Pesquisar neste blogue

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

O Chorão e eu

Já passava das oito horas da noite, quando do alto da sua magnífica e esplendorosa copa, ele vi-a cá em baixo, pequenina e redonda, ponto fluorescente insignificante a sobressair do asfalto.

O chorão já a conhece há cerca de 13 anos. Conhece-a de outros dias, outras horas e outras corridas também.

Recorda-se dela há doze anos, quando ali passava a correr, sorrindo ainda o sol não havia nascido, guardando um tesouro adormecido em casa, poucos dias depois de ter dado à luz o seu rebento.

Também se recorda ele de uma Milha urbana, com um percurso de duas voltas, em que ela encabeçou a corrida na primeira volta para perder um lugar na segunda e conquistar o 2º lugar do pódio. Ele assistiu a tudo. Até à entrega das flores no pódio, àquela mulher que carregava a filha enquanto emocionada as recebia.

Presenciou também sofrimento, alegria e dor, quando ela sorria por fora e chorava por dentro outras corridas que se adivinhavam já perdidas.

Com sol, chuva, noite ou dia, tantas vezes ela ali passou. Por ele. Nele se apoiou tantas outras vezes, tocando ao de leve o seu caule lenhoso, como se para não o magoar, para se equilibrar enquanto alongava e repousava os olhos na baía.

Parecia outra mulher nesses tempos. Mais magra, mais enérgica. Mas não, ele fixa-a de novo lá em baixo a alongar. É ela. O mesmo sorriso quando corre, é ela, não há dúvida disso.

Exercício: 50 minutos de corrida contínua lenta

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Fazer a diferença...

Quando despia a camisola para se equipar e os seus olhos depararam com a nódoa negra, mesmo em cima da veia do braço, ela parou com a camisola meia vestida meia despida, e sentiu uma satisfação, quase uma vaidade, como se ostentasse um prémio de que se orgulhasse. Como se um segredo guardasse, como se aquilo fosse a prova que ela ia um nadinha mais além. Além do seu mundinho onde se acostumara e acomodara a viver. Aquilo poderia parecer nada, mas era alguma coisa. Alguma coisa que lhe lembrava que há vidas bem diferentes da sua e que ela pode fazer a diferença. Todos nós podemos, mas que quase sempre nos “convêm” esquecer. Por comodismo, egoísmo, ignorância até. Esquecermos enquanto pudermos e a própria vida não se encarregar de nos atirar com uma outra vida pela frente, que não foi escolhida, caída sobre nós em catadupas de peso que julgáramos impossível suportar. Fora do nosso mundinho, há dramas de tamanho e maiores que o próprio mundo. Alheios, seguimos a nossa vida. Mas por vezes custa muito pouco, pelo menos tentar, fazer diferença para alguém. Uma pequena diferença ou até a diferença… entre a vida…e a morte.

Não tinha pensado escrever nada disto. Tinha até pensado não dizer a ninguém. Como se temesse que a intitulassem de qualquer coisa similar a exibicionista, ou tipo “tem a mania que é boa, e vem para aqui gabar-se”, mas depois as linhas saíram naturais, fortes e sem medo perante a hipótese de, como ela quando recebeu um mail alusivo ao assunto tomou a iniciativa, mais alguém, um único indivíduo que seja, ao ler estas linhas, possa dar o passo. Real. E vir de facto, a fazer diferença para alguém. Esteve hoje de manhã ela, no CEDACE, onde completou a sua inscrição como dador de medula óssea.


Depois, levantou os braços e acabou de tirar a camisola que atirou para cima da cama. Equipou-se e foi correr. 40 minutos apenas, suficientes para lhe mostrar que ela não pode jamais deixar de correr...

domingo, 25 de janeiro de 2009

XX Grande Prémio Fim da Europa – 25.01.2009

Apesar de já não ser nova, não deixou de a achar estranha. A sensação. De ter feito algo só seu, só por si, que acabará inevitavelmente por se reflectir nos que a rodeiam. É assim a Corrida. É o que a corrida também nos pode dar. Uma sensação de bem-estar, de missão cumprida, de conforto, de felicidade. Pela conquista, pela partilha, pela superação e pela vitória. Absolutamente pessoal e muitas vezes incompreensível para terceiros.

Assim foi na XX edição do Grande Prémio Fim da Europa. Algumas semanas antes, inscrevi-me. De forma fácil, através do site da prova. Pagamento através de Multibanco e em menos que dois dias estava legal e oficialmente inscrita. Mesmo sem saber em que estado físico chegaria ao dia da prova.

Se disser que, por diversas razões, nos últimos três meses, os meus treinos foram apenas 2 nas 2 últimas semanas que antecederam a prova, não estarei muito longe da verdade.

Assim, com perto de 10 kg a mais do que o meu peso “normal” e sem treinos, apresentei-me em Sintra, para pela 3ª vez consecutiva ir dali ao ponto mais ocidental da Europa: o Cabo da Roca.

O levantamento dos dorsais fez-se de forma regular, apesar de faltar listas de inscritos e falta de indicação sobre o local específico para levantamento de dorsais de equipas e de individuais.

Prova controlada por chip, nome indicado no dorsal, ambiente animado e ordenado e o tiro é dado pontualmente.

Sintra no seu resplendor abre-nos os braços verdes e avançamos pela Serra acima. Destaco os primeiros quilómetros de prova acompanhada de José Carlos Jorge, amigo das corridas, em que eu muito pensei antes de me lançar em tal odisseia nas condições físicas presentes.

O importante é chegar. Avanço num passo miudinho, o único possível de manter num percurso íngreme e que se estenderia ainda por muitos quilómetros. Do princípio ao fim seguirá comigo Fernando Oliveira, um “velho” amigo reencontrado. A vida dá muitas voltas, de facto…

A prova está bem sinalizada, sem trânsito, quilómetros marcados e abastecimentos suficientes. Até para quem seguia na minha posição, o que nem sempre acontece.

Ao km 10 vejo-me obrigada a caminhar por alguns metros. Nova inclinação, depois das já vencidas, e as pernas parecem-me pesar toneladas. De facto, nunca as tinha tido tão pesadas na minha vida. Bastante antes do km 11, retomo a lenta corrida. Vê-se o mar e o farol escondido por trás do arvoredo. Novo ânimo. O percurso desce agora. Não fosse o terrível adversário que primou pela dureza, o vento, e teria chegado melhor. Depois do esforço para ali chegar, tive (tivemos) ainda de lutar para nos mantermos no percurso certo. Literalmente varridos pelo vento, passo a passo, sem conseguir manter uma linha recta de progressão, vejo o Carlos Viana e logo na meta o José Gaspar, de máquinas fotográficas em punho a fazer o habitual e excelente trabalho da AMMA, onde dispõem rapidamente Álbum de fotos da prova.

Desligo o cronómetro e este marca 2h01m02s, desde a partida, a 16.945 metros de distância. Baixo a cabeça, e sinto-me completamente estoirada. Cabeça tonta, cheia de vento, desta vez literalmente, e valem-me os amigos que me cercam. Estou contente. Estou contente, a sério.

Bebo chá e água, que é o que resta de uma vasta mesa de iguarias que aconchegou o estômago a atletas menos lentos e aos inúmeros atletas da mini-prova.

Recebo uma medalha a juntar à camisola de manga comprida e ao saco já recebido. Autocarros de regresso a Sintra levam os vários atletas de volta. Entrega de prémios no local, na vasta tenda que nos protege. Em poucas horas, a organização disponibiliza os resultados no site oficial da prova.

Esta foi a minha primeira prova com 40 anos de idade. Assim a vida me permita fazer muitas mais. E para o ano, na XXI edição conto de novo lá estar. Noutras condições físicas certamente.


Fotos:

Antes da partida, momentos marcados por encontros e reencontros com vários amigos, assim como primeiros encontros com vários atletas já bem conhecidos do Mundo dos blogues...
Com a Otília, dos Entroncamento Runners:
Durante a prova, já perto da meta, quando o pior já tinha passado, mas em que a luta contra o vento ainda nos exigia forças que já tinham sido usadas:
A chegada à meta, com o meu amigo Fernando Oliveira, que me acompanhou do princípio ao fim, e se não fosse ele, muito provavelmente eu não estaria aqui hoje:



O Depois:
Alongamentos e com o meu amigo António:

Fotos propriedade de AMMA, gentilmente cedidas

sábado, 24 de janeiro de 2009

24 de Janeiro de 1969 - 24 de Janeiro de 2009

(carregue na imagem para aumentar e LER!)


