Quando o Paulo Costa, responsável da Global Sport e
director da Meia Maratona de Guimarães me convidou, eu estava longe. Longe
geograficamente (a cerca de 350 Km, no local onde vivo) e longe da ideia de tal
participação, apesar de já ter conhecimento da realização da prova e da mesma
me ter suscitado bastante interesse desde o início. Por ser em Guimarães,
cidade que não conhecia, berço da nação, por prometer uma visita
histórico-cultural, por ser a 1ª edição e por ter na organização a Global
Sport, entidade já com provas dadas de
saber fazer e que bem conheço da Meia Maratona do Douro Vinhateiro.
Se o convite me veio apelar (ainda mais) à participação, o
factor distância a exigir despesas significativas (transporte, portagens e eventualmente
estadia) para além do tempo exigido com a logísitica necessária, pesavam
bastante, e mesmo depois de aceitar o convite, até ao último dia muitas foram
as vezes em que hesitei e ponderei declinar, dando o dito por não dito.
Mas o empenho deste jovem dinâmico e empreendedor, mesmo visto à distância e só
possível graças às novas tecnologias, não me permitiam desistir. Ele não o
merecia, e eu tinha de estar presente! E eu queria estar presente!
Assim, sábado à noite, véspera da prova, a decisão estava
tomada e tornou-se irrevogável quando me deitei e liguei o despertador para as
3h30m (da madrugada de domingo 22 de Setembro de 2013).
Passeei a cadela às três e meia da manhã, tomei duche, tomei o
pequeno almoço, peguei no carro e no meu companheiro de vida: o meu pai, e
fizemo-nos à estrada.
A viagem correu muitíssimo bem e o Sol, como a dar-nos as
boas vindas, nascia em tons
vermelho-amarelo à nossa chegada a Guimarães. Ainda não eram 8 da manhã! Toda a estrutura do
que seria a zona de partida estava ainda a ser montada. E em cima de um
escadote, a montar painéis e pórticos, estava quem? O Paulo Costa, o director da prova, esse
mesmo!
Com prazer o fui cumprimentar, agradecer e felicitar desde
já pela iniciativa. E depressa o tive de deixar continuar a trabalhar.
O facto da Partida ser dada nesta zona comercial – Espaço Guimarães –
tem várias vantagens: muito espaço exterior e interior, casas banho limpas e
café, o que nem sempre é fácil encontrar e é muitas vezes um problema para os dependentes
como eu.
Necessidades satisfeitas, fomos levantar o dorsal. A
possibilidade de levantar o dorsal no dia da prova é uma mais valia que se
revestiu de especial importância no meu caso e face ao exposto.
O meu pai quis inscrever-se na Caminhada
Solidária, o que fez, contribuindo assim para um cheque no valor de EUR 10.000,00 que foi oferecido à
Associação de Paralisia Cerebral de Guimarães, precisamente fruto das inscrições desta
Caminhada Solidária integrada na Meia Maratona de Guimarães.
À medida que as horas avançam e o Sol se levanta, o ambiente vai-se compondo. Bastante animação, um sol brilhante e tudo estaria perfeito não fossem os incêndios, a verem-se ao longe e que foram cenário constante pelo país todo nesse dia.
Surpreendentemente encontro muitos amigos ali em Guimarães. Amigos do Norte mas também muitos amigos do Sul. Guimarães chamou-os e eles responderam. Como eu. Entretanto, o trânsito fora já cortado e podemos aquecer em segurança. Há muita e muita gente (cerca de 8000 entre atletas e caminheiros) mas consegue-se correr no aquecimento.
A Partida é dada em ambiente muito festivo. Vários papelinhos atirados ao ar e ali vamos nós. Conhecer Guimarães a correr.
O meu pai participou, caminhando, sem por isso deixar de fazer o que tanto gosta também: fotografar os atletas. Tentar descobrir-me no meio dos milhares, e quando me vê, cheio de felicidade...naquele instante a máquina "falha"...e eu sorrio. Sorrio mais, continuo a correr e grito-lhe que não faz mal. E não faz. O momento vivido é o que vale.
A corrida leva-nos para a cidade. Adorei entrar e dar uma volta na Pista de Atletismo Irmãos Castro. Adorei as ruas de Guimarães e os vimaranenses. As igrejas, os monumentos, os largos... E só penso em voltar. Com tempo. Hoje, conheci Guimarẽs, literalmente, a correr! Quero voltar com tempo. Adorei o Castelo, as subidas, as descidas, os retornos, os "chuveiros" improvisados pelos bombeiros, de me cruzar num deles com o amigo Joaquim Costa. Momento singelo e sublime. A juntar a tantos outros que Guimarães me ofereceu. Corro em esforço. Um esforço controlado, mas a média mantêm-se praticamente constante, oscilando apenas de acordo com o desnível das ruas. A Corrida continua.
Gostei de chegar à meta, encontrar o meu pai e de novo e sempre, vários amigos.
O meu Garmin marca 21,350 Km e registou o tempo de 2h06m. Cada vez pior, penso. Mas isso é secundário agora. Conquistei Guimarães, penso com alegria e de coração repleto. Recebo a medalha, água e futa.
E para além disso, recebemos também um sabonete de lavanda e jasmim "Fado", produzido pela fábrica
Confiança, que agora me perfuma as gavetas e me promete embalar num
banho que adio.
Como a fruta, troco de camisola e assisto à entrega de prémios. Dou descanso ao meu "fotógrafo" e fico agora eu "de serviço". Também gosto de fotografar. Não deixo de ficar triste por haver um único pódio feminino quando há sete masculinos...
Depois...bem...depois é tempo de regressar. Mudo de roupa, come-se uma bucha trazida de casa e temos um país para atravessar. A arder, por sinal...
O regresso fez-se igualmente bem. Mais trânsito, claro, e incêndios, incêndios por todo o lado. Pela auto-estrada, com o depósito a ficar cada vez mais vazio, faço contas de cabeça e aponto para encher na Bomba "X" na qual tenho desconto, mas não é que já com a reserva do combustível bem adiantada, a polícia nos manda sair da auto-estrada?! Tudo por conta dos incẽndios. E não é que a minha geografia é fraca e o GPS é coisa que só o cronómetro que uso para correr tem...e estava a ver-me a andar, a andar e...bombas de gasolina nada?! Desvio daqui e dali e nem vos conto onde fui encher o depósito!
Acabou bem a história e chegamos bem a casa muitos quilómetros depois.
Já recordo com saudade Guimarães e só sei que morro de vontade de lá voltar. Têm também destas coisas as Corridas. Uma pessoa diz que vai correr, mas o que mesmo fazer...é viver! E como quase sempre, fica com vontade de mais! Quero voltar a Guimarães! Para, com tempo, algum tempo, a conhecer um bocadinho mais.
E é esta a última crónica e foi aquela a última Corrida...
Até um dia, querido diário