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quarta-feira, 12 de setembro de 2007

A minha MEIA DE S.JOÃO DAS LAMPAS

No próprio dia ainda hesitou. Mas forçou-se a ir, como anti depressivo receitado que deve ser tomado.

Seguiu sozinha no carro. Uma viagem curta. Nada de especial. Atravessa o Tejo e asfixia-se no IC19, para sair em direcção a Mafra. Aos poucos a paisagem liberta-se e liberta-a. Vai-se afastando da cidade. Indústrias ainda, mas cada vez há mais ar, mais espaço. Terra de mármore espalhado pelos campos e o rural vai-se manifestando em cada tabuleta que nos segreda baixinho “S.João das Lampas”. Seguiu a voz e cada vez vai entrando mais noutro mundo. Outras terras, vidas, ares, gentes. Adivinha-se o mar no horizonte, e as casas brancas e baixas acolhem-nos. Faz-nos bem ir a S.João das Lampas.

Chega. A terra está adornada e há um bulício especial no ar. Estaciona numa rua sossegada ainda e fica momentos em silêncio no carro, respondendo a perguntas que o seu inconsciente lhe veio fazendo durante o caminho. As respostas eram claras agora.

Sai do carro e procura gente. Passa invisível por minutos mas depressa amigos e conhecidos encontra. Beijos, abraços (alguns contidos, pois a timidez e o preconceito e sei lá mais o quê continuam a impedi-la de verdadeiramente mostrar o que sente), saudades, verdadeiro e sentido prazer em rever! Tanta gente!

Não vou mencionar ninguém pois todos são importantes, e certamente não ia conseguir mencionar todos. Reconhecem a importância do “Bom dia” que o homem do café nos dá? Ou daquele atleta que nos aperta a mão e se alegra por nos ver? Daquela rapariga que não se via há anos e nos faz uma festa, que retribuímos espontaneamente?

S. João das Lampas foi isto. Senti-me em casa, e logo eu que não tenho casa. Talvez por isso desde há três edições que lá vou consecutivamente.

As únicas pessoas que vou hoje aqui destacar, sem menosprezar quaisquer outras, são o Orlando Duarte e a sua esposa, Leonor Duarte, pois naquela tarde só confirmaram o que eu já sabia: são pessoas extraordinariamente bonitas!

A Leonor hoje não ia correr. O Orlando dispôs-se a acompanhar-me, o que me assustou um bocado pois sabia ser bastante difícil para mim fazer o tempo que ele propunha: entre 1h50m e 1h55m. Posto ao corrente não se demoveu e fez a prova toda ao meu lado, ou antes, à minha frente para me ir rebocando nos momentos mais críticos. Graças a ele fiz só 2h02m38s, apenas uns segundos a mais que no ano passado.

O percurso:

O apoio do público, as palavras, as palmas, os olhares e os sorrisos. As subidas a mostrarem-nos campos a perder de vista, e sempre o mar que se adivinhava lá longe. O ar puro. O cheiro a esterco fresco, um mimo para quem trabalha no centro de Lisboa e raro é o dia em que o cheiro a esgoto e aos passeios imundos de toda a espécie de porcaria não nos invade as narinas.

As voltas e passagem por S.João das Lampas, onde de novo vemos os amigos que lá estão para nos apoiar. E como apoiam!

A Leonor, linda, a gritar-nos força, segurando a Fiona e o Cadete com as trelas. Tão bonita a Leonor!

Como as pessoas ficam bonitas simplesmente por aquilo que são!

A animação ao longo do percurso. Um órgão, um amplificador, um homem e um microfone. A cantar “Sex Bomb!”. O Orlando refrescava-se em cada chuveiro, parou para balancear o corpo ao som da música, as pessoas a aplaudir e eu, só sorria e corria como podia, pois se parasse temia não conseguir voltar a mexer-me.

O Orlando falava pausadamente, com a serenidade e sensatez que lhe é típica. Eu, tentei conversar mas o fôlego nem sempre mo permitiu. Correu junto a mim fisicamente mas não esqueceu a Ana Paula Pinto que deveria de estar aqui, nem a sua filha que partiu cedo demais. Lembrou-nos isso, e trouxe-nos o pensamento à luz do dia.

Fomos parceiros solidários, no esforço da corrida, no pensamento em conjunto. E também contra o trânsito, nós e outros atletas, quando o perigo de abalroamento se fez sentir demasiado perto.

Nestas duas horas que a prova durou, vi como o Orlando é bonito, a sorrir, a conversar, os seus olhos a brilhar, nitidamente pelo prazer que lhe deu o que estava a fazer, e eu acho que nunca tinha reparado.

Depois de o termos ultrapassado, o “nosso” Avó Cantigas (Carlos Vidal) volta a apanhar-nos e ainda conversamos um bocadinho sobre um fabuloso CD dele com uns 4 ou 5 anos de edição, que por casualidade tenho neste momento no carro e passa todas as manhãs e tardes a pedido da minha filha, mas ele pouco mais disse que anunciar o seu último trabalho.

O Orlando ainda sugeriu cortarmos a meta juntos. Que seria uma honra para nós. A minha Mafalda adoraria uma foto dessas: a mãe a cortar a meta ao lado do Avó Cantigas. Não faltava mais de 2 ou 3 quilómetros, mas suspeito que o facto de ao comentário dele “admira-me a sua menina não pedir para comprar o último CD, é um sucesso!”, a minha resposta ter sido:

“Bem, não somos propriamente fãs, aquele CD foi-lhe oferecido tinha ela uns 6 anitos, está um espectáculo, traz o livro e as pautas, está bestial, as letras também são suas? Algumas são simplesmente lindas! Mas nem tinha conhecimento desse novo CD”

Ao que ele respondeu:

“Não, as letras são de Isabel Lamas que já faleceu. Mas admira-me a menina não pedir para comprar o novo. Está a ser um sucesso, o Fantasminha …“não sei da onde” – já não me recordo o que ele disse.

o fez esquecer a honra que nos daria cortar a meta com ele.

A partir desse momento a conversa acabou. O Avó foi para a frente e eu não tive pernas para o acompanhar. Gostaria muito de ter cortado a meta com ele. Não por mim, pela Mafalda.

O Orlando manteve-se comigo. Amigo é amigo. Com ele os quilómetros passaram mais depressa.


Chegamos juntos, paramos os cronómetros e a organização brinda-nos com mimos. Foto à chegada para além de muitas outras durante a prova – um serviço da AMMA. Palavras e sorrisos. Felicitações, preocupação se estamos bem, e vão-nos enchendo um saco com imensos produtos alimentares regionais, para além da muito bonita medalha e da t-shirt. Água e bebida isotónica não falta, assim como não faltou nos abastecimentos.

O cuidado para connosco atletas foi de 5 estrelas! Estou um bocado abananada e querem-nos fotografar. De medalha ao peito. Na ausência momentânea de algumas faculdades físicas e mentais, a querida da Leonor segura-me nas coisas e o Orlando remexe-me no saco para retirar a minha medalha e coloca-me ao peito!

Recordo-me de lhe ter dito:

- Cuidado, não me parta os ovos - os ovos, fazem falta lá em casa.

Obrigada Orlando Duarte e obrigada Leonor Duarte. Para além de tudo o resto, vocês especialmente fizeram a minha tarde mais feliz, com muita emoção.

Por tudo isto, sempre que me seja possível, pela forma como S.João das Lampas nos recebe, voltarei lá sempre! Não tenho dúvidas disso. É uma prova onde, desde que conheci, me sinto bem, acarinhada, especial, mesmo ficando classificada perto da última dezena de atletas chegados.

Fernando Andrade, conte comigo desde já para a 32ª edição!

Ana Pereira
Setembro 2007

5 comentários:

Anónimo disse...

"Como as pessoas ficam bonitas simplesmente por aquilo que são!"

É por estas e por outras que eu admiro a sua forma de ser.

Continue com coragem.

José que também corre

Anónimo disse...

Obrigada por terem recordado a minha filhota.

A verdadeira coragem não reside no aceitar a sua morte, ms aceitar a vida, agora que não a tenho. Nada pude fazer por ela e, por mim, falta-me vontade de fazer seja o que for.

Com um pouco mais de esforço da minha parte, um destes dias, calço os meus "sapatinhos" novos de corrida e peço companhia para um treino. Sozinha não sou capaz.
Paula
Beijinho

TOTO disse...

Olà Ana;
parabens pêla sua prova.
boa continuaçâo i corage.
para u seu treino.
antoine

Anónimo disse...

Olá Ana, Não vou à prova das Lampas à algum tempo, e tenho algumas saudades daquele sofrimento após os 15 kms. É uma boa e exigente prova e só não fui porque não me deixaram ir...outros compromissos.

Quanto aos prémios, mercearia, é das melhores. Ovos, bolachas, sumos...etc. O tempo que fizeste Ana, não julgo que seja mau comparando com a Meia de Pombal (talvez a companhia e o estares a pesar menos tivessem ajudado). Ficaram 12 atrás de ti? E os que nem sequer lá apareceram como eu? Também a todos os que não foram ganhaste né? Por isso anima-te e toca a treinar mais.

Amigos Tó (Anónimo) e Toto (Antoine) no Porto "bamos" beber um café juntos tá?

Paula Pinto! Coragem vá! Se fosses ao Porto também "binhas" connosco. Já pensaste em fazer a mini? Pensa nisto minha amiga, eu ajudo-te a a dar corda aos teus sapatos tá? Não te vás abaixo, pensa também nos que gostam de ti e que te querem alegre e forte como anteriormente.

Ana, sempre que possas, vai treinar, nem que sejam 30'. O grande dia aproxima-se rapidamente e tens de mostrar que as meias maratonas que fizeste foram um simples treino e que consegues correr muito melhor. Ana, mostra a tua força, a tua raça na recta final.

Bons treinos
Fernando Sousa

TOTO disse...

sim espéro mesmo de vous encontrar,
para beber un café.

façâo bons treinos.
coragem.
antoine