Há sempre uma infinidade de possibilidades. Em cada dia que nasce. Em cada madrugada em que por felicidade ou desespero, voltamos a despertar do sono, inconsciência inútil (do ponto de vista de estarmos a desperdiçar a Vida enquanto dormimos, dirão os mais entusiastas, embora necessária e imprescindível para o nosso descanso e bem estar), ou pelo contrário uma silenciosa e deliciosa dormência, docemente apaziguadora e libertadora.
Podemos esconder-nos, destruir-nos devagar ou depressa, e ainda assim subsistir, firmes embora frágeis. Podemos abandonar-nos e desistir por completo ou ao contrário da percepção de olhos alheios desconhecedores, continuar de pé, seguir em frente em lutas ganhas em dolorosas e árduas batalhas. Vivos.
Trail de Montejunto, 24 de Abril de 2016
Só porque me levaram. A Maria, sim a Maria. O seu entusiasmo levou a que me inscrevesse. Ela iria caminhar e eu correr. Correr...ironizarão alguns. Pois, o Trail na minha óptica é correr sempre que posso, e caminhar sempre que o desnível ou a dificuldade técnica assim me exijam. E não me importar com isso. É gerir o esforço e usufruir. Da Natureza, da Terra, do Céu, de mim mesma e da preciosidade do meu corpo saudável, da Vida. É interiorizar o que me rodeia, é fazer parte desta Terra. De saber o meu lugar. É respeitar. É resistir. E usufruir. Usufruir ao máximo. É isto o Trail.
A prova, tinha a versão de Caminhada e um Mini Trail com a mesma distância (9Km), um Trail Curto, com 21 e a prova maior com 38. Desnível acentuado e tinham os 21 (a minha prova), cerca de 1200 m de acumulado positivo. Mesmo sabendo da escassa preparação alinhei na Partida dos 21.
A prova é dura, mas a Serra de Montejunto, implacável, deslumbra-nos com a sua magnitude e beleza. Pedra, muita pedra. E verde.
Sozinha, depois reencontro o Juca e o Jorge, ficando este para trás pois parecia estar (ainda) pior que eu. Faço o resto (certamente mais de três quartos) da prova com o Juca. O nosso ritmo estava muito idêntico (ou o Juca disfarçou, mas acho que não) e seguimos na conversa quando o fôlego não faltava, a trote e a caminhar também.
Subir ao ponto mais alto da Serra de Montejunto (660 metros) é maravilhoso. Tudo o que nos rodeia a lembrar-nos de como somos pequenos diante da imensidão do mundo. E ainda assim, podemos fazer tanto.
O tempo está bom. As nuvens que cobriam a Serra ao início da manhã depressa se dissiparam e a prova decorre sob um Sol primaveril. Há imensas flores espalhadas pela Serra. Há verde e há pedra, muita pedra.
Os abastecimentos são perfeitamente ajustados ao desafio. Poderiam melhorar? Poderiam. Mas não encontro neles razão de queixa. Relembro que o meu desafio era "só" de 21 km.
Vamos avançando no terreno, passamos muito perto do local da Partida/Chegada (junto ao Quartel) e seguimos. Só me ocorre pensar que a Serra de Montejunto é muito bonita. Como achas todas as Serras e Montes diria uma amiga, depreciando a ideia. Talvez, talvez o sejam, mas esta é onde estou hoje e sinto-me maravilhosamente bem. Sim, mesmo apesar do peso que carrego e das dores no calcanhar. Parece que me arrasto penosamente, dirá facilmente quem vê. Talvez sim, o corpo, mas a alma vai tão leve como esse passarinho que esvoaça bem perto das nossas cabeças.
Termino a prova e corto a meta com 20,610 Km percorridos em 3h59m14s. Fui o 167º atleta a cortar a meta de um total de 187, de acordo com as classificações que podem ser vistas aqui, no site da Organização.
O meu pai sempre presente dá-me alento e a Maria, que "me levou" a ter esta manhã fabulosa, lá estão na meta. Não sei se lhes agradeço claramente. Mas estou grata. Muito grata por os ter. Ali e na minha vida.
Há que tomar banho numas instalações inundadas e de água bem fresquinha. Depois, temos o almoço, incluído na inscrição. Muito bom. Frango assado e acompanhamentos.
Por essa altura aparece o Magro. Amigo que tinha partido para a prova grande mas que acabou por a encurtar que o corpo nem sempre nos responde como queremos ou como até pode estar preparado para tal, mas tem os seus dias e as suas condicionantes. Fico contente por o ver, um pouco triste por ele tão ter acabado a sua prova mas feliz por o ter ali. Come-se, convive-se e está na hora de partir. Uma manhã muito bem passada, resumidamente foi o que foi.
Além de tudo isto, a Organização pediu um contributo (leite e bolachas) para o projecto Lancheira Escolar, que visa ajudar as crianças carenciadas do concelho de Alenquer, o que é sempre de realçar e valorizar, e conseguiu uma boa recolha.
Parabéns à organização e a todos que tornaram possível este evento proporcionando nesta manhã uma vivência espectacular a centenas de pessoas e que já tem data para a próxima edição: 23 de Abril de 2017, conforme anunciado no facebook da prova, aqui
Vamos lá outra vez?
A minha prova, versão Trail Curto, pode ser vista aqui, registada pelo Strava
FOTOS: