Covid-19…Portugal
somos nós!
Uma semana
em casa. Tenho a possibilidade de trabalhar em casa. Foi-me dada e permitida essa
opção, como possível que era e como tinha de ser, se é que há alguma responsabilidade,
sensatez e humanidade no espírito de quem manda. E há. E eu faço-o. Com empenho
e entrega, com tanta ou mais do que se estivesse no escritório, supostamente observada,
vigiada e controlada. Agradeço a confiança. E respondo. Respondo como sou. Simplesmente
como sou.
Desde Agosto,
com provações sucessivas que a vida me colocou no caminho. Caminho ladeado de flores,
árvores, sol e sombra, pedras e terra batida. Caminho. Caminho que sigo, com medos
e dúvidas, lágrimas e risos, mas sem dúvida o único a seguir. O meu. De repente
(em Agosto), sem aviso ou preparação, a família passou de dois para quatro.
Mais dependentes, mais trabalho, mais responsabilidade e inúmeras alterações de
rotinas, ajustes materiais, físicos e emocionais. E ainda sem tudo “arrumado”, móveis
ou cabeça, agora isto!
Um inimigo
que não se vê, que está lá fora e que nos pode apanhar cada vez que pomos um pé
na rua. Ir à rua apenas para o estritamente necessário! Daqui, deste castelo,
muralhas altas construídas com sangue e lama, fechamo-nos sem nos fecharmos. Protegemo-nos.
Por quem tem de ser protegido, mais que ninguém!
Só esta mulher
sai desta casa. Ela e a cadela. Para fazer as necessidades esta e depois aquela
para abastecer a despensa e comprar medicamentos, bens imprescindíveis para manter
a matilha. Com todos os cuidados, com a humildade de saber que todos os
cuidados são poucos e que um azar qualquer e já fomos apanhados e não podemos,
pois estaremos a trazer a Morte para casa.
É só disso
que se trata. Não querer trazer a Morte para casa a quem me deu a Vida.
Tenho medo,
admito e confesso. Mas luto! Luto! Fico em casa e essa é a minha luta, a
possível, a que está ao meu alcance e que abraço de coração! É fundamental não
parar. Trabalho. Uma gota de água a alimentar a Economia deste país. Eu. Os
meus colegas, e tantos outros. Actividades que aparentemente não estão directamente
relacionadas com a batalha que todos travamos, mas ainda assim necessárias, uma
luta nos bastidores, na sombra mas essencial para que tudo funcione, para que a
Economia não colapse.
Tenho medo.
O medo…essa emoção que nos apura os sentidos e nos faz recuar ou tomar medidas
necessárias à nossa sobrevivência. Escolho a segunda opção. E é disso que se trata,
de sobrevivência!
Uma semana
em casa, um dia no escritório, quatro de teletrabalho, a lutar com unhas e
dentes, nesta aparente inércia e passividade aos olhos desatentos, a descascar
batatas, a preparar lanches, almoços e jantares, a manter o essencial, a dar
banho a quem não pode, a lavar tachos e roupa e a apresentar propostas para vender
material para o país não colapsar. Sou eu. És tu, somos todos nós, a lutar em
silêncio, sem holofotes nem palmas. Somos Portugal! Portugal somos nós!
E depois, em
casa, fechados, enclausurados a dar um valor inimaginável à liberdade antes garantida
e por isso desvalorizada, de sair e apanhar Sol e mar e sal no rosto sem medo,
medo de ser apanhado pelo vírus e trazer a morte para casa. Sem medo.
Dias que
hão-de voltar. Por ora, é tempo de ficar em casa, tu que a tua profissão e
missão te obriga a estar no terreno, a lutar cara a cara, por todos nós, injustamente
a dar a cara e o corpo e alma ao diabo, a enfrentar o inimigo de frente e a
olhá-lo nos olhos. Cuidem-se todos vós.
E vós, que a
vossa profissão não vos exige esse grau de entrega, …por favor, apenas fiquem
em casa. Não desvalorizem o inimigo. Não dificultem a luta. Não contribuam para
a morte, por favor. Respeitem. A Vida, a vós próprios e respeitem os outros. Os
vossos, e os meus, a todos! Quando pensam que sair não faz mal porque não estão
com quase ninguém, estão! Garanto-vos que estão! Quando tocam na porta de entrada
do prédio, quando respiram o ar que alguém expirou há minutos atrás, quando cumprimentas
o vizinho, quando tens um azar e precisas de ajuda médica, garanto-te que está a
empatar, a estragar a luta que deveria de ser de todos! Com as armas que cada
um tem. E tu…só tens de ficar em casa! E dá valor, que ainda assim, com a
depressão a assombrar-te (como se soubesses o que isso é e a maioria de nós não
sabe felizmente), garanto-te que é o lado mais fácil desta batalha, que venceremos,
mas para isso precisamos que cada um faça a sua parte! Fica em casa!
“Não te vás
abaixo
Se o medo
rondar.
É só um mau
bocado
Que vai
passar”
UHF, in “Portugal
somos nós”