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sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Tanto e tão pouco



O meu pai, sempre presente:
Tanto peso (de volta) e tão pouco tempo de treino.

Num dia forçosamente diferente, podia treinar. Num dia opcionalmente diferente, podia não treinar. Num dia igual porque os mesmos amigos se renovam e reforçam a Amizade e o Amor, umas simples palavras, aqui e ali, e o empurrão foi dado. Aproveitei, equipei-me e fui correr.

A um ritmo de quase 6 minutos o quilometro, corri durante 32 min. apenas.

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

XXI Grande Prémio Fim da Europa

O XXI Grande Prémio Fim da Europa e o dia dos meus anos


Organizado pela Câmara Municipal de Sintra e Junta de Freguesia de Colares, realizou-se a 24 de Janeiro de 2010, o XXI Grande Prémio Fim da Europa.

Com 1750 inscrições que esgotaram, acabou por ter a prova principal 1453 atletas chegados à meta.

.../...

Quando nos abstraímos da logística porque alguém ou um clube trata de tudo, e nos limitamos a recolher o dorsal já da mão do nosso parceiro de equipa e apenas correr, há uma serie de pormenores que nos escapam e a nossa apreciação da prova fica também limitada a uma vivência bastante parcial.

Foi o caso. Ainda assim, há sempre uma estória a contar. Uma experiência a partilhar. A juntar a centenas de outras com o mesmo, mais ou menos valor.

Inscrições on-line, fáceis e práticas. Não as fiz, mas foi como se as tivesse feito. E dou por mim no dia da prova, minutos antes da partida, na vila de Sintra, de dorsal na mão, com o nr. 1035 e o meu nome impresso. Coloco o chip, com o qual será feito o controlo da prova.

Falar de Sintra é falar de romance. Nesta manhã pouco fria mas coberta de humidade que dá a Sintra a tonalidade de verde sobre os muros e as casas, toma-se o café no centro da vila, ao preço do ouro quando só vale lata só porque o alvo é o turista de passagem, e degusta-se os amigos encontrados. Hoje faço anos. Há um prazer redobrado em cada amigo encontrado. E são muitos.

A zona de partida está já cortada ao trânsito, são levados em autocarros para a partida da Mini/Caminhada, os caminheiros, e ficam os atletas a aquecer. Os atletas e outros como eu. Que por um motivo desconhecido e misterioso insistem em continuar a correr.

Portal insuflável emoldura os atletas alinhados na partida, que é dada a horas e soltam-se as pernas e um mar de cor começa a subir a serra. O percurso está bem marcado, vigiado e abastecido em dois pontos, com água apenas mas em quantidade suficiente (eu fazia parte da cauda do pelotão).

A paisagem transforma esta prova, em minha opinião, numa das mais bonitas de Portugal e o verde da serra de Sintra, envolto em nevoeiro, rompido por raios de sol aqui e além, sempre com um cheiro magnífico e intenso a invadir-nos as narinas penetrando e perfurando o corpo até atingir a alma, dá-nos um prazer de comunhão com a terra e o ar, difícil de alcançar.

Depois das duras subidas, ligeiramente suavizadas durante escassos metros para logo se retomar a subida, inicia-se a descida para o Cabo da Roca, onde está instalada a meta. O vislumbre do mar ao fundo, onde acaba a Europa, incita-nos a correr para ele em passos largos. O farol, guardião, aguarda-nos. A meta é logo ali, e depois de vencer a Serra harmoniosamente, e os ventos fortes que nos varrem, cortar a meta ao fim de 16.945 metros com 1h53m20s e ser recebido numa tenda que nos abriga poderia ser algo muito confortável, não fosse o cenário de devastação de mesas vazias e pratos e copos virados, onde ainda me serviram um chá quente e doce depois de esperar que reabastecessem o depósito do mesmo. Quantidade insuficiente para o abastecimento daqueles que abasteceram mais do que o necessário e suficiente. É assim a natureza do ser humano civilizado. Entretanto, fazia-se nesse espaço a entrega de prémios em pódio.

É-nos dado em mão uma medalha e água, temos uns bancos e espaço para retirar o chip, e depois de conseguir o tal chá, poderíamos procurar o nosso saco entre os sacos de toda a gente, com a roupa de cada atleta que a organização se encarregou de trazer da partida para a meta, e levar para casa o que mais nos agradasse, com a nossa roupa ou a de outro eventualmente. Espaço de vestiários que acabou por funcionar deficientemente. Depois da prova, a par de anos anteriores, houve autocarros de regresso a Sintra, mas ao contrário do ano passado, a desorganização foi bastante maior do que seria desejável.

Fora da tenda, apesar do Sol, o vento continuou a fustigar-nos e o conforto de um simples casaco colocado carinhosamente sobre o meu corpo suado e já a arrefecer, completa o prazer que foi correr pela 4ª vez consecutiva de Sintra ao Cabo da Roca. Serra de mistério e romance, bela e doce, de cogumelos gigantes a crescer na berma da estrada e troncos de árvore revestidos a hera até ao cimo. De subidas árduas compensadas pela beleza. Pela beleza, pela paz, pelos odores.

É assim correr o Grande Prémio Fim da Europa.

As minhas participações:

2007 - 1h28m00s
2008 - 1h38m00s
2009 - 2h01m02s
e para inverter a tendência, este ano...
2010 - 1h53m20s

2011 - aguardemos... mas conto lá estar, ai isso conto!

Antes da prova:


Com meu pai, Joaquim Adelino, Susana Adelino e Mário Lima


A partida
Ainda a partida a deixar Sintra em direcção à Serra


Meta:


Com o Zé Gaspar


Com Carlos Viana e S.E.

Com o meu pai
Fotos de meu pai António Melro, S.E., José Gaspar e Carlos Viana, equipa da AMMA - Atletismo Magazine Modalidades Amadoras


Resultados no site da prova

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Medo da chegada à Meta e da nova Partida

Com a aproximação do dia, ela tem andado pior. Muito pior. Mas mesmo muito pior!

Apoderou-se dela um nervosismo, um misto de ansiedade e medo a roçar o pânico em toda a sua amplitude. As expectativas são propositadamente mantidas baixas por mera defesa.

Desejou o dia desde o dia que partiu, há cerca de três meses atrás, contudo partiu atrasada como ela bem sabe. Ainda assim partiu. Devagar. A fazer valer o "mais vale tarde que nunca", e o "vale sempre a pena quando a alma não é pequena". E a dela não é, isso ela sabe.

No entanto tem medo. Muito medo. Um medo quase maior que a alma e que encobre esta. Medo que não resulte a par de outras tentativas, medo de não chegar a esta Meta, ou chegar quando for demasiado tarde para ela. Meta essa que a obrigará a nova Partida. Imediatamente. Apenas a continuação da Corrida. Desta corrida que dura há mais de quatro décadas, e que lhe marca esta meta volante para dia 28 de Janeiro de 2010. Como outras, alcançadas todos os dias sem ela se dar conta que o faz.

Tem medo. Muito medo. Vontade de parar, encostar à berma ou mesmo voltar para trás. Desistir. Há momentos em que pensa que não vai conseguir, que o esforço até aqui é completamente inglório e inútil. Não vai conseguir. Não ela. Momentos em que é tentada pelo mais fácil: parar, desistir, fechar-se , trancar-se, abandonar-se, despejar-se da vida que lhe resta para por fim descansar.

Outros momentos há, em que se sente confiante e que almeja uma luz. A esperança é a última a morrer, dizem. É preciso é que não morra ela antes.

No entanto, enquanto não morre, continua. A correr. Devagar, em direcção àquela meta, sabendo de antemão que é apenas mais um passo para continuar a Corrida.

E dentro desta Corrida está também inserida sem dúvida alguma o XXI Grande Prémio Fim da Europa, onde ela alinhará, já no próximo domingo dia 24 de Janeiro de 2010.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

O Banho


Nunca entendeu verdadeiramente, a razão porque os vivos lavam os mortos e os vestem com os melhores arreios, quando afinal aquilo tudo, principalmente a matéria de que somos feitos (carne, músculos, ossos, sangue, vísceras, etc.) vai ser comido, senão devorado avidamente em perfeito deleite, por larvas e outros vermes do género.

Talvez uma preparação para o desconhecido, para onde o morto, outrora vivo, agora parte. Visão romântica e doce da morte propositadamente induzida para se a conseguir suportar. Ou talvez apenas para o odor da carne a apodrecer em rápida decomposição não sufoque as narinas e os pulmões dos ainda vivos enquanto dolorosamente se despedem do corpo.

Seja lá porque razão for, se a pensar nisso e a poupar trabalho a terceiros, ou se noutra coisa qualquer, ela hoje acordou cedo e em vez de ir correr como planeia quase todas as noites quando se deita, depois de passar longos minutos imersa num torpor inexplicável, envolta em pensamentos macabros, levantou-se e tomou banho. Banho. Um banho grande. Primeiro molhou-se e ensaboou-se com sabão azul e branco, substância elegida pelas suas propriedades anti-bacterianas, depois uma segunda passagem com sabonete de alfazema, que sempre cheira melhor, sabonete para a higiene íntima, com o qual lavou as partes mais íntimas do seu corpo de mulher, com uma espuma abundante, e por fim ainda embebeu uma esponja em gel de banho, delicamente perfumado, e esfregou cada milímetro do seu corpo como se lavasse o chão. Com vigor exageramente enérgico para a situação, esfregou o pescoço, a barriga e os seios, os ombros, as costas, os braços, as nádegas, as coxas, os joelhos, os pés, não necessariamente por esta ordem e repetindo várias vezes as mesmas áreas. Tudo isto já depois de ter esfregado o cabelo com idêntico vigor, com várias passagens de champô, e agora, que este absorvia o amaciador num emaranhado de cabelo espetado.

Tomou banho como quem toma outra coisa qualquer. Uma bebida. Um medicamento. Que limpe, remedei estragos, alivie sintomas e feche chagas, provoque sensações de uma melhoria qualquer. Mesmo que sejam apenas sensações. Efémeras como efémera é a própria vida.

“É uma estupidez isso que dizes!”

Calou-se, resignada à sua “estupidez”.

A voz ecoava-lhe na cabeça uma e outra vez enquanto tomava banho e esfregava a pele. Uma estupidez.

E estupidamente, sem treinar a ponta de um corno há semanas, está a pensar alinhar na partida do Grande Prémio Fim da Europa já no próximo domingo dia 24 de Janeiro de 2010, dia em que completará 41 anos de vida, e mais estupidamente ainda, pensa que vai chegar à meta. A correr. Estupidamente… a correr.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

O Amor a 300 Km... e o G.P. Fim Europa a 16 dias...

Bom fim de semana para todos os que por aqui passarem. E para os outros também, só que esses (a maior parte deles) não vão ter o prazer de saber que eu lhes desejo Um Bom Fim de Semana. De preferência com alguma Corrida pelo meio, mas que não passe a correr. Da minha parte, quero ver se corro alguma coisa. Porque o Grande Prémio Fim da Europa está quase aí. Precisamente no dia que completarei 41 anos.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Dipsy


Dipsy (11.10.1999-03.01.2010)

Dizem que foi só um cão. Dizem que foi só um cão que morreu. Mas não, estão enganados, não foi só um cão que morreu.

Quando entrou na nossa vida, tinha a nossa filha 2 anos e era ele também um bebé, de 2 meses apenas.

Lembro-me como se fosse hoje. Estávamos a fazer a árvore de Natal (1999) - eu e a Mafalda - de lareira acesa e aguardávamos ansiosas a chegada do novo elemento da família. Tocava uma música de Natal e sem saber porquê as lágrimas vêm-me aos olhos, a adivinhar a felicidade da chegada de um novo ser ao seio da família. Feliz, na altura. O Luís e o Pipas tinham ido buscá-lo, longe, lá para cima, numa terra algures a tocar fronteira com Espanha. Viera enjoado no carro, numa caixa de cartão, e chegou assustado e moído.