Conta-se que no dia 24 de Janeiro de 1969, viu a luz da noite pela primeira vez (pois o parto deu-se às 21h45m desse dia), Ana Maria de Oliveira Pereira, que por razões desconhecidas, mais tarde viria a adoptar o nome de Maria Sem Frio Nem Casa e a criar um blogue com o mesmo nome.

40 anos de vida. São muitos dias caraças! Bem... venham mais 40...

......

Passava pouco das 0:00 Hrs do dia 24 de Janeiro de 2009, e recebia um telefonema e um mail com o diploma aqui mostrado.

Carlos Viana Rodrigues, com a ajuda de José Gaspar, criavam certamente o diploma mais criativo que alguma vez eu vi. E sem dúvida, o melhor conseguido e com a maior carga de emoção e sentimento, mas isso já é subjectivo. Daqueles que provam que a Amizade é uma palavra com muito mais valor que aquela outra amizade que se usa quando as circunstâncias da vida promovem e facilitam. Quem tem amigos assim jamais deixará de sorrir.

Aqui também, a eles, o meu obrigada!

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Melhor que nada...


Hoje sinto-me bem.

Assim foi durante o dia, assim o é agora que o dia dorme há horas. Noite já, peguei no corpo pesado, equipei-me e fui de carro para o local do treino. Chovia e a temperatura mostrada no painel digital do carro marcava 7ºC. Nada de especial portanto. Estaciono debaixo de um chorão e abro a porta do carro, logo invadido por uma rajada de vento frio carregado de grossas e pesadas gotas de chuva. Estou bem equipada mas não deixo de sentir um arrepio. Não se vê ninguém na rua. Saio, alongo ligeiramente debaixo da árvore que me abriga, e dou início à corrida ao mesmo tempo que ligo o cronómetro.

A chuva parou a meio do treino e corri calmamente durante 45 minutos num percurso plano. Melhor que nada...penso.

Pensei numa amiga que está longe e que apreciaria aquela chuva como eu, correndo ao meu lado. Ou de forma ainda mais intensa talvez. Mas corro só. Os efeitos da chuva são sempre purificadores e libertadores em condições como estas que a Corrida nos proporciona.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Exercício físico e patamares

Li que:

"Mais vale praticar exercício físico apenas uma vez por semana durante um ano, ou uma vida, do que fazê-lo todos os dias durante uma semana para depois regressar à total inactividade durante as restantes semanas do ano, ou da vida.
No entanto, para um melhor aproveitamento dos seus benefícios, é aconselhável a prática de exercício físico pelo menos 3 vezes por semana e por períodos não inferiores a 30 minutos cada."


Retirado de um livro qualquer

Quererá isto dizer que era melhor para mim, correr apenas uma vez por semana, como o fazia há meses atrás, de domingo a domingo, de corrida em corrida, e ir mantendo essa regularidade (regularidade ?), do que me dar na veneta e exercitar-me entusiasticamente durante dias seguidos, para depois parar completamente, como o faço agora?

Terá isto algum fundo de verdade?

Alguém tem uma palavra a dizer? E eu? Tenho eu uma palavra a dizer? Ah sim! Com certeza!

O facto de olhar para trás no calendário e não me lembrar da última vez em que corri (ou pratiquei qualquer outro tipo de exercício físico mais do que 2 vezes na mesma semana), assusta-me um bocado e agora que deveria dizer "Já não corro", sinto o peso da diferença de correr domingo a domingo, e de não correr.

Hoje, sinto que:

- o facto de não praticar exercício físico ajuda-me a despreocupar-me em demasia com o que como, o que me tem levado a cometer erros e excessos, que por sua vez me têm levado a engordar desmesuradamente, o que sua vez também me têm levado ao ponto seguinte;

- tenho imensa dificuldade em mexer-me no que a actividades simples do quotidiano diz respeito, como baixar-me e levantar-me, correr para o autocarro, subir escadas, etc. (sem falar numa longa - ou curta - noite de sexo ).


Pelo acima exposto, sinto que tenho de esquecer grandes feitos, para cumprir apenas os pequenos que me permitirão de novo fazer-me sentir melhor, fundamental e simplesmente no que à saúde e bem estar diz respeito.

