eu tenho deixado...
"Quer eu queira quer não queira
Esta cidade
Há-de ser uma fronteira
E a verdade
Cada vez menos
Cada vez menos
Verdadeira
Quer eu queira
Quer não queira
No meio desta liberdade
Filhos da puta
Sem razão
E sem sentido
No meio da rua
Nua crua e bruta
Eu luto sempre do outro lado da luta
A polícia já tem o meu nome
Minha foto está no ficheiro
Porque eu não me rendo porque eu não me vendo
Nem por ideais
Nem por dinheiro
E como eu sou e quero ser sempre assim
Um rio que corre sem princípio nem fim
O poder podre dos homens normais
Está a tentar dar cabo de mim
Cabo de mim"
Xutos & Pontapés
segunda-feira, 19 de junho de 2006
Voltando um pouquinho atrás…..
15 de Junho de 2006 – XX Escalada do Mendro – Vidigueira
Pela vigésima vez, realizou-se a Escalada do Mendro. Sou ainda do tempo de outros percursos e do injusto mas ainda teimosamente praticado por demasiadas organizações “Escalão Único” para a classificação das mulheres.
Hoje as coisas estão diferentes. A Escalada do Mendro integra-se no Desafio e no Circuito de Montanha. Tem uma Caminhada em simultâneo, provas para os mais jovens e dividiu o escalão feminino.
Organizada pela Câmara Municipal da Vidigueira com o apoio de Terras de Aventura, a XX edição foi uma prova muito bonita, bem cuidada e muito bem sucedida.
De inscrição gratuita, a prova bateu o record de participantes, que ultrapassou as 3 centenas na prova principal, e juntando ainda depois os caminheiros e os escalões jovens, foram sem dúvida mobilizadas para a prática do exercício físico umas centenas de pessoas.
Controlo à partida, três abastecimentos para uma prova dura de menos de 12 km foram mais que suficientes, apesar de no primeiro a água ter acabado antes de passar o último atleta, mas tendo em conta que esse abastecimento seria até dispensável, a falta não é grave, embora um pouco de água naquela altura e com aquele calor tivesse sabido bem. Restantes abastecimentos impecáveis, com pessoal bem organizado e solícito.
Percurso agradável bem sinalizado e policiado, segurança suficiente em relação ao trânsito nas partes de alcatrão onde o trânsito não foi completamente cortado. Uma boa parte do percurso em terra batida, com a novidade em relação à última edição, da descida ser também em terra batida, o que agradou a todos com quem falei e não foram poucos.
A chegada é feita sem problemas, a recepção é boa, e temos de novo água, e agora sumo, t-shirt e boné.
Balneários e piscina à disposição dos atletas.
É oferecido a todos um bom almoço: carne grelhada, pão, salada, vários tipos de fruta, e bebidas à escolha. O espaço é amplo e agradável debaixo de uns pinheiros.
A entrega de prémios é feita após o almoço no mesmo local. Atletas chamados ao pódio com o despacho suficiente e necessário, e são também sorteadas muitas garrafas de vinho da região entre todos os participantes. Um genuíno e salutar momento de convívio que foi proporcionado a todos os presentes que de certeza não deram por mal empregue a viagem até àquela terra alentejana.
É facultada de imediato a classificação a quem a solicitasse. Pessoal afável, simpático, modesto e acolhedor. Não estivéssemos nós no Alentejo!
XX Escalada do Mendro, uma prova que mostrou o que vale e que este ano atingiu um nível organizativo bastante elevado, que fazemos votos se mantenha por muitos e bons anos. A todos os envolvidos que de alguma forma contribuíram para a realização da prova, os meus Parabéns e até para o ano!
domingo, 18 de junho de 2006
Fim de Semana de 17 e 18 de Junho de 2006
O que se descobre a navegar por aí, pela vida…
Hoje poderia estar aqui a escrever de forma eloquente sobre a Corrida das Festas Cidade do Porto, prova em que estava inscrita e que com muita pena minha não pude estar presente.
