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sábado, 27 de agosto de 2016

Amor

A alegria é sempre genuína. Nos primeiros passos apressados, assim que pisa a areia, numa correria louca direita ao Mar. Lembra—a uma outra menina, quase esquecida, há mais de 40 anos atrás quando as idas à praia eram ocasiões raríssimas e tão especiais e ela corria exactamente assim, solta e feliz numa correria doida em direcção ao Mar, para, assim que molhava os pés e as pernas, voltar para trás com o maior sorriso do mundo, agora ainda mais rasgado, dar meia volta e correr de novo ao encontro das ondas. Sorria com a boca e os olhos, corria e era feliz nesse instante. Revê—se e é feliz hoje ao reviver esta cena. Depois caminham ao longo da beira mar. À solta.  Livres. Apenas forte e firmemente ligadas por um elo invisível. Daqueles essenciais, invisíveis aos olhos portanto, como todos sabemos. Vão ao fim da Praia e voltam. A chegada ao ponto de partida é sempre festejada com um mergulho. Baptismo repetido e imprescindível onde se renovam e renascem todos as vezes. Depois, já cansadas, vão sentar—se um pouco. Bebem água, ajeita—se a toalha sobre a areia e eis que se é surpreendida por um inesperado  beijo em forma de lambidela, mesmo em cheio sobre o olho direito. Olho—a. Indiscutível e inequivocamente...sente! O Amor.

quinta-feira, 4 de agosto de 2016

Saudades / Instantes

Há um saudosismo avassalador e sufocante que a invade por instantes e um nó na garganta que se manifesta apesar da alegria e felicidade que em simultâneo sente. Alegria e felicidade pelo que é e pela Vida que vive hoje! Grata! Não obstante, sente saudades e alguma tristeza. 

Saudades destas mesmas estradas ladeadas de pinheiros e destas mesmas ruas e vielas de casario branco, corridas de madrugada. Saudades dos cães que ladram à passagem deles. Saudades desta paisagem sobre as arribas em que com eles dividia o prazer da Corrida e da descoberta. 

Saudades dos estradões de terra batida por entre os pinheiros, acordados pelos primeiros raios de Sol que os trespassam e vêm até ela, afagando-lhe a pele suada.

Saudade daquela "ela". Hoje sem correr. Sente saudades desta paisagem absorvida em ritmo confortável de Corrida, acompanhada pelo chilrear das aves mais madrugadoras que ela. Saudades do rosto suado, da brisa e do mar imenso onde repousava o olhar e refrescava o corpo e a alma, esse mesmo mar onde hoje se banha e mergulha, apenas... Feliz sim. Mas falta ela! A Corrida! Tem saudades de correr neste lugar. Neste e em todos os outros em que já correu e até dos lugares onde nunca correu. Sente saudades...

Saudades deste lugar recôndito onde se abriga e refugia. Onde ganha coragem e força para novas e velhas batalhas. 

Saudades de correr. Saudades de um abraço, de um sorriso, de paz, de conforto, de desafio e até de um beijo e de tudo o mais que a Corrida lhe dava. "Lhe dava" - o tempo verbal ecoa na alma dramático e dói como punhal ferrugento enterrado fundo no peito. Ela já não corre. E isso dói. 

Instantes... São instantes. A Vida reinventa-se a cada dia, a cada instante!  Mas que estar sem poder correr é...tramado, muito, mas mesmo muito tramado...isso é uma grande verdade para esta rapariga. 

É que não se trata apenas do facto de correr ou de não correr. Trata-se sim, da percepção que se tem do mundo quando se corre e da percepção que se tem do mundo quando não se corre. 

Trata-se sim dos olhos do coração que se abrem quando se corre. Trata-se sim do nosso olhar com que se abraça e alberga o mundo inteiro quando se corre. Trata-se sim de todo o mundo que se transforma quando simplesmente...se corre!

Melhores dias virão, ela quase não tem dúvidas que virão sim. Não sabemos é quando...E no entretanto, é viver e aproveitar estes muito bem.