Vieram de longe. Não muito, para os dias que correm e para as facilidades que há. Mas o mundo de cada um é muito diferente do de muitos outros e com onze anos feitos, neste pequeno país, a miúda já tinha vindo a Lisboa, é certo, mas nunca ao Jardim Zoológico. A promessa, feita há anos, vinha a ser adiada de férias para férias, de ano para ano. E nunca calhou. Por tempo ou falta dele. Por dinheiro ou falta dele. Por vontade ou falta dele. Os adultos sempre a manterem os pés no chão, o sonho adiado e as expectativas defraudadas. Um dia...Um dia...diziam.
O dia foi hoje. Muitos quilómetros percorridos e um sábado de chuva a comprometer uma vez mais a realização do sonho.
Fé. Uns têm. Outros não. Nisto. Naquilo. Sempre fé. Esta rapariga tem fé. Ateia desde que pensa, continua a ter fé. Muita fé. Não lhe perguntem em quê. Apenas fé. Positivismo, optimismo, ingenuidade, bondade, seja lá o que for. Esta rapariga tem. Nem sempre. Mas quando quer verdadeiramente, tem! A necessária e suficiente para mudar o mundo! E na maior parte das vezes até consegue!
Sábado chovia copiosamente quando acordaram mas ela estava decidida a ajudar a realizar o sonho da pequena e tinha fé. Fé que o sol ia brilhar neste sábado para lhes permitir usufruir do Zoo em todas as suas possibilidades.
Prepararam a merenda que os quase EUR 40,00 por 2 pessoas de entrada no Zoo não permitiriam mais extravagâncias. Meteram-se no carro teimosamente debaixo de chuva e meteram-se na auto-estrada. A pequena, calada, temia a decisão dos adultos. Tanta chuva, diziam, talvez seja melhor um programa alternativo, dizia uma. Não! Dizia esta rapariga. Isto vai melhorar! Vai melhorar! Mas até ela começava a sentir a sua confiança abalada. Chovia torrencialmente na A1 e os limpa-vidros do carro eram insuficientes para que lhes fosse permitido ver a estrada. A velocidade do carro diminuiu e a rapariga decidiu: vamos até lá! Lá, à porta, logo decidimos! E teimosamente conduziu a viatura até Sete Rios, estacionou e já a chuva se transformara apenas em chuviscos.
Pegou na mochila, na máquina fotográfica e entrou no espaço. A pequena, tímida mas de olhinhos brilhantes, avançava em silêncio, com uma alegria contida, ainda sem saber se seria legítimo manifestá-la.
Os chuviscos eram agora salpicos espaçados. A rapariga sorria. Para consigo. Vai melhorar! Pensava, com uma fé de novo inderrubável agora e compraram os bilhetes.
O dia melhorou e foi um dia memorável. Sonho realizado! Miúda feliz. Rapariga feliz! E todos os outros acompanhantes, claro! Objectivo atingido.
Repetiram vários espectáculos, repetiram o teleférico, que de início era temido. A miúda teve o privilégio de ser convidada a fazer festas e dar beijinhos aos golfinhos, a outra fotografou e filmou. Os animais são bem tratados. Estão bonitos. E se é verdade que o ideal é a liberdade, também é verdade que estas condições em cativeiro são preferíveis à extinção ameaçada de muitas espécies. E de outra forma, jamais teríamos a oportunidade de as ver de perto. E se o preço a pagar é o cativeiro para os animais, não deixa de ser verdade que os bichos estão e são bem tratados no Jardim Zoológico de Lisboa.
Foi assim, um dia feliz. Um sonho realizado. Com sol e sorrisos. E emoção. Muita emoção. Para a miúda, a tia, esta rapariga e a outra miúda. Um dia feliz. E este, já ninguém nos tira.
NOTA:
O Jardim Zoológico de Lisboa está bem e recomenda-se. Está cheio de crias e merece uma visita! A fé diz-me que os EUR 36,00 que gastei na entrada para mim e para a minha filha, serão bem utilizados! Para além de terem sido muito bem aproveitados. Merece sem dúvida, a nossa (e a vossa) visita.
Fotos e edição de video por Donafava: