Alma, UHF. Lê-se, como se quer. Como se quer e como se é capaz. Como a alma nos permite, com as portas abertas que tem e que se quer abertas. Lê-se com os olhos da cara, com a frieza da razão ou com o coração.Ou por inteiro, com o âmago do nosso ser. Com Alma UHF. Academia Almadense, 7 de Dezembro de 2019, 41 anos de UHF Em 50 anos de Vida, a minha, 41 de UHF, o tempo de carreira UHF, a mesma admiração e o mesmo encantamento, agora multiplicado pela maturidade que a vida dá, pela passagem dos anos. Dos anos e dos danos que a vida nos faz. É uma vida, é uma constante na vida, namoro eterno, não sem arrufos e afastamentos, mas também e sempre com novas aproximações, relação fortalecida em cada novo reencontro, na certeza de uma relação eterna, de notas soltas intrínsecas ao meu ser, a moldá-lo ao ponto de se fundir nele, fazer parte dele. Melodias várias a embalar a minha vida. Um toque de amor, de pureza, admiração e deslumbramento próprio de uma miúda de 14 anos, a replicar nos anos que se seguiram, até hoje, com outra maturidade, outra visão, mas sem dúvida o mesmo encanto e prazer, acrescido de uma admiração adulta, séria e solidificada. Portas que mantenho abertas, à Vida, ao Amor, à Amizade, ao Prazer e à Música em que me deixo embalar, que me faz pensar, agir e libertar! Foi assim a 7 de Dezembro em Almada. Um jantar de amigos, mais de 50, a encherem o restaurante, pouco em comum a não ser esta paixão, e com ela arrastadas tantas outras coisas, muitas delas por descobrir. E o concerto foi bestial. Onde não foi possível ficar sentada na cadeira. Onde tivemos de saltar e pular e cantar, e libertar-nos de dores (das mais variadas que se possam imaginar) e dos medos e dos fardos, a acompanhar cada tema com a força de uma nação inteira. Saí de lá rouca de tanto cantar a plenos plumões, mas feliz, tão feliz como nunca. Claro que ter a companhia da minha miúda foi peça chave no jogo. No jogo desta noite, a escrever páginas felizes na enciclopédia da Vida. A única preocupação era aguentar de pé e garantir que a perna se aguentasse sem ir abaixo. E aguentou. A aguardar o bisturi e novos medos e batalhas da vida, a "perna de pau" aguentou-se como devia, a permitir-me viver o momento como único que é! De joelhos no chão à beira do palco, "olhos fixos à procura do profeta da rebeldia", hipnose perfeita a tentar guardar imagens para além da memória. E o baterista é sempre tão difícil de guardar na foto do ctelemóvel barato... Desculpa lá Ivan... A noite foi bestial, soube-me pela vida, e é disto que a vida também é feita, energia e alegria, a carregar baterias para o resto dos dias... Obrigada UHF!
A música, as palavras, a rima, a melodia, o manto mágico que emerge da voz do artista, da alma do poeta, carregado de sentido e sentimento, a assentar em nós como uma luva numa ou outra fase da vida da gente. Como se nos conhecesse e desse voz à nossa alma, com a precisáo de um cirurgião. Sempre foi assim comigo e sempre assim será. Porque não vivo sem elas. A Música e as Palavras.
Por hoje, Sérgio Godinho: "Há-de ser mais claro
tudo um dia, vais ver
tudo nos lugares
que tu separares
entre
o tanto que há pra viver
Por agora é tudo
confusão, tempestade
grita no mar alto
dança no asfalto
cruza
os dias da tua idade
É a vida
o que é que se há-de fazer?
