Quando chegou, o parque do Parque, de estacionamento o primeiro e local onde decorreria o treino, o segundo, estava anormalmente cheio de carros. Não que estivesse de facto cheio, mas significativamente bastante mais ocupado por viaturas estacionadas do que é normal para a hora (19:00Hrs) e para o mês (Fevereiro), Inverno, frio e noite escura portanto.
No entanto, assim que começou o treino ela verificou que a noite estava clara e o parque espectacularmente iluminado pelo luar deixando ver um céu limpo e estrelado. Assim sim. Dá gosto treinar. Apesar do frio, a noite e o caminho à sua frente chamavam-na, convidando-a a avançar e usufruir do caminho, da noite, do luar, da brisa fresca, do cheiro das ervas e da terra e dos sons da noite.
Começou a correr e por estranho que pareça correu o primeiro quilómetro, depois outro, outro e mais outro e outros mais ainda num total de 10, e ao contrário do que estava à espera, não avistou vivalma.
Então, depois de parar o cronómetro e enquanto se dirigia para a sua própria viatura concluiu o que suspeitara desde que marcara o primeiro quilómetro de treino: deve ter havido uma festa de arromba nos balneários. E ela, cheia de pena, tinha-a perdido...
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quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013
domingo, 17 de fevereiro de 2013
Maria...
Enquanto uma corre cá fora, ri, chora, ama e ri outra vez, a outra, entre paredes brancas enclausurada, vivendo estádios entre a vida e a morte, indecisa como se dela dependesse tal sentença, está silenciada e apática. E depende? E depende?! Pergunta. E responde--lhe o eco. Depende. Depende de ti pequena. Do que queres, do que te apetece, do que te anima e dá vida, do que sentes que vale a "Maria" e se te apetece verdadeiramente continuar. Viva. O mundo, já sabemos que continuará alheio e indiferente e nenhuma diferença farás. Apenas a diferença que fará a ti mesma, importa realmente.
Mergulha em dilemas tão intensos quanto ridículos, enquanto a outra cá fora nem dá por eles. Batalhas silenciosas e sem valor em contraste com um belo treino cá fora. À chuva purificante que lava e renova. Que a outra ainda agora fez. 11 km em 1h05m. Não está mal pensa esta. Está óptimo pensa a outra, e apela à primeira que lhe permita voltar.
Mergulha em dilemas tão intensos quanto ridículos, enquanto a outra cá fora nem dá por eles. Batalhas silenciosas e sem valor em contraste com um belo treino cá fora. À chuva purificante que lava e renova. Que a outra ainda agora fez. 11 km em 1h05m. Não está mal pensa esta. Está óptimo pensa a outra, e apela à primeira que lhe permita voltar.
quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013
A Maria...
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A rapariga corria ao longo do Tejo. Ora
repousando os olhos nas águas calmas apenas agitadas pela aterragem
majestosa de um ou outro pato bravo ou pelo deslizar suave das
canoas, ora detendo-os nas margens onde troncos de árvores presos no
lodo e nas pedras, inertes entre as canas e a lama, vindos de longe,
agora cativos impotentes aguardam nova maré que os faça seguir
viagem.
É desperta pelas sirenes azuis do
carro da polícia que passa bem perto dela a velocidade pouco
moderada.
De seguida outro veículo, igualmente
de sirenes azuis ligadas. Luzes azuis cintilantes a abrir passagem e
a fazer tremer corações. A rapariga segue no seu passo confortável
de treino. O sentido é o mesmo das viaturas policiais. Dois minutos
depois uma ambulância do INEM segue apressada no mesmo sentido.
Os carros param adiante, avista a
rapariga. O aparato é grande e predominam as luzes azuis intermitentes. O que quer
que seja que tenha acontecido está no seu percurso de treino, ao
longo do rio e obrigatoriamente ela vai ter de passar pelo cenário.
Quando se aproxima do cenário azul
sinistro intermitente, ela fica a saber o que acontecera: o corpo
dera à costa, ao fim de tantos dias de ter sido dada como
desaparecida. O corpo fora por fim encontrado nas margens do rio,
preso entre as canas, as pedras e submerso na lama. Frio e inerte
como os troncos das árvores. À espera de nova maré que o faça
seguir viagem.
Dada como desaparecida desde o dia
primeiro do primeiro mês deste ano de 2013, a Maria Sem Frio Nem
Casa dera por fim à costa. Sinais vitais difíceis de detectar
tendo-se mesmo chegado a temer o pior, mas verificou-se depois que o
coração ainda batia apesar da dificuldade em se lhe detectar o
pulso.
Foi levada pelo INEM, com máscara
colocada e ligada a fios, para o Hospital mais próximo. Deu entrada
no Hospital Vila Franca de Xira, ali mesmo na sala ao lado de onde se
matam bebés em nome da liberdade da mulher e dos seus direitos
sobre o seu corpo, e ficou internada sob cuidados intensivos.
A situação clínica não é ainda
estável e não recebe visitas portanto.
Resta rezar e pedir a um deus qualquer
(aos crentes) para que a Maria Sem Frio Nem Casa recupere desta e
volte depressa e bem às parvoíces a que já nos habituou. Aos
outros crentes noutras coisas quaisquer não menos dignas, válidas
ou importantes, resta acreditar e desejar ardentemente que ela volte,
o que no fim vai dar tudo no mesmo.
Ainda assim, mesmo com a séria
preocupação e desejo sincero de meia dúzia de amigos, não é ainda possível confirmar ou
não, com rigor e credibilidade, o seu regresso. O futuro é incerto.
Entretanto, a rapariga acabou o seu
treino de 13 km sem pensar em tempos, provas, relatos ou obrigações.
Apenas... porque sim e sim porque se sente bem a correr e sem a
Corrida não vive completamente.
Ora, isto é muito bonito mas sabemos também que isto não é inteiramente verdade: cá entre nós que ninguém nos ouve, ela treina com relógio, verifica tempos, médias e distâncias e sim, tem esta ou aquela prova em vista. Fala-se numa Meia próxima mas ainda não se sabe bem qual.
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