Pois como nem só de Corrida vive a Mulher passei este fim-de-semana no Fórum Almada e suas imediações. No Fórum sim, mas não no comercial, que todos conhecem e frequentam, onde se compram marcas para nos rotularmos identificarmos.
Estive no Fórum Municipal Romeu Correia, a assistir a um espectáculo no Auditório Fernando Lopes Graça, em plena Almada.
E as coisas que descobri!
"Descobri" hoje Almerinda Correia e Romeu Correia. No átrio do Fórum, aguardo a hora de entrar para assistir ao espectáculo de dança em que a minha filha participa. E mente inquieta, decido saber quem foi Romeu Correia. E por ele chego a Almerinda Correia.
Amante da Corrida, surpreendida fico com o que descubro! E eu, a viver aqui, a correr aqui, e que ignorante sou!!
Obrigada a quem disponibiliza informação sobre estas duas ilustres figuras que viveram aqui tão perto, onde vivo eu, passo e corro todos os dias, nestas ruas de Cacilhas e Almada.
As lutas que travaram, as vitórias que alcançaram. O que usufruimos hoje, sem nos darmos conta do que custou aqui chegar...
E que ignorante sou...
Romeu Correia nasceu em Cacilhas em 1917 e faleceu em Almada em Junho de 1996.
Apenas com a instrução primária, não deixou que a ignorância o abafasse, nem a ele nem aos outros, pois procurou instruir-se, leu, e aprendeu, e sempre tentou o mesmo para os outros.
Ele intervém, mobiliza e começa a liderar o Movimento Associativo de Almada.
Em 1942 casou com Almerinda Correia, que durante o período da II Guerra consagrou-se por cinco vezes Campeã Nacional, no Lançamento de Peso, Disco e Dardo. Era uma atleta completa pois destacou-se também na corrida, saltos e arremesso.
Ainda na década de 40, ela e o marido, praticante de Boxe, criam no Almada Atlético Clube um núcleo de raparigas praticante de Atletismo. Um escândalo para a época e local, em contraste com a descontracção, alegria e saúde que as raparigas transmitiam a praticarem Atletismo de camisola de manga curta e calção de meia perna!
Em 1943, ainda em plena II Guerra Mundial, junto com um grupo de jovens anti-fascistas, Romeu Correia funda a Biblioteca Popular da Academia Almadense e reorganiza a da Incrível Almadense.
Em várias colectividades promove recitais e conferências.
Em 1947, edita o seu primeiro livro “Sábado sem Sol”, revertendo os lucros para as tesourarias da Academia e da Incrível Almadense.
A PIDE alertada então para as características das suas obras: Generosidade, preocupação com o próximo, intervenção social e luta contra a exploração e a tirania, tenta apreender a edição de 1500 exemplares, mas pouco mais de 50 conseguiu apreender.
Duas figuras absolutamente admiráveis: Romeu Correia e Almerinda Correia! Conheci-os hoje, apesar de já não estarem entre nós. Mas o que eles foram e fizeram continua entre nós. De forma inequívoca!
A Liberdade que temos, as opções que são nossas, a livre expressão de opinião, de sentimento, de ideias, pela palavra, pelo corpo, pela atitude!
Sinto que tenho ainda muito para aprender, para ver, para sentir, para dar!!! Sinto que o tempo que me resta não é nada! A Vida tem tanto para nos dar e nós tanto para darmos! E nós por vezes (a maior parte das vezes) esquecemos e desperdiçamos. Estúpidos que somos...
Uma vontade louca de Viver invadiu-me. Por instantes senti que é bom estar Vivo! Que o Sol brilha, que há uma Vida para mim!
Hoje estive no Fórum a assistir ao espectáculo de dança da Companhia de Dança de Almada. Uma demonstração das várias classes e dos vários estilos. Gostei muito. E não tendo mais palavras, uso as de outro, com todo o merecido respeito:
“A arte não é o adorno da boa sociedade, mas sim a expressão freemente da vida.”