é a vida
o que é que se há-de fazer
Viver!" Sérgio Godinho, "É a vida o que é que se há-de fazer"
Agosto de 2019 Trabalhamos. Fazemos parte desse grupo, felizardo e sortudo que tem um trabalho, um ordenado fixo mensal, descontos, taxas e impostos impostos e trabalhamos. Por norma, oito horas a cada vinte e quatro, cinco dias por semana. Com mais ou menos afinco, com mais ou menos motivação e realização, com mais ou menos entrega, com mais ou menos justiça e com mais ou menos reconhecimento. E porquê? E para quê? Para comer! Comer pão com manteiga e amendoins e cerveja, que podemos comprar quase todos os meses. E pagar os estudos aos filhos e o tecto da casa. E somos assim felizes, tantas vezes. Não sempre, é certo, mas muitas vezes, pois a felicidade está apenas no momento e nada mais existe. E trabalhamos onze meses e planeamos as férias grandes, a gozar uma vez no ano! Em "grande" se for possível. As férias! E se fingimos ser ingénuos e acreditamos que a maior das pessoas fica feliz com a nossa felicidade (que ridícula infantilidade...) é com prazer que anunciámos que vamos de férias! Fazemos planos, partilhamos para onde vamos, o que faremos, etc, e por vezes quase acreditamos mesmo, que a maior parte das pessoas que nos rodeia fica feliz por nós. Não fica, já sabemos, mas teimosamente continuamos a acreditar que sim. E continuaremos a acreditar. Teimosa e infantilmente, continuaremos a acreditar. Assim, eu, como o comum dos mortais pertencente a este grupo, fiz planos. Amealhei. Poupei afincadamente. E anunciei aos sete ou oito ventos que ia de férias. Estava tão feliz! E em cada Verão, são gravados dois ou três Cd´s para se ouvir no carro, durante a viagem. Este ano, havia também o CD da mãe, com temas escolhidos para acompanhar a viagem e acompanhar o Verão. Temas escolhidos pela mãe, para a mãe. Entre eles, boa parte do último trabalho da Lena d´Água "Desalmadamente", que me delicia a cada tema. E a viagem de ida teve além das músicas da filhota, este ano teve também o CD da mãe! E como foi feliz essa viagem. Entre o calor do asfalto, as filas de trânsito e os disparates partilhados, ansiosas por chegar. Às férias, tão desejadas e prometidas. Nós,a cadela e as porquinhas e as nossas músicas como banda sonora do que prometia ser o mais belo filme de 2019. Depois, ao segundo dia de férias, num lugar paradisíaco, cá dentro, mesmo aqui ao lado, um azar acontece. A avó cai e não se levanta mais. Fractura do colo do fémur, foi o diagnóstico. A partir daí, as férias foram absolutamente estrondosas, como podem imaginar. Mas a música, ai a música, melodia e palavras, foram a companhia, foram o abraço e o conforto, foram a confidente que permiti ver-me chorar completamente despida dentro do carro, num CD demasiadas vezes repetido nas viagens que se impunham entre as "férias" e o Hospital... Obrigada Lena d'Água e Obrigada Tânia Patrícia, porque tudo isto é verdade e porque me inspiram! E porque me ensinam, mostram e demonstram que cada palavra, cada gesto e cada atitude nossa, mesmo sem nos apercebermos, pode fazer diferença na vida das pessoas. E faz! Obrigada.
Hipocampo Eu vou a caminho, vou
e vou do inicio
ori ,ori, xá
chá e bolinhos
ai coitadinhos
dos meus gatinhos, ó
eu vou a gozar
o ar, o ar, da voz
Sou do hipocampo
e há tanto campo em mim
estou a ir, meu anjo
Ando louca para te
fazer um tchim tchim, ai ai
Eu vou a caminho, vou
e sigo o instinto
ora, ora, ção
são dez e meia
encho a aldeia
de macaquinhos, ó
vou inflamar
o mar, o mar na foz
Sou do hipocampo
e há tanto campo em mim
estou a ir, meu anjo
Ando louca para te
fazer um tchim tchim, ai ai
Eu vou a caminho, vou
vou sem destino
tino, ino, cente
Sente o sinal
no mapa astral
dos gambuzinos, ó
eu vou a tornar
o ar o ar em nós
Como se fosse possível, depois da tua partida inesperada,
tentámos manter alguma normalidade e aproveitar as férias, o espaço e as
pessoas. Tal como tu gostarias que fizéssemos e como me recomendaste com amor, repetida
e insistentemente, alternando com pedidos de desculpa, ainda deitada na maca
naquele escuro corredor de Hospital, a tremer descontroladamente, sem qualquer
conforto ou fármaco para te aliviar as dores.
Assim, a par das viagens de 500 km para te visitar, com a
preocupação acrescida da eventual falta de gasóleo nos postos de abastecimento,
com que a comunicação social fazia questão de nos bombardear até à ridícula
histeria colectiva, continuámos a usufruir das férias. Da piscina, da Sol
quente, do descanso deitados na relva à sombra das árvores, da boa comida, da
companhia dos que restavam connosco, enfim…da Vida, e claro que a Corrida não
podia ser excepção. Lugares novos, com caminhos para explorar, como eu adoro.
No entanto, confesso que a vontade era pouca e o cansaço do corpo não
convidava.
Mas contrariando as "desculpas",
numa manhã, depois de escassas horas dormidas, depois dos pequenos almoços tratados,
compras feitas e almoço adiantado, lá me empurrei, equipei-me e saí para a rua
a correr!
E surpreendentemente (ou não), apesar dos caminhos secos e poeirentos,
do Sol abrasador, do asfalto a queimar os ténis e a devolver o calor à atmosfera
em ondas turvas à vista, corri com o original e genuíno prazer que a Corrida
sempre dá. A liberdade e o prazer de estar só comigo mesma, necessidade que se
impunha há muito, foi maravilhosa. Como banho de renascimento. Como baptismo
repetido e ainda assim reinventado, cada vez que corro. Apenas os montes em meu
redor, um ou outro cão ao longe, a guardar o seu monte, os olivais por onde me
aventurei, a proporcionarem algumas sombras, a sinfonia das cigarras que
claramente cantam com outro timbre no Alentejo, os rebanhos deitados à sombra
dos sobreiros, a paz, a plenitude, e eu e a Corrida. Naqueles minutos, nada
mais existe e de nada mais preciso. Momentos divinos estes os oferecidos pela
Corrida, de forma singela e a encerrar neles tanta beleza. Assim, a passo de
caracol, na imensidão do calor e paz deste nosso Alentejo, usufruí. Da Corrida
e da Vida.