E é neste patamar que me encontro a escassos 5 dias do meu quadragésimo aniversário…

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Anne Frank

"Toda a gente" já deve ter lido o "Diário de Anne Frank". Como primo por raramente fazer parte desse grupo fantástico que é "toda a gente", só agora eu, estou a ler essa preciosidade, que mais que um livro, é um verdadeiro documento histórico.

Para outros que como eu não sejam "Toda a gente", esclareço muito resumidamente que Anne Frank (1929-1945) foi uma jovem de família judia, que se viu obrigada a esconder-se com a família e alguns amigos num esconderijo (Anexo Secreto), em Amsterdão, durante a II Guerra Mundial, para se protegerem dos Nazis. Durante esse período de cerca de 25 meses, fechada e assustada com as notícias que iam recebendo de fora, sustenta um diário onde expõe os seus pensamentos, e descreve com pormenor a sua vivência, e o daquelas pessoas, o que é considerado um autêntico documento histórico. Acabaram por ser denunciados e descobertos. Anne Frank foi deportada para campos de concentração nazistas e acabou por morrer de Tifo pouco antes da guerra acabar. O Diário é hoje um livro que "toda a gente" deveria ler.

Isto a propósito de quê? Do meu estado de espírito de hoje. Ao avançar no Diário, equiparo algumas vertentes da minha vida com a vida dos judeus escondidos. Não no aspecto das perseguições, terrores que passaram e que viam os seus amigos passar. Não tenho dúvidas que a isso nada se poderá comparar. Também não no aspecto de ter de viver em silêncio, fechada, caminhar em bicos de pé pela casa ou ter sempre as cortinas corridas sem ver o sol.

"Então em quê, sua mal-agradecida que mais devias era dar graças pela vida que tens?!" – perguntarão alguns.

E eu respondo: no aspecto de ter a sensação da minha vida hoje se resumir a cumprir os dias, os meus e os da minha filha. Fazê-los passar, o mais segura possível, mais confortável possível, mais agradável possível. Garantir que se alimenta o corpo e o espírito, e aguardar. Cumprir os dias e aguardar. Que a guerra passe. Que venham outros dias, menos turbulentos e menos instáveis. Com alguma sensação de segurança e de estabilidade.

O pior é que esta guerra, não tem fim à vista. E se é verdade que no Diário, as pessoas assim viviam porque a isso foram obrigadas, eu sou livre para escolher. No entanto, diversas circunstâncias limitam-nos a escolha, e a sensação, essa não a escolho entre muitas outras.

Podemos ordenar as nossas acções, mas jamais o que sentimos. Mas pior ainda, é quando temos consciência que até mesmo a sensação de segurança, não passa disso mesmo, de uma sensação. No entanto precisamos dela, e se ela nos falta para dar lugar a outras sensações, podemos estar à beira de um abismo.

Fecho o livro e respiro. Pouso-o na mesa. Hoje, acaba-se mais uma semana cumprida. Sem treinos.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Ritual

Por circunstâncias várias, das quais se destaca a vontade, que pode muito bem ser já por si consequência de circunstâncias, elas têm feito aquilo com frequência. Tal frequência que já se tornou rotina e de rotina depressa se transformou em ritual, tal é o prazer que sentem cada vez mais em fazê-lo juntas.

Cozinha arrumada ou não, têm optado por se deitar cedo (relativamente como quase tudo na vida), e ambas à mesma hora e na mesma cama. Sob os muitos cobertores e edredon, com aquecedor ligado e sobre várias almofadas fofas, cada uma delas se instala o melhor que pode. Corpos encostados para aumentar ou manter o calor, mantendo só de fora apenas as mãos para segurar cada qual o seu livro, as quais acabam sempre e invariavelmente por gelar ao ponto de se deixar de sentir as pontas dos dedos.

Lêem em silêncio, apenas interrompido quando uma delas se delicia de tal forma com uma passagem do seu livro que a quer partilhar com a outra, ou quando algo aflora aos seus pensamentos e se dá início a diálogos ricos e importantes. Ir juntas para a cama ler, não é mais que um pretexto para estarem juntas, muito mais que fisicamente. Amor que se reforça num momento do dia só delas.

Corpos unidos, aparentemente partilham apenas a cama, contrariamente ao que hipotéticas e práticas pedagogias ditam. Muito mais elas partilham nesse momento único do dia. Laços que deveriam ser cortados (diz-se), mas que propositadamente elas mantêm. " Porque um dia quando arranjares alguém...vai ser mais complicado..." dizem – como se as pessoas andassem por aí "avariadas" e ela estivesse na disposição de as consertar, leia-se "arranjar". A mãe não ouve. Um dia…Um dia… Hoje é o dia! O dia é hoje!

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Dias frios sem treinar

"- Mãe… se houvesse um incêndio cá em casa, o que é que tu salvavas primeiro?
- A ti! – a resposta saiu-lhe imediata, sem o mínimo de hesitação.
- E a seguir?
- Os passarinhos. – também sem qualquer prévia reflexão pois a Vida sobrepôs-se naturalmente a qualquer bem material existente na casa.
- E a seguir?
- Os livros. Os meus e os teus! – a resposta saiu como as outras, imediata, pura, sem filtros.
- E a seguir?
- A seguir… - aí ela ficou em silêncio. Pensou e não encontrou nada com valor suficiente para que ela viesse a lamentar verdadeiramente a sua perda."

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

A gota de água e ... o 1º treino

"Às cinco e cinquenta e cinco da manhã já estava no Parque da Paz! Corri sessenta minutos!"

A voz soou-lhe fresca, límpida e fresca, e a mensagem pareceu-lhe familiar. Desperta e arrancada da história do livro que lia e no qual mergulhara assim que se sentara, ela levantou os olhos involuntariamente e vi-o. Olhos castanhos bonitos, um corpo agradável e visivelmente em forma embora escondido sob a roupa de inverno.

Se fosse noutros tempos, ela sentir-se-ia especial. As pessoas que os rodeavam dentro do barco, com as habituais caras enfadonhas matinais, desapareceriam como se por magia e ela juntamente com ele e o interlocutor deste – que pelo decorrer da conversa se veio a verificar que também corria – imergiriam num mundo à parte. Um clã a que os três pertenciam. Um mundo à parte dos comuns mortais que os unia e os tornava especiais: o mundo da Corrida! Ela sorriria e a viagem perder-se-ia no tempo e falariam Dela (Corrida) sem parar.

Mas hoje ela sabe que isso não passaria de pura ilusão. Por mais que queiramos manter uma imagem imaculada dos cidadãos que correm, como se de um clã se tratasse, de um mundo superior, onde os sentimentos, as intenções e acções são puros e altruístas, isso não se verifica.
Não há na maior parte dos casos uma paridade ou semelhança sequer, na atitude da pessoas nas outras áreas da sua vida. As pessoas são por demais diferentes. E só o facto em si, de partilharem uma paixão, não é de todo suficiente para atingirem outro estatuto na vida do outro.

Há a Corrida e há muito mais. Se há uns tempos atrás ela diria que a corrida são rios formando o Oceano, imenso e grandioso como só ele, hoje ela sabe que a Corrida não é mais que uma gota de água na vida de uma pessoa.
No entanto, não deixa também de ser verdade que cada gota de água na vida das pessoas pode fazer toda a diferença… e há até quem diga que "a gota de água" faz transbordar o balde, tal é a sua importância...

Depois destas rápidas reflexões que não lhe demoraram mais que um milésimo de segundo, quase tão rápido como tinha levantado os olhos, ela baixou-os e retomou a leitura. Até à outra margem.

À noite, quando chegou a casa...


O 1º Treino
Equipo-me e saio para a rua para correr. Corri. Foi o 1º treino. Não, não estou a recomeçar, o que eu estou é mesmo a começar. É que pela primeira vez na minha vida, vejo-me a escassos dias da bonita idade de 40 anos, vejo-me com um peso excessivo (mais do que é costume) e vejo-me com largos meses de inactividade física minimamente regular. Por isso, não estou a recomeçar nada! Estou mesmo é a começar. Começar a correr, assim, como me é possível nas circunstâncias que a vida me proporciona hoje e naquelas que consigo criar.

E assim corri. 43 minutos consecutivos de corrida muito lenta em piso plano.

