E foi assim a 13ª edição da S.Silvestre Cidade do Porto. Uma chuva miúda mas contínua dificultou a viagem dos aventureiros que no dia 30 de Dezembro de 2006 fizeram umas boas centenas de quilómetros para ao Porto se deslocar, dificultou também a preparação e montagem de tudo o que é necessário para receber perto de 5000 indivíduos e proporcionar-lhes todas as condições para caminhar e correr, e só a nós atletas abençoou.
Secretariado, tendas de apoio e de primeiros socorros, casas de banho, delimitação do percurso, postos de abastecimento, animação, pódio para entrega de prémios, local para retirar o chip e entregar prémios de presença, e isto só para enumerar alguns, foi preparado sob a tal chuva que pela hora da partida já nos tinha transformado a todos em verdadeiros pintos.
Chegamos cedo à zona de partida. Uma bonita árvore de Natal feita de luzes brinda-nos e faz-nos adivinhar o que nos espera: ruas calorosas apesar do frio e da chuva, com as decorações de Natal sobre as nossas cabeças e com público. Muito público que ainda sob a dita chuva não arredou pé e muito gritou por nós.
Dorsais levantados, encontros e reencontros, conversa que nunca fica em dia, despir que é hora, dar sacos a guardar e partir. Para o aquecimento. O meu pobre pai, que foi caminhar, de capa de plástico que só lhe deixava ver o nariz, lá ficou debaixo de uma varanda até à partida. Para que iria aquecer ele? Ao que eu o sujeito... Aqueci acompanhada e minutos antes ali estamos todos muito juntos sem nos tocarmos, verdadeira multidão aos saltinhos tentando cumprir a missão impossível de não arrefecer, com os dedos engelhados de tanto tempo já em contacto com o líquido vital à vida.
Partimos. Eu, que não corria desde o fim-de-semana anterior, quero ir com calma, mas há dentro do peito um frenesim que me eleva o espírito e com ele o corpo. Começa-se a subir e eu subo! Leve! Ouço os incentivos do público, e ouço outras vozes mais fortes na minha cabeça e ao meu lado recordo e vejo o amigo que correu comigo esta prova em 2004 (fizemo-la e terminamos juntos) e no ano passado (apenas uma pequena parte do percurso) e que jamais o voltará a fazer. Nostalgia… Não! Coragem! Se ele estivesse aqui… E lá onde ele estiver, eu sei que de alguma forma está comigo. Está comigo sem dúvida. E a chuva escorre-me por entre o cabelo curto e sinto-a correr em fios pelo rosto até alcançar a boca. O doce da água misturado com o salgado do suor. Levanto a cabeça ao céu e agradeço. Sou abençoada, uma felizarda. Sem dar conta estou no cimo da subida. Desce-se para o local da meta e eu voo! Livre como há muito não era! Repete-se a volta! Quebrar agora na subida? Nem pensem! Subi com a mesma energia. Forte, leve, segura.
As luzes de Natal, a chuva miúda sob a luz das iluminações, o meu rosto molhado assim como todo o corpo, o rapaz que chama o meu nome quando passo por ele: Carlos Soares. – Prazer em conhecer!
O Margarido que avisto à minha frente e acabou atrás de mim. Acho que houve momentos de alucinação, pois devo tê-lo passado sem o ver (deve ter sido da velocidade), ou estaria eu numa outra dimensão qualquer?
Acabo a prova mais que bem! Excepcionalmente bem! O tempo? Pois o tempo foi o que foi: 52m11s, mas o que é aqui de realçar é a forma como me senti: estupendamente bem! Forte, livre e solta.
Depois do banho (de água bem quente no hotel – não vão pensar que eu por ter gostado assim tanto dos chuveiros naturais, me sujeitasse a eles no fim da prova), um jantar magnífico entre amigos, e claro que não podia deixar de ser a tradicional Francesinha, mas desta feita num magnífico forno a lenha, para onde as víamos entrar e de onde as víamos sair a fumegar e a dirigirem-se para a nossa mesa. Foi tudo… estupendo!
E nessa noite eu fui. E eu sou! Felizarda, sortuda, abençoada, querida e desejada! E assim acabo o ano de 2006! Obrigada a todos!