Poucos quilómetros corridos, mas regresso à casa como nova. O
corpo, mais bronzeado, a luzir de suor sob o Sol escaldante, mais torneado e
firme, sob a ilusão que a Corrida nos dá, mais forte, cheio de energia, invencível
até, tal é a sensação ilusória que a Corrida nos dá. Mas claramente, sem
qualquer ilusão, mais feliz, mais segura e cheia de ânimo!
Uma alegria espontânea,
quase infantil, apodera-se de mim. Recebem-me com alegria na casa,
especialmente a cadela que não pára de abanar a cauda e de me lamber o rosto e as
pernas, não como manifestação de afecto como gostaríamos de pensar, mas porque
a transpiração lhe deve ser algo bastante apetecível ao paladar, enquanto alongo. Rio. Faz-me
rir a cadela. Faz-me rir a Corrida. Fazem-me rir os meus que me esperavam à
beira da piscina, onde e com quem, depois de um duche rápido, partilho mergulhos e brincadeiras com alegria e uma
energia que não sentia há muitos dias, no que se hão-de transformar mais tarde, em boas recordações destas férias.
E num mergulho, de corpo totalmente imerso a deslizar nas
águas azuis refrescantes, relembro-me que a Meia Maratona de S.João das Lampas
está aí à porta e que eu estou inscrita!
Agosto de 2019...lá para dia 6, 7, 8, 9 e seguintes...
Todas as manhãs, invariavelmente entre as seis e as sete, com os primeiros raios de luz e o cantar do galo, acordávamos cansadas. Noites mal dormidas, preocupadas, a deambular como fantasmas pela casa, com eles, percorrendo corredores infinitos, mal iluminados por candeeiros velhos decorados com teias de aranha, a produzir sombras fantasmagóricas pelas paredes, para ir à casa de banho, onde claramente nos sentíamos observados e vigiados, mas espantosamente sem medo. De coração aberto, só próprio de quem está ali e na vida, por bem, o medo nunca fez parte da equação. Afinal os invasores éramos nós e os espíritos só guardavam o que a eles pertencia. As aves nocturnas raramente nos davam o desejado e necessário silêncio nas longas noites, emprestando à noite um misticismo quase aterrador, e o nascer do dia era sempre por isso, muitíssimo bem-vindo.
A necessidade de manter uma normalidade rotineira, mesmo quando acabaram de nos tirar o tapete dos pés e caímos desamparados no chão, imperava, e assim, eu e tu meu amor, aos primeiros raios de luz de cada manhã, saíamos da cama. Enfiava umas calças de ganga, uma camisola e uns ténis, prendia o cabelo e afagava-te o pêlo, ainda sentada na sanita, eu, mas já acompanhada de ti meu amor, que me seguias agora pelo corredor infinito, em silêncio, enquanto o resto da casa dormia ainda.
Depois, íamos até à porta da rua, onde eu, ainda cá dentro, de joelho lixado, com dores a fazer adivinhar uma lesão qualquer que se há-de manifestar, me sentava no chão de pernas abertas e te pedia para te deitares entre elas, e então, te protegia a ligadura da tua pata partida e que não se podia molhar na geada da noite na erva do jardim, com uma peúga grossa, um saco de plástico para impermeabilizar e outra peúga para não escorregares. Por fim saíamos. Acompanhadas, sentia-o bem. Sem qualquer necessidade de medo. E o que nos recebia era sempre assombrosamente belo. O Sol no horizonte, a romper, ou apenas a sua luz quando as manhãs eram cinzentas acompanhadas de bancos de nevoeiro junto ao solo. No entanto, as aves recebiam-nos com uma alegria estonteante e contagiante. Estávamos vivos e a Vida é tão rica e valiosa! Andorinhas, pardais, rolas, e ainda uma ou outra ave nocturna que atrasada era surpreendida por nós e depressa se refugiava . Os sons, os cheiros e o cenário que me era oferecido nessas manhãs, presentes de valor inestimável, são inesquecíveis e apesar de tudo o que de menos bom se passava, sentia uma gratidão tremenda, repetida sem cansaço ou enfado, todas as manhãs, talvez pelo simples facto de constatar que estava viva e que o que mais me importa na vida, estava ali, cabia dentro da algibeira e não precisava de mais para estar grata e feliz.
Dávamos o nosso passeio madrugador pelo monte, surpreendíamos as rolas no seu banho matinal, as andorinhas e os pardais numa chilreada que me fascinava de forma pura e genuína e me surpreendia ingenuamente apesar de se repetir todas as manhãs. De forma irrepetivelmente bela! Manhãs de Sol, de nevoeiro ou mesmo de chuva. Espantosa e com tanto para nos ensinar, a Natureza! E eu, do alto dos meus cinquenta anos, ainda com tanto para aprender...