Fernando Lopes Graça
Cá fora o futebol: Portugal - Irão: Cristiano Ronaldo faz o 2-0!!! A massa agita-se, explode num frenesim de alegria e extâse.
Lá dentro, outro e o mesmo mundo:
E eu, como já disse, nem só de Corrida vive a Mulher, e troquei rapidamente o fim de semana no Porto (Corrida das Festas Cidade do Porto) tão só...e apenas ...por isto...
Amei!
sexta-feira, 16 de junho de 2006
Enquanto não me chega a genica e a inspiração para escrever algo (do imenso que se poderia dizer) sobre a XX Escalada do Mendro, Vidigueira, onde tive o privilégio de participar ontem, estou para aqui a ruminar pensamentos menos bons e com uma vontade danada de devorar chocolate preto. Ou de leite, ou branco, ou com avelãs (o meu preferido) ou uma mistura de todos. Ainda não sei se chegarei até final do dia sem cometer o pecado.
Sim, porque comer chocolate é pecado! É especiaria digna de deuses e seus filiados. E eu, simples mortal, não sou nem uma coisa nem outra.
Mas um pedacinho só… Ai, um pedacinho só não faz mal, pois não? Tenho direito ao verdadeiro néctar dos deuses, eu sei que tenho, mas outras crenças, ou antes outros factos, me dizem que não devia. É-me desnecessário e nada benéfico.
"Comes mais do que corres…" – ecoa-me na cabeça a frase proferida ontem e a mim dirigida com toda a veracidade, enquanto devorava eu uma bifana ainda quentinha e bem grelhada a escorrer o suco da carne para o pão caseiro alentejano, duas fatias generosas que nos deixam farinha à volta da boca após cada dentada gulosa.
Pois é, por isso é que estou como estou, e ainda desejo e penso comer chocolate negro delicioso.
Água na boca. É com água na boca que fico.
E fico assim a sonhar depois dos teus olhos me fixarem por instantes, num abraço furtivo, numa carícia disfarçada, pois sei que esse olhar existe ainda para mim, mesmo que não venha de ti.
Mas foi bom voltar a sentir os teus olhos pousados em mim. Deu-me forças para continuar a acreditar que essas coisas ainda existem, até para mim.
Ah, acho que agora vou até ali dar uma dentada no chocolate que me tenta só porque existe. São assim, as coisas boas da vida.
terça-feira, 13 de junho de 2006
Sentados no café diante de uma chávena agora vazia, escrevendo nele eu, e o meu caderno de capa negra à minha mercê. Meio cheio, meio vazio, à espera o meu caderno de capa negra.
Não tão negra como os corvos que esvoaçavam à nossa frente no treino de hoje. Por trás das árvores eles saíam e descarados e negros como os melros cruzavam o nosso caminho grasnando.
Por duas vezes passamos por um coelho. Não podemos garantir que fosse o mesmo coelho. Apenas estava na mesma área do primeiro que vimos, e reagiu da mesma forma em ambas as vezes. A menos de dois metros e de costas para o trilho onde seguíamos, voltou a cabeça à nossa passagem, viu-nos com os seus olhos negros, mexeu as narinas e deu dois saltinhos para a frente sem nunca nos perder de vista.
Quando ali voltamos a passar, a cena repetiu-se e eu trouxe comigo o seu olhar negro, vigilante e atento, mas sem medo! Corajoso coelhinho!
Há pinhas e caruma dos pinheiros caído pelo chão. O sol escondido realça ainda mais o cheiro dos pinheiros que nos acompanhou ao longo dos 45 minutos de treino. Pequenos desníveis dão-nos um treino vivo e a terra batida amortece-nos o impacto do nosso corpo pesado em cada passada que damos.
Obrigada Santo António por permitires estes prazeres aos Lisboetas num dia de semana.
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- O quê?! A Maratona em Outubro em menos de 4 horas?! Você?!
- Sim, eu!
- Desculpe-me menina, mas…você não tem corpo de atleta…desculpe mas vou dizer-lhe isto…é um elogio e uma crítica…desculpe-me desde já…mas você está…redonda! Quer dizer…como mulher está muito bem, não me leve a mal, mas como atleta… A Maratona em menos de 4 horas daqui a 4 meses?! Mas nem pense nisso! Não se meta nisso!
- Quer apostar?! E olhe, esta mulher redonda à sua frente vai continuar Mulher mas menos redonda e atleta o suficiente para em Outubro fazer a Maratona em menos de 4 horas! Quer apostar?!
Não, ele não quis apostar. E ainda bem, pois ainda ia ter pagar a aposta… porque se é um facto conforme os meus amigos comentaram na altura, ele não me conhece, não sabe do que eu sou capaz quando quero e acredito que vale a pena, e nessas circunstâncias eu consigo o que seria pouco provável, também é um facto que as circunstâncias de momento não são bem essas.
domingo, 11 de junho de 2006
Domingo, 11 de Junho de 2006
Grande Prémio de Atletismo S. Vicente de Fora - LISBOA
Não é todos os dias que se anda a aquecer à volta do Panteão Nacional.
Exactamente essa obra magnífica que se pode considerar a 1ª Igreja Barroca em Portugal, com origem em 1568, sendo depois roubada e destruída e nada tenha sobrado dessa igreja original, mas o projecto como conhecemos hoje data de 1683 e é da responsabilidade do arquitecto João Antunes, que à data da sua morte, viu ainda a sua obra idealizada muito longe de estar acabada, passando por várias mãos e retrocessos dos quais destaco o Terramoto até ser finalmente acabada já em meados do séc. XX, tendo sido respeitado no entanto o traço original do projecto, assistiu hoje pela 12ª vez à prova de Atletismo organizada pela Junta de Freguesia de S.Vicente de Fora.
Lisboa, essa mulher que se nos oferece com toda a sua beleza e onde todos os dias penetramos e saímos sem reparar na sua beleza!
Alfama enfeitada para o StºAntónio já amanhã à noite. Hoje palmilhamos as ruelas vazias mais coloridas pelos enfeites em papel. Stº António e as sardinhas assadas vendidas a preço de ouro aguardam-nos amanhã.
Hoje correu-se por ali. Uma prova de Atletismo que se faz há doze anos e que a organização nos indica, grata com a nossa presença, que a meta se situa entre a tampa de esgoto na estrada e o candeeiro. Este ano não houve dinheiro para uma lata de tinta, desculpa-se quase envergonhado um elemento da organização.
Sorrio. Nós sabemos que estas realidades existem, até em Lisboa e não apenas na aldeia penalizada pelo isolamento lá para Trás os Montes! Mas por vezes esquecemo-nos... Hoje fui recordada.
O percurso, para além do carro da organização que ia à frente, era explicado pessoalmente antes de cada partida. Uma volta pequena mais uma volta grande obrigaram-nos a subir e descer de forma bem violenta. O piso em paralelepípedos extremamente polidos e irregulares não ajudaram em nada. A distância entre 3 a 4 km foi o que nos safou.
Vários escalões, policiamento, ambulância, água em abundância e balneários à disposição dos atletas no final da prova.
Partidas dadas em separado pelo que se destaca a monstruosa diferença do números de participantes da prova principal (Seniores) e dos mais jovens, em relação à prova dos/as veteranos/as. Um problema que não é novo mas que tarda em solucionar-se.
Taças e troféus em quantidade e qualidade para distribuir pelos vários escalões. A distribuição dos mesmos foi feita com despacho e sem problemas. Um dos elementos da organização, enquanto distribuía os prémios sustinha entre os lábios de forma natural uma beata. Sinceramente não sei se mais alguém achou aquilo absolutamente fora do contexto, ou se teria sido só eu…
Reparei que os poucos atletas presentes eram diferentes do usual. As roupas, o calçado, o modo de falar, de gesticular, até as características físicas denunciavam um estrato social baixo. São na sua maioria moradores da freguesia.