Lindo. Como o são todos os cachorros. Brincalhão, traquinas, um amor.

2 anos a tratar dele como um filho. Quando me perguntavam quando vinha o 2º filho, respondia sempre que tinha o Dipsy. O meu segundo filho, porque em amor, preocupação, despesa e trabalho não difere muito de um filho, um cão.

2 anos a brincar com ele, dar-lhe banho, limpar chão, aspirar pêlos e pêlos pela casa toda, acordar a meio da noite e dar-lhe medicamentos, tratar dele, a correr com ele, a amá-lo. Um companheiro raro de muitas horas e momentos da minha vida.

Depois...depois divorciei-me e aí veio ao de cima a diferença entre um filho e um cão. Saí de casa e nem outra hipótese coloquei, a Mafalda veio comigo. Já o Dipsy, um Serra da Estrela de 2 anos de idade, cheio de saúde e vigor, a pesar tanto como eu na altura (50 e muitos quilos), a ele não tive outra hipótese senão deixá-lo com o Luís. Ele ficava bem e eu não consegui nunca criar condições para o ter comigo. Até agora. Que as tenho e esperava voltar a tratar dele dentro em breve por necessidade do Luís e prazer e opção minha, ele não aguentou e saiu das nossas vidas de forma abrupta e para sempre. Para todo o sempre.

Para a Mafalda, para além de tê-lo visto crescer nos seus 2 primeiros anos de vida, continuou sempre a conviver com ele. Praticamente todas as semanas. O Dipsy, um amigão. Cresceram juntos afinal. Ela a crescer. Ele, primeiro a crescer, depois a envelhecer, até hoje, dia da sua morte. Dentro do tempo previsto de duração para um cão da sua raça, é verdade. Já doente, é verdade. Mas por mais preparados que estejamos...dói sempre.

Um Amigo que fica no coração, apesar de fisicamente não existir mais neste mundo. O seu corpo descansa agora no quintal, onde brincou, correu, escavou, e ainda hoje o vejo, a brincar às escondidas com a minha filha, à volta da casa. Vejo-lhe o brilho dos olhos, a língua pendente a pingar saliva, diria mesmo que um sorriso lhe preenchia o focinho, e ouço, nitidamente, o seu arfar e as patas a correr no chão do quintal, ao mesmo tempo que gargalhadas da minha filha me enchem o coração. De felicidade. O Dipsy deu-me muita Felicidade. Muita. Até hoje, que já cá não está.

Vejo-o noutros momentos de paz, a suportar o peso da Mafalda que se deitava sobre ele, e ele nem se mexia, satisfeito. Vejo-o ainda a correr ao meu lado nos treinos, a chorar ao portão quando eu continuava o treino sozinha. A saltitar de madrugada quando me pressentia a sair para mais um treino com ele. A vomitar porque tinha comido o que não devia. A aprender lições de bom comportamento nas aulas (eu e ele). Ai... lembro-me de tanta coisa...

Hoje, partiu. Já cá não está. Aquele corpo enorme e a alma delicada e doce(apesar do mau génio com alguns outros cães). Desapareceu simplesmente. Transformar-se-á em ervas, e folhas e flores que brotarão da terra e que borboletas e abelhas sobrevoarão. Transformar-se-á o meu Dipsy, e de alguma forma, sei que ele continua entre nós.

Eu...estou triste mas não chorei sequer. Ultimamente as lágrimas saem-me em alturas impróprias e desadequadas. Estou triste apenas. Aceito o facto, com a naturalidade possível.

A minha filha... Nunca tinha visto a Mafalda tão triste...nem quando morreram os avós paternos ou a Margarete.





Descansa em paz Dipsy, estarás para sempre no nosso coração, de uma forma muito especial

Ana e Mafalda


"Peixinhos dourados, tartarugas ou hamsters são animais de estimação, os cães são Família"

Mark R.Levin, em "Como salvámos Sprite"