Contavam-me segredos as aves, segredos que o meu coração ouvia e com eles me fortalecia.
Entre as ervas e a palha molhada, as aranhas fizeram as suas teias durante a noite e algumas maçãs caíram assim como algumas ameixas e figos.
A nossa volta, normalmente, consistia numa visita às sebes que ladeavam a piscina, onde enfiavas o teu focinho e farejavas sofregamente em busca de algum animal, alimentando a esperança que uma distração dele te permitisse apanhá-lo, o que nunca aconteceu, claro, porque tu, meu amor, és uma pateta como eu, apenas curiosa e ávida de descobertas. Também as enormes oliveiras, abandonadas no meio do terreno mereciam sempre a nossa visita. Triste, uma casa na árvore, meia destruída e partida agora, chorava à nossa passagem, mas no entanto parecia agradecer-nos a visita e prometia ainda dias felizes por aqui.
Fazias as tuas necessidades e eu alimentava as minhas. Enchia o coração de paz e de harmonia. Apenas contigo e a Natureza. Enquanto todos ainda dormiam a havia verdadeiramente paz, aqueles momentos ao nascer do dias foram o que me deram alento para o resto das horas dos dias e para todos os outros dias que por lá passámos. E para agora. Tem este condão a Natureza. Com a sua espantosa simplicidade, equipa-nos com o mais forte escudo e torna-nos o mais destemido guerreiro.
Voltávamos para casa, mais leve tu, e mais leve eu, apesar de carregar na bagagem experiências e vivências impossíveis de pôr no papel. Ainda assim, ficam por aqui os registos numa tentativa de eternizar as emoções vividas.
Depois de comermos, ficávamos por ali as duas, a aguardar que os outros acordassem e tu, a aguardar que a relva secasse para poderes por fim, pisá-la à vontade.
Capítulo XII ou XIII ou outro qualquer no adiantado da história
Céu
===
Mais ou menos por volta de 21 de Agosto de 2019, as palavras
Enquanto, ajoelhada no chão, te lavo os pés ensaboando meticulosamente
o espaço entre os dedos com a suave espuma do sabonete, dizes que quando eu
morrer vou para o Céu, apesar de saberes que a minha fé no divino é nula e que no
que acredito mesmo é que o Céu é estes dias que temos o privilégio de viver
aqui na Terra, exactamente neste momento em que me lês, apesar de raramente estarmos
conscientes disso.
Assim como o Inferno, não duvido que está aqui mesmo na
Terra, mas como quase tudo depende do que fazemos com ele, do que fazemos dele. A
nossa vida ou…aproveitar as brasas e fazer uma bela sardinhada.
Depois de teres sido levada pelos Bombeiros, depois da noite
mal passada, a saber tão pouco de ti, agarrados à tua camisa de noite e à fé que sendo tua, pedimos emprestada e nos foi concedida e nos deu alento, o dia amanheceu como sempre amanhecem
todos os dias: cheio de promessas e incertezas. Mas cinzento. Cinzento e triste. Tão triste, tão triste que juro que até o céu chorou. Lágrimas grossas, pesadas e silenciosas. Sem ti, nós preenchemos o dia com
um esforço fora do comum. Os dias e os espaços preenchidos, ainda mesmo quando
nada mais podíamos fazer que esperar para saber exactamente o que se estava a passar
contigo e o que iam fazer contigo.
Aproveitar era o mote. Aproveitar! Disseste. Frisaste. Apelaste
com a tua voz dócil e debilitada. E nós ouvimos. E os nossos corações ouviram também e
mesmo apertados, muito apertados, aproveitámos e preenchemos os espaços e os
dias.
Mesmo sem Sol, mesmo sem certezas, porque na verdade as certezas não passam de uma mera ilusão para além do exacto momento em que vivemos, exactamente este em que escrevo e exactamente este em que me lês, mesmo sem tranquilidade, preenchemos os
espaços e os dias. E no cinzento do dia, demos por nós a sorrir… Continua...
Capítulo VI ou VII, ou outro qualquer, já no adiantado da
estória…
Agonia
13 de Agosto de 2019
A face esquerda espalmada contra a tijoleira fria do chão
sujo da casa de banho.
Estranhamente, essa frescura no rosto e a proximidade do
chão, onde frequentemente se avistavam a passear aranhas peludas e centopeias
de tamanho generoso, eram-lhe sensações agradáveis.
O corpo, em posição fetal,
agonizava e contorcia-se levemente. Os espasmos no estômago sucediam-se e a
dor, a agonia, o medo, até agora disfarçados, vinham ao de cima. Sem uma
lágrima vertida desde o incidente, com sorrisos forçados para manter a
normalidade possível de quem goza as férias com alegria, como a Mãe gostaria de
os saber e também por isso se esforçaram. Mas agora, após o telefonema
recebido, a líder da matilha caía por fim. O nó no estômago e na garganta,
contido há dias, assim como o choro, soltava-se agora, enquanto agonizava de morte
no chão daquela casa de banho, após receber a notícia para a ir buscar ao
Hospital.