Para mim, que já não sou nova nestas coisas, foi uma experiência absolutamente nova. Lisboa capital de Portugal e o Atletismo… Uma visão do que existe.
sábado, 10 de junho de 2006
viagem: Fernando Colaço e Fonseca Santos
I GRANDE PRÉMIO DA ARRÁBIDA – 1ª Versão
Sábado, 10 de Junho de 2006
Imagino! Imagino meu rosto cansado, vermelho e redondo, de bochechas gordas e reluzentes sob o sol, o suor e o esforço. E sorria eu ao conquistar o castelo de Palmela. Sorria para as pessoas que nos batiam palmas por termos conseguido chegar ali. Sorria porque estava feliz. Mesmo com aquele repugnante aspecto, estava feliz.
- Isto custa! – diz uma senhora que assiste e desta forma nos demonstra como nos valoriza o esforço.
Estive hoje no I Grande Prémio da Arrábida! Maravilhoso! A imposição do ritmo lento por duas Lebres não se fez sentir dado o meu muito próprio ritmo lento.
Saímos de Setúbal e seguimos na cauda – local onde agora sou sempre encontrada, e de onde dificilmente saio.
Vários amigos encontrados, e a conversa serve-me para esquecer o esforço com que me desloco.
A Serra. Ali está ela à espera que a amarinhemos. A Subida da Cobra! Uma verdadeira serpente se enrosca na serra e seguimos nós no seu dorso, serpenteando, ondulando sob o calor, até atingirmos o topo! Mas pelo meio faltaram-me as forças a mim para transportar a bagagem extra que levo (peso) e caminho.
Mas azar! Os meus amigos que me acompanharam desde o início da prova, dão pela minha ausência rapidamente e ao voltarem-se para trás, vendo-me a caminhar, não é que resolvem vir “buscar-me”?
- Oh, não! Assim sou obrigada a correr….
- E não foi para isso que vieste? Para correr? Vá, deixa-te de manhas! Vamos embora!
Senti-me perfeitamente resgatada e uma força invisível faz-me retomar o passo de corrida e assim sigo até ao topo. As coisas que fazem a Amizade e a Solidariedade…
Palmela! A conquista! O sorriso! A Felicidade! A Meta volante Sálvio Nora lá estava e eu passei-a feliz! Sem prémio, sem auge, mas só feliz! Foi suficiente!
Depois, a descida em alcatrão em que me sinto recuperada para logo a seguir enfrentarmos outro animal: A Descida da Lagartixa. Um caminho de terra batida com uma inclinação agreste ameaçando uma queda valente. Travões bem afinados para aguentar este peso todo embalado foram necessários e os ténis lá se aguentaram para me manter na vertical e chegamos os três à cauda do bicho, sãos e salvos! A descida continua mas agora já suave e agradável.
Metros antes da meta percorremos um jardim “a corta mato” mas muito bem sinalizado, e corto a mesma com 1h14m42s!
- Obrigada rapazes! Sem vocês ainda estaria a esta hora perdida na serra a cavalgar a serpente!
sexta-feira, 9 de junho de 2006
Armadilhas
Pela savana ela corre veloz, num ritmo acertado, o corpo esguio em cada passo evidenciando os músculos bem definidos sob a lustrosa pele dourada, num constante vai vem das patas certeiras.
Ligeira, veloz, elegante, bela, perfeita na paisagem da sua cor. Suave e eficaz ela avança sem olhar para trás, parando por momentos para sorver tudo o que a rodeia, atenta e segura, olhando em frente.
Da sua longa e extensa experiência, sabe já reconhecer e evitar a maioria das armadilhas do seu único inimigo nesta selva. Mas por vezes ainda é por muito pouco que escapa, arriscando-se a ficar enclausurada para sempre, onde nunca mais os que a amam saberão dela e os seus rugidos serão inúteis pois ninguém a escutará.
