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segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

"Dois saquinhos de sangue" ou "Um fim de semana memorável"


A Vida é todos os dias, vive-se cada segundo sabendo que em cada segundo vivido, se usa e gasta um exacto segundo do crédito dos segundos que a vida nos deu e temos para viver. "Eu vivo muito intensamente cada segundo...porque a vida está sempre a contar e ...eu aproveito cada momento ao máximo, ao contrário de alguns que passam pela vida adormecidos, vazios e pobres...blá blá blá blá blá blá blá blá blá blá blá blá blá blá blá blá blá blá blá blá blá blá blá blá blá... - parece ouvir.

Não gosta do discurso. Conhece-o bem. Pousa o lápis de carvão sobre o papel, e recosta-se na poltrona. Escreverá mais tarde. 
Mais tarde...

Há muito tempo que o desejava fazer. Sempre sentiu que é uma obrigação de todos os indivíduos saudáveis, no entanto, poderíamos agradavelmente e até orgulhosamente dizer que foi sempre a sua vida "cheia, rica e completa" que nunca lhe permitiu ir dar sangue, por falta de tempo e oportunidade, mas seria uma mentira descarada, o que a impediu de o fazer até agora foi clara e inequivocamente o egoísmo, o comodismo e a indiferença. Vira uma vez mais o cartaz a anunciar a vinda do Instituto Português do Sangue à sua aldeia para recolha de sangue e pensou que desta vez é que seria! 

De mãos dadas entraram no edifício. Seria a primeira vez de ambos. Mais um momento de cumplicidade e partilha. Algum nervosismo e muito altruísmo. Lá seguiram todos os passos necessários que à partida os habilitaria como dadores, e depressa já estava ela deitada numa maca de agulha espetada no braço, a sangrar para uma bolsa que se ia enchendo lentamente de sangue vermelho escuro. Sentiu-se ligeiramente tonta por escassos segundos, sentiu frio, mas estava bem, sempre sob a vigilância e cuidados dos técnicos, extremamente profissionais e amáveis, e no fim, quando o médico jovem e bonito, de olhos doces castanho avelã, ao analisar o sangue dela, assim, a olho nu, que com dificuldade percorria os tubos estreitos, e com suavidade como que a não querê-la assustar, conversou com ela, fez-lhe várias perguntas e falou-lhe do que "via" naqueles tubos transparentes, e que não seria nada bom que viesse a acontecer dentro das veias dela, e a aconselhou a procurar um médico com alguma brevidade, ela sentiu um frio estranho e intenso a entranhar-se-lhe no corpo. Viu o pai e escureceu-se-lhe a alma e o olhar, tem a certeza. Ainda assim sorriu, ouviu tudo com muita atenção, agradeceu, prometeu ir ao médico e foi tentar aquecer-se com café de cafeteira que ofereciam juntamente com bolinhos. Depois, deu de novo a mão ao namorado, e saiu de lá contente. Tinham lá deixado dois saquinhos de sangue. Para servir a alguém que precise dele. 

De facto, cada segundo que passa, cada passo que damos, cada acção que tomámos, é decisiva para o delinear e a direcção do nosso caminho. O nosso e até o dos outros. E este fim de semana, foi sem dúvida alguma... um fim de semana memorável.
 

5 comentários:

Corre como uma menina disse...

Confesso que também nunca dei sangue. Penso sempre "um dia destes" e deixo andar. Mas deve ser uma boa sensação, dar algo de nós aos outros, desinteressadamente.

S* disse...

Mas que bonita acção... se todos fizerem a sua parte fica mais fácil.

horticasa disse...

Bem vinda ao clube.
Tenho o maior orgulho e vaidade de ser dadora de sangue...
Mais uma ves, bem vinda ao clube, beijinho

Unknown disse...

olá Ana;

Muito bem. Eu também já fiz isso por algumas vezes. Não tantas como deveria, mas vamos dando tempo a umas coisas e vamos sendo egoístas involuntários para outras.

Bom gesto!

Um abraço
do Xavier

Joana (Palavras que enchem a barriga) disse...

Olá e muito obrigada pela tua visita no meu blog! Não conhecia o teu, mas gostei imenso do que já li! :)

Eu já fui dadora de sangue e de medula óssea - por acaso um dia é o meu dever falar disso, principalmente da parte de ser dador de medula óssea, que infelizmente ainda está associado a imensos mitos.

Sobre o teu comentário tens toda a razão: eu também tento variar e não andar sempre a comer as mesmas coisas. Acho que infelizmente ainda faço um pouco isso em relação aos iogurtes, mas tenho de mudar isso :)

Novamente, obrigada pela visita :)

Beijinhos!