A Mãe tinha alta, e a partir de agora nada mais havia a fingir.
Acabaram-se definitivamente as férias e nova batalha estava prestes a
iniciar-se.
Por fim, o vómito libertou o corpo, em espasmos violentos e sucessivos
até nada mais haver para expulsar, e as lágrimas libertaram a alma. Como purga
tomada, o corpo e a alma tudo expulsaram. Mais leve, levantou-se, lavou a cara,
vestiu-se, meteu a roupa espalhada, na mala, mesmo sem a dobrar, e fez-se à
estrada, a desejar muito que o gasóleo que tinha no carro chegasse para a levar
até à Mãe e depois para voltar quando tivesse de vir buscar o resto da matilha.
Ao todo, não seriam muito mais que 500 Km e talvez os efeitos da greve dos motoristas
de matérias perigosas não a impedisse de cumprir a sua missão.
O lugar aguarda-te, vazio agora. Bem viva a memória desta manhã
de Sol, em que pela primeira e última vez te sentaste à beira da água e com
suavidade e carinho, esse mesmo carinho e amor raramente verbalizado e nem sempre
manifestado ao longo da vida, te espalhei o creme protector nas pernas e com as
mãos em concha trazia a água até aos teus joelhos, deixando-a escorrer depois
para voltar à imensidão do azul da piscina e te refrescar. Gesto repetido
sem cansaço ou enfado, sem saber ainda que não se repetiria este Verão, recompensado neste intante com o amor, a felicidade e a gratidão do teu olhar.
Deleitaste-te com a sensação e o momento. Raridade na tua
vida de oitenta anos. A frescura da água, o sol quente e a brisa morna, o riso
e a alegria dos teus a chapinhar na água azul sob o Sol brilhante. Brilhante como o teu olhar e o sorriso no
teu rosto nessa manhã a ver-nos divertir. Memória inapagável de momento impagável.
Vazio agora o lugar. Sem ti. O lugar e eu. Vazia. E perdida. A falta faz-se sentir. A falta entrou na casa e ocupou o teu lugar â mesa. Ocupou o teu lugar no jardim, na mesa de jogos e à beira da piscina. A falta esmaga-me o peito. A falta asfixia-me e a falta dói. Ainda
se tu estivesses aqui para me dizeres o que fazer, se tu estivesses aqui para me
iluminares e dares sempre uma outra visão das coisas e uma orientação lúcida e
sensata. Ainda se tu estivesses aqui nesta casa estranha que não
nos quer…Ainda se tu estivesses aqui Mãe...Mas tu já não estás e no teu lugar está apenas a Falta...
E quando o "plano" te dita outra coisa qualquer, mas tu vais a mais uma aula de Hidrocycling, sais de lá sempre revigorada e muitas vezes até renascida, e desculpem-me a banalização da palavra, mas é como de facto muitas vezes me sinto: renascida! Não é o poder magnânimo do Mar, mas é certamente o da Água e do Amor. Quando em Dezembro passado me retiraram as veias safenas(fui operada às varizes) e a minha amiga Sandra me sugeriu ir experimentar as aulas, achei uma excelente ideia para a situação em que me encontrava, a recuperar da operação, mas confesso que achava que só ia exercitar as pernas, que seria excelente apenas para as pernas e para a situação específica. Não imaginava o quão enganada estava! Não só as pernas mas todo o corpo é exercitado, e sais de lá com uma sensação de tareia geral, muito descontraída física e mentalmente.Trabalho aeróbico de baixo impacto (embora cada imponha a sua própria intensidade, pela genica com que pedala e se empenha na aula), sem qualquer sobrecarga para as articulações, melhora a circulação sanguínea e a condição cardiorrespiratória, trabalha todo o corpo e é muito relaxante a nível muscular, já para não falar no comum a todos os exercícios físicos, sem por isso deixar de ser extraordinário, poderoso efeito a nível mental, melhorando a saúde dos participantes, lembrando que Saúde é bem-estar físico, mental e social, e nisto, o Hidrocycling, preenche perfeitamente todos os requisitos para o considerar fundamental para a minha saúde e perfeitamente encaixado dentro do "plano", fazendo parte dele. Estou fã e aconselho a todos! E tu, já experimentaste? Ou achas, como eu antes de experimentar que é uma actividade "levezinha" e que só vais trabalhar pernas?