Várias vezes caiu, várias vezes se levantou, ficou presa num emaranhado de redes mas aprendeu a livrar-se delas, foi ferida e muito sangrou, arrancaram-lhe a pele e espetaram-lhe vários punhais no dorso, punhais esses que espetavam e eram retirados para logo a seguir voltarem a cravar-se no animal ingenuamente confiante no Homem errado, mas com isto tudo aprendeu a reconhecer o cheiro do inimigo, a adivinhar os seus passos e estratagemas. As armadilhas por ele colocadas ao longo da caminho ensinaram-na a prever a próxima jogada dele, o próximo passo, a forma de actuar, de pensar e actuar.
Muito pouco a surpreenderá.
Corre perigo, mas nem por isso deixa de correr!
quinta-feira, 8 de junho de 2006
A Caçada - Parte I
Que todos os animais e todos os Homens se acautelem.
Ela anda à solta, buscando carne fresca para se alimentar.
Instintos naturais há que saciar e a leoa vagueia por aí, farejando ao longe corpos quentes, prontos a servirem com sua carne, sangue, suor e sémen as necessidades do animal mais temido da savana.
Há também crias a alimentar e o animal feroz levanta a majestosa cabeça, movendo as narinas subtilmente, sentindo algures num lugar longínquo o inequívoco odor que a atrai e amedronta ao mesmo tempo: o odor do Homem. Parte em sua perseguição. Poucos escaparão à sua passagem. Deu-se início à caçada!
terça-feira, 6 de junho de 2006
3ª feira, 6 de Junho de 2006
Ser. O que somos. O que gostávamos de ser. O que parece que somos. O que queremos fazer parecer que somos. Uma infinidade de situações muitas vezes difíceis de conciliar.
Coerência é uma das características que mais admiro no Ser Humano, e por consequência, a Incoerência uma das que dificilmente suporto, logo a seguir à Falsidade e à Hipocrisia.
Tudo características dos humanos. Um sem número delas faz cada um de nós ser o que é. Ser!
“Mais vale ser que parecer” é um dos muitos provérbios que uso e abuso.
Ontem estava infeliz. Hoje estou feliz. Apetecia-me usar o verbo em inglês (To be = Ser ou Estar, como se estes dois verbos tivessem rigorosamente o mesmo significado) e exprimir-me da seguinte forma, que neste caso melhor define o estado:
Ontem fui infeliz, e hoje sou feliz. São assim os momentos, uns a chorar, outros a rir. E os momentos fazem as horas, as horas os dias, os dias as semanas, as semanas os meses, os meses os anos, os anos a vida, ou seja: os Momentos fazem a vida!
Amigos. As características e consequentes actos dos indivíduos podem torná-los ou não, nossos Amigos.
Hoje elogio aqui a minha Amiga Teresa, porque ao longo destes anos todos, com ela chorei, com ela aprendi, com ela cresci, e com ela ri. E o processo continua! Porque assim como no Amor, na Amizade não pode haver estagnação. É um constante caminhar.
Que esta longa e nem sempre harmoniosa Amizade, continue por muitos e muitos anos até sermos velhinhas e uma de nós partir ficando não só no coração da outra, mas em tanto e tanto que já marcamos uma à outra ao longo da vida. Marcas que jamais se apagarão. Uma grande parte do que eu sou hoje, devo-o à Teresa.
Ao contrário do que às vezes parece que quero fazer parecer, não estou só. Nem pouco mais ou menos! Tem destas e de outras coisas os meandros da mente humana…
segunda-feira, 5 de junho de 2006
5 de Junho de 2006 Fim de Fim de Semana
Estás feliz meu amor, e por isso eu fico menos infeliz. É a isto que se resume a vida hoje.
