Pesquisar neste blogue

quarta-feira, 16 de abril de 2008

Relatividade ou Dimensão dos problemas ou Outra Coisa Qualquer

Quando a meio da manhã saí do escritório a correr e disse que ia ali num instante assaltar um banco, ninguém estranhou pois certamente não me levaram a sério. Limitei-me a acrescentar que se ouvissem a polícia, houvesse bulício na rua e eu não voltasse, era porque tinha sido apanhada. Passados alguns minutos voltei e a normalidade dentro do escritório tinha-se mantido inalterada.

Aprendi não agora, mas já há muito tempo que dizer a verdade é a melhor forma de fazer os outros pensarem que estamos a mentir. E certamente o inverso também se passa, embora não seja prática que aplique. Pela vulgaridade da mentira e raridade da verdade, passou esta última a ser julgada como sendo mentira. Enquanto reflicto nestas e noutras verdades e mentiras, volto a sentar-me à secretária e retomo o trabalho.



Fim de dia:

Não. Não estou cansada nem triste. Nem tensa, apreensiva ou preocupada com os meus problemazinhos. Nem tenho perdido noites de sono nem tido pesadelos, nem aliás, tenho sequer com que me apoquentar, nem lamúrias ou queixumes para contar, por não correr ou por estar conscientemente a engordar, ou por outra coisa qualquer.

Hoje a mãe do João foi operada para lhe retirarem um tumor. Mais um. Maligno. Desta vez na cabeça. A senhora que mal me conhecendo há vinte anos atrás, quando me apareceu um pequeno nódulo numa mama e me queriam operar apesar de não ser maligno, ela já por demais familiarizada com o meio, me pegou num braço e moveu céu e terra e correndo os corredores do Hospital de Santa Maria abriu portas a seguir a portas até que eu fosse observada por quem ela considerava competente, a Dr.ª Emília. E fui. E não fui operada, e ainda hoje vivo com o tal nódulo que só um amante mais atento e sensível notará, atravessando uma gravidez, parto e amamentação, sem alterações ou quaisquer outros problemas. De uma solidariedade e força rara a mãe do João! Apesar dos meus problemazinhos, estive com ela no pensamento hoje durante boa parte do dia.

A operação já terminou e correu bem. Está em observação ainda. Ela vai sair desta!


E eu? Eu estou óptima! Apenas um pequeno deslize me denunciou: quando no final do dia, na inspecção do carro, depois de já ter executado uma série de ordens (Carregue no travão de pé, puxe o de mão, acenda os mínimos, os médios, os de nevoeiro, apague as luzes, acenda os 4 piscas, agora o direito, agora o esquerdo, acenda isto, apague aquilo, monte o triangulo, mostre-me o colete, os documentos, aperte os cintos, e uma lista que nunca mais acabava…), quando o Inspector me pede para ligar os máximos, a ordem chegou distorcida ao cérebro. Paro. Penso. “Ligar os máximos”. Martelam-me as palavras na cabeça. Significado duvidoso. Rodo os diversos botões nas várias posições na esperança que os máximos se acendam. “Ligar os máximos”. As palavras ecoam martelando os neurónios, e depois de gastar os gestos e as posições de todos os botões, baixo os braços, e olho para o Inspector, admirado ele, e estúpida de facto (estupefacta) eu. Instantes que se prolongam para além do tempo eventualmente considerado aceitável, e entretanto já está ele ao meu lado e de forma mágica liga-me os máximos.

Mal consegui falar: “Desculpe, tive uma branca, bloqueei completamente, desculpe…”

- Não faz mal – responde ele desfazendo um pouco o seu ar austero. Afinal não estava ali para inspeccionar as minhas faculdades, mas sim as do carro.

Saí de lá completamente estúpida. Se há coisa que não faço nada mal é conduzir e a minha relação com o carro, do ponto de pista de utilitário, é melhor do que a de muitos casais, e a de muitos homens-carro. Estamos na perfeição um para o outro. Aliás, uma para a outra, porque ela é também uma menina!

O que me preocupa não é o facto de não ter sabido ligar os máximos, pois nunca dei por mim a conduzir com luzes de nevoeiro quando não o há e se leva com sinais de luzes do veículo que segue atrás de nós, nem de máximos ligados quando vêm viaturas em sentido contrário (se calhar… é por não os saber ligar …ahahahah), como alguns homens, o que me espanta foi o bloqueio que assim tão forte e duradouro (10 segundos?) nunca me tinha assaltado, e o único similar foi há uns 4 anos atrás, enquanto conduzia, e que por talvez milésimos de segundo, não soube para onde ia pois rigorosamente não sabia onde morava (era já vestígios embrionários da Maria Sem Frio Nem Casa, com certeza.. eheheh)

E assim parto para a cama, hoje na certeza de dormir.

E amanhã, já certezas não há, pelo que falar no Corre Praia para domingo seria demasiado cedo e inoportuno.

1 comentário:

luis mota disse...

Olá Maria!
A verdade e a integridade são dois valores de grande qualidade para qualquer pessoa.
Relativamente ao problema da tua amiga, espero que recupere e que tudo corra bem. Os problemas surgem quando menos esperamos.
Quanto a certezas, só há um tempo. O passado já foi, o futuro, está para vir, aceita este presente.
É bonito e verdadeiro, mas li isto em qualquer lado.