Faltam 12 semanas para a Meia Maratona de S.João das Lampas, que acontecerá a 7 de Setembro de 2019 Embarco neste desafio e abro de novo o velho diário de bordo, como fazia dantes e me dava um prazer bestial. A partilha das parvoíces, da evolução e dos retrocessos, fora as vezes em que a missão era abortada pelo meio, com a visita da amiga frustração que aparecia sempre, de braço dado com o desânimo e logo seguida de perto pela tristeza e amargura. Volto a abrir o caderno de capa preta, empoeirado agora, sopro o pó acumulado pelos anos, e inspiro decidida. Ligeiro ataque de tosse pelo pó espalhado pelo ar, e motivada, pego na caneta. Silêncio e vazio. Ainda saberás escrever? E Correr? As folhas em branco parecem perguntar-me. 1º dia da 1ª semana/12 Semanas O que me vai na cabeça: Decisão de participar Melhorar a forma até ao possível, a que me permita Correr os 21.097,5 metros com muito prazer e alegria, o que só será possível se treinar de forma consistente, o que para mim é um verdadeiro desafio. O que faço: 1001 planos de treinos analisados, desde há várias semanas. Uma amálgama de teorias, das baratas às caras. Tudo misturado, incluindo as minhas próprias teorias e a prática acumulada ao longo dos anos, e sai um "plano" de treino muito "à minha maneira". E neste 1º dia, dita o "plano" que não há treino. Aconselha-se dia de descanso, mais propriamente uma tarde relaxada na relva. Plano plenamente cumprido!
2º dia da 1ª semana/12 Semanas Dita o "plano" Corrida contínua de 7 Km de distância. Cumprido, como se vê:
E como te sentes, pergunta o diário. Bem, satisfeita com o treino, mas cautelosa. Este plano à maneira vai ter de ser continuamente ajustado, à evolução, às dificuldades, aos imprevistos. Enfim, o costume, aquilo que já sabemos tão bem. Continuação de Bom domingo e boa semana para todos, com ou sem planos. Por aqui vai-se seguir o plano e as actualizações serão transmitidas consoante o tempo e a vontade.
O 7º Trilho das Lampas realizou-se no passado sábado, dia 11 de Maio de 2019, e eu, estive lá!
Este ano com uma novidade (entre outras): para além da Caminhada e do Trail propriamente dito (cerca de 24 Km este ano), decorreu também o Trail em versão curta (15 Km), o qual em boa hora surgiu e assim me permitiu continuar a ser assídua participante neste Trail, que já vai na sua 7ª edição e no qual estou desde o início. Nada de especial, como verdadeiramente especial poucas coisas o são nesta vida, subvalorizadas na maior parte dos casos (ou tardiamente valorizadas) e que estão bem arredadas do mundo da Corrida. Ainda assim, porque este Trail me é verdadeiramente especial, e se mistura com valores sólidos como amizade, consideração, muita admiração, respeito e carinho pelo seu mentor, o amigo Fernando Andrade, sinto-me muito feliz e até sinto um pingo de orgulho por estar lá desde a 1ª edição e poder continuar a sentir-me uma felizarda e abençoada por isso. Haja vida e saúde e assim continuarei enquanto a Vida pulsar em mim! Se haviam algumas dúvidas sobre o sucesso da prova, especialmente pela introdução deste ano do Trail Curto, e também da alteração do percurso, finda a mesma, facilmente constatámos pelos relatos dos que lá estiveram que a organização esteve muito bem e que no geral ninguém saiu de lá defraudado. Confirmamos que as marcações estavam irrepreensíveis, a medalha era muito bonita, como sempre, assim como o percurso, (isto de começar de dia e acabar de noite, com o pôr-do-sol pelo meio dá um toque e sabor muito especial à prova), o levantamento de dorsais decorreu sem quaisquer complicações, t-shirt também bonita, a segurança ao longo do caminho esteve impecável, bons abastecimentos, com incentivo à diminuição do uso do plástico, pois cada atleta tinha de levar o seu recipiente para abastecer-se de água (não havia garrafas de plástico), no fim, sopa, bolinhos e fruta, depois de uma meta cortada no relvado do largo e medalha colocada ao pescoço, os resultados saíram rápidos e um certificado de participação foi disponibilizado a todos os finalistas. Foi esta a 7ª edição do Trilho das Lampas e está uma vez mais a organização: o Meia Maratona de S. João das Lampas - Grupo de Dinamização Desportiva, em parceria com a Sociedade Recreativa, Desportiva e Familiar de S. João das Lampas, de parabéns! Acrescente-se que este ano, a prova contou com o suporte técnico da WeRun, e estava integrada no Circuito Lisboa Trail de 2019. São dados e factos que se encontram com objectividade e fazem desta prova uma prova de sucesso, que cativa os atletas e cumpre parâmetros que satisfazem simultaneamente atletas de elite e atletas que fazem do Trail e da Corrida, uma forma de estar na Vida, simplesmente pelo prazer e pelas vivências experimentadas. Muitos Parabéns à Organização e venha de lá a 8ª edição, que eu lá estarei de novo! E agora, a minha prova... Ah pois, a rapariga tem coisas que não lembra