"José Afonso e as gerações de Abril", Coliseu de Lisboa, 29 de Março de 2024
29 de Março de 1974, há precisamente 50 anos atrás, viveu o Coliseu de Lisboa, um momento singular e marcante: José Afonso (02/08/1929-23/02/1987) cantava "Grândola Vila Morena", das suas, a única canção autorizada assim como "Milho Verde", num espectáculo organizado pela Casa da Imprensa e os prémios da música portuguesa foram atribuídos. Sem saber, "ensaiava-se" assim a revolução dos cravos, e mesmo debaixo do nariz da Pide, o Coliseu cantou em peso e sem medo a canção que semanas depois foi escolhida como a 2ª senha passada nas rádios na noite de 24 de Abril de 1974, a dar sinal que a revolução estava em marcha, os militares do MFA saíam dos quartéis e o fascismo cairia por terra por fim! Canções proibidas, palavras proibidas, o controlo do pensamento e da palavra e da vida, a guerra colonial, a fome, o isolamento social, económico e cultural do resto do mundo... Era o Fascismo de Salazar.
Hoje, 29 de Março de 2024, passados exactamente 50 anos, por outras vozes, algumas que fizeram parte da vida de José Afonso (Vitorino Salomé, Manuel Freire e Francisco Fanhais) e que com ele privaram e partilharam palcos, ideias e lutas, e outras, novas e frescas das gerações seguintes (Gisélia, António Salomé, Ricardo Silva, Mário Delgado, João Afonso e a Banda Filarmónica da Sociedade Fraternidade Operária Grandolense), nesta mesma sala, fez-se ouvir de novo a mesma "Grândola Vila Morena", com uma sala de pé a cantar a canção de corpo e alma inteira e a arrepiar até ao tutano.
Porque a História não pode ser esquecida, para que não seja repetida! Porque os direitos conquistados não podem sequer ser beliscados. Mas há que ter cuidado e é preciso lembrar os "esquecidos" que isto aconteceu aqui e não pode ser repetido!
Foi uma noite inteira, arrepiante e emocionante. Muito bonito de ver, ouvir, sentir, viver! Em Liberdade!
A apresentar o espectáculo de quase 4 horas, esteve e muito bem, José Fanha, a presentear-nos também com a sua poesia.
Espectáculo gravado pela RTP...um dia destes poderão assistir na vossa sala de estar, confortavelmente sentados no vosso sofá, não terão as dores no corpo de alguém que como eu assistiu a tudo de pé, mas também não sentirão a emoção transmitida por todos aqueles homens e mulheres em cima do palco e na assistência, nem a emoção das palavras trocadas com alguém ao nosso lado, que esteve ali mesmo há 50 anos atrás e viveu o momento como hoje e fez história, ou alguém que nessa altrura, estava no Ultramar, no mato, na guerra e as palavras e as canções de ontem o tocaram como não conseguimos imaginar.
Sai de lá de coração cheio e mais rica, feliz por me ter sido permitido fazer parte deste espectáculo, 50 anos depois, a lembrar Abril, a homenagear José Afonso, os militares de Abril e todos os que lutaram, também com a palavra e a canção e nos permitem hoje viver em Liberdade.
25 de Abril sempre! Fascismo nunca mais!