Chego e Mogadouro recebe-me:
Prova organizada pela Federação Portuguesa de Montanhismo e Escalada e Terras de Aventura, em conjunto com o Município de Mogadouro, foi a 2ª do CIRCUITO NACIONAL DE MONTANHA SALOMON 2008.
A prova, na distância de 13510 m , teve partida em frente à Junta de Freguesia de Valverde e meta na pista de atletismo do Estádio Municipal de Mogadouro. Percurso em estradas de terra sem dificuldade de maior em termos de piso, mas com desnível significativo, e que passa por pequenas aldeias e/ou lugares mais recônditos de Portugal.
Em simultâneo realizou-se uma caminhada sem intuitos competitivos que conseguiu juntar vários e entusiastas participantes.
Prémios monetários e troféus para os primeiros, quer na classificação geral, quer no escalão, o que pela falta de participação feminina me veio a calhar EUR 10,00 mesmo tendo deixado apenas 1 ou 2 atletas atrás de mim na classificação geral.
Levanto a questão se participante com tal desempenho seria meritória do prémio e não encontro resposta, pois as que surgem não me são claras. Claro é sim, que a fraca participação feminina continua. Nesta prova, foram classificadas 5 Veteranas e 4 Seniores, escalão este em que ficou dinheiro por dar, pois era até à 5ª classificada.
Uma t-shirt, vários biscoitos e chocolates, sumo, água e iogurte compunham o saco do prémio de presença.
Saliento de positivo a aprimorada sinalização, até para mim que tenho fraca orientação e fiz a prova sozinha em mais de 80% do tempo/percurso. E não me perdi.
Também a chegada dentro do Estádio, com a volta à pista é sempre (ou quase) a garantia de um cortar de meta bonito e digno. E neste caso foi. Até eu tive uma chegada “bonita”. Balneários disponíveis a todos os participantes.
Ainda os abastecimentos estiveram bem, assim como os meios de socorro a que tive a infelicidade de (ou a felicidade de ser eu a) assistir em plena serra.
Também por tudo isto, Mogadouro convida a voltar e só percebo a fraca participação numa prova que vai na 6ª edição pela localização geográfica.
Depois da minha participação em 2004, 2005 e agora em 2008, continuam Os Trilhos de Mogadouro – Amendoeiras em Flor a ser uma prova que aconselho entusiasticamente a amantes (e pretendentes) da natureza e da Montanha.
bastantes mais fotos de Mogadouro e da prova no meu Álbum:
http://picasaweb.google.pt/anamariasemfrionemcasa
da minha autoria e de meu pai, António Melro Pereira
Junto ao Estádio Municipal de Mogadouro, antes do autocarro nos levar para a partida, em Valverde:
Agora a minha aventura em terras de Mogadouro:
Gostei de ver que estão a recuperar a torre do relógio e outro edifício que vi “a cair” em 2005. Parabéns às gentes de Mogadouro que o estão a tratar.

Estou feliz por ter conseguido ir. Mas à medida que a hora se aproxima questiono-me se teria sido de facto a melhor opção. Temo que não consiga fazer a prova. Já não corro desde… a última vez e não me lembro quando foi a última vez, e não me apetece vasculhar neste blog até encontrar a última vez que corri!
Aguardo já dentro do autocarro que me levará ao ponto de partida: Valverde. Atletas com pinta de atletas! E … eu! De repente entra no autocarro um amigo meu, praticamente meu vizinho (há mais gente a percorrer 500 km para participar nos Trilhos de Mogadouro). Senta-se atrás de nós e vamos conversando enquanto o autocarro avança já. A conversa descontrai-me.
Já em Valverde vejo partir o meu pai para a caminhada e depressa chega a minha hora. Estou mais descontraída. Vou fazer a minha prova.
Mas cedo vejo que a minha prova é mesmo só minha, pois todos desaparecem à minha frente e sei que atrás de mim não estão mais que 3 ou 4 atletas.
Não importa. Corro para ganhar, de facto. Mas não ganhar a corrida. E avanço pelo campo, entrando na Montanha quase sem dar por isso. Mas ela não se compadece com garotas que a subestimam. A Montanha é dura. Pode engolir-nos, empurrar-nos sem dó ou abraçar-nos maternalmente. Sou tão pequenita. Ela olha-me do alto. Magnífica. Respeito-a. E quero-a. Cada vez mais.
Caminho, corro, caminho. Cada metro que fosse que existisse inclinado, obrigava-me a caminhar.
Vale o rosto das gentes dos sítios que atravessamos. Bocas desdentadas e olhos brilhantes. Batem-me palmas nos seus trajes escuros e emanam uma luz que me ilumina. Rasga-se-me no rosto um sorriso que suponho bonito. Ganho. Forças.
Mas de novo Ela. Implacável. Vence-me. E amaino forças sem resistir. Estou nas mãos e nos braços dela. Com um sorriso agora Ela também, leva-me ao colo, embala-me e posso jurar que ouço uma canção entoada baixinho.
Quando me pousa de novo no chão, estou de pé e corro, corro até mais não, temendo que na próxima passada as pernas se dobrem não suportando mais o meu peso e o impacto de cada passada vigorosa no chão.
Vejo-me acompanhada por um outro participante e juntos seguimos a correr até à meta. Entramos naquele Estádio, damos a volta e cortamos a meta.
1h37m38s marca o meu cronómetro. Prometo: para o ano outra vez sim, mas melhor preparada, o que não será difícil, visto a ausência de preparação deste ano.
- Pai! – está ali o meu pai, aguardando-me sempre e queixa-se ele também da dureza da caminhada.
- Desculpa… - não sabia que Ela também tinha sido dura para eles.