a ninguém. Corre há mais de 40 anos, já fez praticamente todo o tipo de provas. Claro que não corre "nada" mas experiência não é propriamente coisa que lhe falte. Em tão longo período à volta da Corrida, muitas fases passou e eis que chegou aqui e agora, 50 anos de vida, cansada um pouco mas ainda mexe. Confesso que descurou um pouco a preparação. Ai ele é isto, agora é aquilo, veio de uma operação onde lhe tiraram as safenas, perdeu peso, ganhou peso, perdeu peso, treinou bem, treinou mal, sentiu-e animada e forte e também fragilizada e completamente podre. Um jeito nas costas, umas dores danadas, treinos interrompidos, hoje sim, amanhã não. É o carrossel da vida a girar sem parar. Vai montada a galope num cavalo alado para logo de seguida se apear e seguir numa pileca magra mas de sorriso de ouro! Está na partida do 7º Trilho das Lampas! Para sua sorte, esta edição proporcionou uma versão curta (15 Km) e ela pôde ir fazer que corria, ao invés de ter de aceitar que, tristemente, só estaria preparada para a Caminhada. Manias... A coisa começou logo menos bem quando saiu de casa e verificou que o relógio/gps não tinha carga. Pensava que tinha carregado...Errado! Não tinha! Depois, segue-se o frontal. Pensava que tinha pilhas novas...Pensava...Errado! Não tinha! Pois, é verdade...a pensar morreu um burro! Gaita! Hoje o burro é ela! Mas o trail é o curto, pensa, talvez nem precise de frontal, pensa, uma vez mais, como o burro, num optimismo exagerado e fantasioso. Assim, apresenta-se nas Lampas, sem ter cumprido o devido cerimonial que qualquer pileca que corra, cumpre minuciosamente. Ela...sente-se cansada desse cerimonial...Ou da vida. Ou simplesmente não teve tempo, que ocupou noutras coisas, mais ou menos importantes, depende dos valores de cada um...Nada de preparar equipamento com antecedência, nem o saco para depois, nem o cinto com o recipiente para a água, que era fundamental para repor água nos postos de abastecimento...,nada!. O carrossel gira a 1000 à hora e ela em 5 minutos prepara (?) tudo e está a caminho de S.João das Lampas. Mas porquê?! Porque a Vida é isto: um Carrossel a girar sem parar e por vezes só temos mesmo de nos deixar ir, bem agarrados ao melhor cavalo de olhos assustadoramente arregalados que nos transporta na vida! S.João das Lampas está cheia de atletas. Reencontra alguns amigos, levanta o dorsal, que tão bem lhe fica, com o seu nome impresso e o contacto da organização. Pelo picotado, separa a "senha" que lhe daria direito à sopa no final, que oferece ao pai, que ali ficará a aguardar a sua chegada e no entretanto poderá aquecer-se com a sopinha de legumes que estava tão boa, veio a saber. Ela, dispensa-a sempre ao pai, pois também sabe pela experiência que após a chegada dificilmente o seu estômago aceitará alguma coisa. . Com o dorsal, vieram umas lembranças e a t-shirt que ela veste por baixo da sua, pois verifica que a noite está fresquinha por ali. Mais uma vez, um excesso de confiança por ir "apenas" fazer o Trail Curto, fez com que menosprezasse os cuidados que deveria ter tido e claramente ir fazer a prova só em t-shirt, sabendo ela que haveria períodos obrigada a caminhar pela noite dentro, era uma imprudência. E assim, desnorteada e arrepiada, lá alinhou na linha de partida, com um breve mas agradável aquecimento orientado pelo atleta, esse sim, Atleta, Paulo Guerra. Partida dada e segue feliz. Depois do beijo ao pai, corre feliz pelo relvado, como fosse ela serpente a deslizar natural e delicadamente no solo. Isto é como ela se sente, porque verdadeiramente, mais parece um bisonte no meio da manada. Sensações tão boas quando corre! Depressa entra no terreno que ama, Solo, Terra! E o aroma! Oh meu deus o aroma! A vegetação! O moinho. A Terra. O percurso tem uma parte diferente das anteriores edições. Riachos, pontes e escadas! Sim, escadas, e cordas nas partes mais inclinadas. Aqui a medricas, que diz que gosta muito de Trail mas é uma desajeitada de primeira, agradece! Senão ainda lá estaria a esta hora a estudar os melhores sítios para colocar os pés.E as mãos. E o rabo! A chegada à praia faz-nos passar bem junto à azenha. A praia! O Sol a pôr-se quando ela lá chega. Sublime. Sempre. A Vida na sua simplicidade, aparente repetição que não é mais que uma renovação, um começar de novo, sempre! A saída da praia. A subida íngreme mas a proporcionar-nos vistas arrebatadoras. De novo terreno para correr. E ela corre. A querer despachar-se para não escurecer já. Lembra-se da parte final das edições anteriores em estradões largos de terra mas com iluminação eléctrica. Esquece-se que está num versão nova. E dá por ela a enveredar-se no meio da mais densa vegetação, pareceu-lhe! É noite já! Elementos da organização (Bombeiros?) avisam-na para ter cuidado, há aí à frente muita pedra, muita pedra! Oh...se há! E árvores! Árvores no caminho dela! Ou é ela que está no caminho das árvores?! Vai só! Às "apalpadelas"! Ela, a noite e os ramos das árvores que lhe tocam, provocando-a "porque não trouxeste frontal mulher?!" e dão gargalhadas estridentes as árvores. As árvores... indiferentes ao medo dela, divertem-se e riem-se. De vez em quando um atleta passa por ela, iluminando um pouco o caminho, e sim, lá estão as setas em material reflector, para que ninguém se perca. Mas ela, sem luz, não vê nada. Segue muito devagar, a passo de caminhada, e as costas queixam-se quando o solo está mais abaixo do que ela supunha e o passo parece cair em falso. Sabem como é? Quando pensamos que o chão está aqui e afinal está mais abaixo e sentimos aquela falha nas costas, como se algo se quebrasse? Até que de repente no meio da escuridão, há umas pequenas luzes, ali, à frente dela, piscando, indicando o caminho, pois permitiam-lhe ver as setas reflectoras. Que era aquilo? um atleta mais à frente? Mas virado para ela? Virado para trás?! Sem saber, seguiu as luzes que seguiam as setas, agora visíveis. Seguiu assim, em perseguição das luzinhas que piscavam, sempre alinhadas com as setas, uns valentes metros. Até que se apercebeu! As luzinhas que lhe indicavam o caminho não eram mais que pirilampos! Que assim, no meio do nada, dos troncos traiçoeiros, dos ramos manhosos e da total escuridão, acompanharam a rapariga e lhe indicaram o caminho por dezenas de metros. Sinais da vida. Sinais de vida. A seguir sempre! Depois as rãs. Um coaxar ensurdecedor, ao longo do caminho. Ela, a noite, as rãs e a vegetação. Isto de caminhar em plena escuridão tem também o seu encanto. Tenta rir-se mas está quase à rasca! O ritmo até para caminhada era agora muito lento. É passada por vários atletas, por ali desde o km 11,5 ou 12... em que a noite se instalou. Não há desespero nem medo. A rapariga apenas se dá. Vive as circunstâncias, aceita-as e avança como pode. Momentos longos de introspecção e de vivências verdadeiramente especiais! Até que de novo passa por um elemento da organização (ou Bombeiro) que a avisa "cuidado, muito cuidado aí à frente, e você sem lanterna, tenha muito cuidado". A palavra fez-lhe luz! Estupidamente, constatou que apesar de não ter frontal, ela tinha "lanterna"! A palavra! A palavra faz a diferença! Lembrou-se que apesar de todas as imprudências, ela levava o telemóvel, e o telemóvel, carregado esta manhã, tem lanterna! Literalmente, fez-se luz! E a partir daí a prova transformou-se de novo! Agora iluminada! Pela sua "lanterna! Usou as mãos, segurou-se onde foi preciso, avançou mais rápido, apesar da exaustão já não lhe permitir correr mesmo quando o terreno o proporcionava. Há troncos de árvore a obstruírem o caminho. Baixa-se. Passa-os por cima alçando a perna. Transpõe-os. Agora iluminada, a prova faz-se muito melhor. E se ela estivesse melhor preparada até poderia correr nalgumas partes. Já não sabe em que km vai, mas segue agora com outro ânimo e vivacidade. E de repente dá por ela num relvado macio (teria chegado ao céu?) plano e ladeado de archotes mágicos com as suas chamas magníficas. Alguém, sim, aqui já parece haver público, lhe diz que são só mais uns metros e ela corre, corre por entre os archotes, elevada a um patamar e dimensão extrassensorial compreensível por poucos. Estava de facto a chegar a S.João das Lampas. É verdade. Estava a chegar à meta. De 15 Km percorridos, "apenas". Viagem maravilhosa que este 7º Tilho das Lampas lhe proporcionou... Sim, entra no relvado, já no largo de S.João das Lampas, agora de novo em passo de Corrida e corta a meta, vencedora! Sim, vencedora! De dúvidas, medos e fantasmas! Vencedora! Depois de uns escassos e meros 15 Km percorridos, mas que se revelaram uma viagem inesquecível. Marca o cronómetro da prova 2h13m06s. Uma menina coloca-lhe a medalha ao pescoço. Gesto singelo a dizer tanto! Carregado de simbolismo e emoção! Sabes? O que vale este gesto? O que pesa e significa? Sabes? Não? Então vem ao 8º Trilho das Lampas em 2020 e talvez percebas. Reencontra o pai e o Fernando Andrade, que sem ele, não estaria aqui. Agradece. Agradece tudo. A oportunidade de viver isto. A oportunidade de estar aqui. A oportunidade de desafiar-se e a oportunidade de se enriquecer, porque a riqueza da vida são os momentos vividos, a amizade comprovada, as emoções vividas e partilhadas. Nada mais... Meta cortada, uma farta mesa com fruta, bolinhos, sopa e muito carinho em nos receber, como campeões, como se tivéssemos feito algo digno de reconhecimento, algo especial, quando no fundo não passou de uma viagem dentro de nós mesmos, com os obstáculos que nós próprios armadilhamos. E apesar disso tudo, saímos vencedores! Obrigada Trilho das Lampas, e que venha a 8ª edição!
Da linha de partida à linha de chegada, demorei 2h12m42s (tempo líquido) para percorrer os 15 Km do Trail Curto, e fui o 320º atleta a cortar a linha de chegada de um total de 454 nesta prova.