O que me custou bastante ou que não gostei:

- Vencer a inércia, equipar-me e sair para a rua decidida;
- Respirar;
- Levantar os pés do chão;
- Sentir várias partes do corpo balançarem balofas, pelo facto da sua composição actual ser essencialmente gordura;
- Das várias dores de burro (burra neste caso) e vários espasmos a nível do abdómen;
- Do vento frio inicial;
- Da sede;
- Da água gelada que estava no carro (à temperatura ambiente, mas o ambiente era gelado! - claro que estou a exagerar... estavam uns amenos 8ºC o que não é nada por aí além tendo em conta o lugar e a época)

O que me deu prazer ou que gostei particularmente:

- Ter vencido a inércia, equipar-me e sair para a rua decidida;
- Sentir o ar fresco no rosto;
- Sentir-me livre;
- Ter trazido uma garrafa de água que me esperava no carro no fim do treino;
- Voltar a sentir-me confiante e …poderosa!

Nada disto é de admirar… Depois deste treino, digo para mim mesma que não vou mais abandonar a Corrida (afinal ela nunca me abandonou), mas também não posso dizer que conseguirei participar no Grande Prémio Fim da Europa, a 25 de Janeiro, de forma a conseguir ter mais prazer do que sofrimento, e se não for dessa forma, não tem razão de ser. Não sei…Veremos.

Para enfrentar o Inverno, treino com Gorro, luvas, corta-vento e ... força de vontade:




Até amanhã ... ou depois... querido diário

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

A Verdade e A Mentira ou O Branco e O Preto


O que era ontem verdade, é hoje mentira, e o que era ontem mentira, é hoje a mais crua verdade. É assim a minha vida. O preto passa a branco e o branco a preto, impulsionados e manipulados por dragões e anjos que coabitam as trevas e as luzes da minha existência, e que caprichosamente delineiam os caminhos.

Não! Não desisti (pelo menos da ideia) do XX Grande Prémio Fim da Europa, mas circunstâncias várias dos últimos tempos, mostram-me a minha vida como gelo derretido sobre tabuleiro que sustento nos braços enquanto caminho, oscilando o líquido ora para a frente, ora para os lados, ora para mim, ameaçando molhar-me toda ou verter-se para o solo!

Equilíbrio difícil de manter este, para se tentar não derramar o precioso líquido. Quer seja por mera falta de equilíbrio, quer pelo piso irregular, quer pelos ventos nem sempre favoráveis ou ainda por empurrões e cotoveladas de terceiros, um facto é que nem sempre me tem sido fácil avançar sem perder pedaços de vida, vulgo água, nesta viagem que tomo desde 24 de Janeiro de 1969.

Até amanhã querido diário

domingo, 4 de janeiro de 2009

Grande Prémio Fim da Europa

É, se não a mais bonita, sem dúvida alguma, uma das mais bonitas corridas que já fiz. O Grande Prémio Fim da Europa.

Dia 25 de Janeiro de 2009, um dia depois do meu 40º (quadragésimo) aniversário, realizar-se-á o XX Grande Prémio Fim da Europa. XX! 20º! Vigésimo! Pela vigésima vez!

Com saída de Sintra, atravessando a serra, em direcção ao mar, chega-se ao ponto mais ocidental da Europa, Cabo da Roca. Uma corrida… que nos arrebata palavras. Nos deixa sem respiração, e não é só por falta de fôlego…

Apenas a conheci na sua 18ª edição, em 2007, e não iria perdê-la em 2008.

E estamos já em Janeiro de 2009. E a 20ª edição está já aí… E eu? Sonho, desejo... atrevo-me?

Site da prova, onde se pode obter informações, fazer inscrição e ... ficar com água na boca...:
http://www.fimdaeuropa.com/inicio.html

sábado, 3 de janeiro de 2009

Feliz Ano Novo

Desejo a todos que aqui me visitam, Um Feliz Ano Novo!

Que 2009 traga a cada um, o que cada um mais deseja! Que cada um consiga traçar e seguir o caminho que o torne mais feliz. A si próprio e aos que o rodeiam, e que isso seja possível.


Que a esperança se renove, e que se acredite mais que nunca que as nossas "resoluções de Ano Novo" em muitos casos repetidas cada ano, se concretizem este ano.

Que 2009 seja Um Bom Ano para todos!