Tudo o resto é literalmente paisagem. As pessoas que sorriem afáveis ou ríspidas e carrancudas, o Sol que teimo em não deixar entrar em casa, os carros que passam, os pássaros que esvoaçam rasteiros junto aos nossos pés nesta rua deserta. Deserta porque estamos sós. Irremediavelmente sós. Tudo acontece absolutamente indiferente à nossa figurinha. E o fim é certo. Por momentos não encontro razões para insistir neste jogo, onde por vezes ganho, por vezes perco, se já sei que no fim das contas, o balanço é sempre negativo. Porque é que eu nasci meu Deus? Como queria acreditar num deus. Queria mesmo. Num deus qualquer para poder rezar e sentir-me acompanhada. Invejo a simplicidade e inocência dos crentes. Mas eu não. A penitência dos ateus é mesmo esta. Irremediavelmente sós a chorar uma dor sem esperança de dias melhores. Só podemos contar connosco. Só e sempre só connosco. E as forças faltam. E os Homens falham, e resta muito pouco. Quase nada.
A Corrida pode desempenhar o papel da religião. A ela me agarrei muitas vezes como tábua de salvação, como outros se agarram a um Cristo crucificado. A devoção e entrega é a mesma. A intenção também, mesmo que a maioria não tenha consciência dela.
Pensar demais. Racionalizar demais. Queria ser mais simples e apenas viver.
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Ontem, domingo, fui à Corrida do Oriente. É a segunda vez que participo nela. Não sei porquê mas esta corrida tem qualquer coisa que não me cativa, ou falta-lhe qualquer coisa para me cativar.
O empedrado das ruas, o sol forte sobre o alcatrão e o próprio percurso levam o pelotão a seguir pelos passeios, numa autêntica corrida de obstáculos: bocas de incêndio, canteiros, ferros para impedir o estacionamento, bancos para as pessoas se sentarem, árvores, etc. A impressão com que fiquei o ano passado repetiu-se este ano. 10 Km (seriam?). Com tanto possibilidade de se cortar caminho, duvido que a prova tenha 10 km, e é missão da organização evitar estas situações, pois é sabido que o atleta legitimamente segue a linha mais curta para atingir a meta. O acesso aos largos passeios não lhe devia ser sequer permitido. A juntar a isso, uma nítida má marcação dos kms durante o percurso, e eis que chego à meta com 54m52s. Foi um belíssimo treino pela companhia dos colegas de corrida durante o tempo todo, e do magnífico Tejo durante escassos metros.
De forma semelhante ao ano passado, não gostei. E duas vezes já chega. Não tenho intenção de lá voltar.
sexta-feira, 2 de junho de 2006
6ª feira, 2 de Junho de 2006
6ª feira. Fim de tarde quase. Ainda um dia por acabar. Mas hoje é já 6ª feira e a semana foi tramada.
Esta semana perdi uma excelente oportunidade de praticar uma qualquer modalidade que se situa entre o duatlo e o triatlo, e que consistiria numa alternativa/solução à travessia do magnífico rio Tejo, que se impõe no meu caminho quando todas as manhãs tento chegar ao emprego e à tarde no regresso a casa.
Pois a Transtejo esteve em greve em horas específicas, e o rio ficou mais triste nessas horas, sem os velhos cacilheiros e os novos katamarans.
A natação seria sempre uma opção, naturalmente considerada pelo patronato em geral, que obviamente nada tem a ver com as talvez justas reivindicações dos funcionários da Transtejo, e consequentes atrasos de uma grande parte da população que trabalha em Lisboa.
A juntar às pequenas contrariedades descritas acima, uma auditoria na empresa onde trabalho, e tudo o que isso implica antes, durante e depois, ajudou à festa e tive uma semana daquelas...
O que vale é que hoje é ... 6ª feira!!!
E durante a semana valeu também a quantidade de visitas e de comentários de pessoas neste blog. Pessoas essas, queridas algumas, verdadeiras algumas, fictícias algumas, sinceras algumas.
