
Apesar de já não ser nova, não deixou de a achar estranha. A sensação. De ter feito algo só seu, só por si, que acabará inevitavelmente por se reflectir nos que a rodeiam. É assim a Corrida. É o que a corrida também nos pode dar. Uma sensação de bem-estar, de missão cumprida, de conforto, de felicidade. Pela conquista, pela partilha, pela superação e pela vitória. Absolutamente pessoal e muitas vezes incompreensível para terceiros.
Assim foi na
XX edição do Grande Prémio Fim da Europa. Algumas semanas antes, inscrevi-me. De forma fácil, através do
site da prova. Pagamento através de Multibanco e em menos que dois dias estava legal e oficialmente inscrita. Mesmo sem saber em que estado físico chegaria ao dia da prova.
Se disser que, por diversas razões, nos últimos três meses, os meus treinos foram apenas 2 nas 2 últimas semanas que antecederam a prova, não estarei muito longe da verdade.
Assim, com perto de 10 kg a mais do que o meu peso “normal” e sem treinos, apresentei-me em Sintra, para pela 3ª vez consecutiva ir dali ao ponto mais ocidental da Europa: o Cabo da Roca.
O levantamento dos dorsais fez-se de forma regular, apesar de faltar listas de inscritos e falta de indicação sobre o local específico para levantamento de dorsais de equipas e de individuais.
Prova controlada por chip, nome indicado no dorsal, ambiente animado e ordenado e o tiro é dado pontualmente.
Sintra no seu resplendor abre-nos os braços verdes e avançamos pela Serra acima. Destaco os primeiros quilómetros de prova acompanhada de José Carlos Jorge, amigo das corridas, em que eu muito pensei antes de me lançar em tal odisseia nas condições físicas presentes.
O importante é chegar. Avanço num passo miudinho, o único possível de manter num percurso íngreme e que se estenderia ainda por muitos quilómetros. Do princípio ao fim seguirá comigo Fernando Oliveira, um “velho” amigo reencontrado. A vida dá muitas voltas, de facto…
A prova está bem sinalizada, sem trânsito, quilómetros marcados e abastecimentos suficientes. Até para quem seguia na minha posição, o que nem sempre acontece.
Ao km 10 vejo-me obrigada a caminhar por alguns metros. Nova inclinação, depois das já vencidas, e as pernas parecem-me pesar toneladas. De facto, nunca as tinha tido tão pesadas na minha vida. Bastante antes do km 11, retomo a lenta corrida. Vê-se o mar e o farol escondido por trás do arvoredo. Novo ânimo. O percurso desce agora. Não fosse o terrível adversário que primou pela dureza, o vento, e teria chegado melhor. Depois do esforço para ali chegar, tive (tivemos) ainda de lutar para nos mantermos no percurso certo. Literalmente varridos pelo vento, passo a passo, sem conseguir manter uma linha recta de progressão, vejo o Carlos Viana e logo na meta o José Gaspar, de máquinas fotográficas em punho a fazer o habitual e excelente trabalho da
AMMA, onde dispõem rapidamente Álbum de fotos da prova.
Desligo o cronómetro e este marca
2h01m02s, desde a partida, a 16.945 metros de distância. Baixo a cabeça, e sinto-me completamente estoirada. Cabeça tonta, cheia de vento, desta vez literalmente, e valem-me os amigos que me cercam. Estou contente. Estou contente, a sério.
Bebo chá e água, que é o que resta de uma vasta mesa de iguarias que aconchegou o estômago a atletas menos lentos e aos inúmeros atletas da mini-prova.
Recebo uma medalha a juntar à camisola de manga comprida e ao saco já recebido. Autocarros de regresso a Sintra levam os vários atletas de volta. Entrega de prémios no local, na vasta tenda que nos protege. Em poucas horas, a organização disponibiliza os resultados no site oficial da prova.
Esta foi a minha primeira prova com 40 anos de idade. Assim a vida me permita fazer muitas mais. E para o ano, na XXI edição conto de novo lá estar. Noutras condições físicas certamente.
Fotos:
Antes da partida, momentos marcados por encontros e reencontros com vários amigos, assim como primeiros encontros com vários atletas já bem conhecidos do Mundo dos blogues...
Durante a prova, já perto da meta, quando o pior já tinha passado, mas em que a luta contra o vento ainda nos exigia forças que já tinham sido usadas:

A chegada à meta, com o meu amigo Fernando Oliveira, que me acompanhou do princípio ao fim, e se não fosse ele, muito provavelmente eu não estaria aqui hoje:



O Depois:
Alongamentos e com o meu amigo António:

Fotos propriedade de
AMMA, gentilmente cedidas