Aproveito para agradecer aqui as palavras de todos, pois sem elas o blog não teria atingido 96 visitas num único dia.
Bom fim de semana a todos os que me lêem, independentemente do que pensem de mim.
quinta-feira, 1 de junho de 2006
Ainda a Estafeta de Palmela
Descobri a Estafeta de Palmela. Foi na sua 9º edição e que se realizou no dia 28 de Maio de 2006.
Reuniu no total 112 equipas, cada uma composta por 4 elementos.
Organizada pelo pessoal do Bairro Alentejano, com o apoio da Câmara Municipal de Palmela e do Inatel, entre outras entidades, esta é sem dúvida a melhor e mais participada estafeta realizada em Portugal.
Com transporte assegurado dos atletas para o local de transmissão e regresso, a prova este ano consistiu em 2 voltas, sendo o local de partida e chegada, também o início do 3º percurso, em vez de ir ao Castelo de Palmela e voltar como em edições anteriores, o que implicava dificuldades acrescidas em termos de controlo de trânsito, pelo que em termos de segurança esteve esse ano impecável.
Abastecimento no final de cada etapa. Controlo e condições minimamente suficientes nos locais de transmissão, o que foi dificultado pelos próprios atletas. Elementos da organização espalhados por todo o percurso garantiram as condições de segurança e de sinalização ao longo do mesmo.
Balneários à disposição dos atletas. Almoço convívio para todos, depois do qual se fez a entrega de prémios.
O calor abrasador que se fez sentir, e que se foi agravando pela manhã fora, obrigando atletas do 3º e 4º percurso a correr sob um sol escaldante entre as 11 horas e o meio-dia, não foi suficiente para que esta 9ª edição não fosse um sucesso, e talvez a melhor edição da prova que promete melhorar ainda mais face ao vigor desta gente que merece toda a confiança de patrocinadores. É uma prova para crescer, e provavelmente na próxima edição as inscrições terão de ser limitadas para se garantir a qualidade que já atingiu.
Com a honrosa participação de Alberto Chaiça, a prova foi também uma autêntica festa da Corrida para todos, onde o atleta popular é a vedeta.
A par da Estafeta, desenrola-se também uma Mini Estafeta, que sem prémios monetários este ano, teve uma participação reduzida face a anos anteriores.
Há pontos a melhorar, que passo a nomear. A existência de prémios alternativos ao dinheiro que possam cativar os escalões mais jovens e levá-los a participar, seria uma melhoria significativa. Também a colocação de casas de banho no local de transmissão é um ponto a considerar para as próximas edições. E se a organização disponibilizasse água antes das partidas no local de transmissão (fora da localidade) e onde os atletas são deixados com alguma antecedência, tal decisão também seria bem vinda.
Um outro ponto que viria melhorar bastante a prova seria a atribuição da tradicional t-shirt como prémio de presença a todos os participantes, ou outro prémio, independentemente da classificação obtida, o que não aconteceu.
A Estafeta de Palmela na sua 9ª edição atingiu um patamar de qualidade bastante elevado. A organização está de parabéns, pois soube angariar os meios necessários para oferecer uma excelente prova a 448 atletas e um excelente convívio a mais de mil pessoas.
Classificações:
Estafeta:
Masculinos
1º Conforlimpa 1h07m47s
2º G.D.R.Reboleira 1h10m33s
3º Serv.Soc.Cult.C.M.Palmela 1h11m22s
Femininos:
1º Clube Veteranos do Lis (Leiria) 1h33m36s
2º Ass. Morad.BºCasal Figueira 1h42m03s
3º Grupo Recr. Quinta da Lomba 1h45m42s
Mini Estafeta
Masculinos:
1º G.D. “O Independente” (Barreiro)
2º Assoc.Rec.Soc.Cult. Toledo (Vimeiro)
3º Ass. Dadores Sangue Pinhal Novo
Femininos:
1º Clube do Sargento da Armada (única equipa participante)